SAÚDE

Aids cai 33% em seis anos na cidade

Notificações passaram de 315 para 210 em Campinas; Taxa de Incidência é de 18,4% em 100 mil

Daniel de Camargo
15/09/2018 às 10:20.
Atualizado em 22/04/2022 às 02:38
Rafael Bolacha dá um pé no preconceito, revela experiência de vida pós-vírus e desfrutar
de uma vida positiva  (Arquivo Pessoal)

Rafael Bolacha dá um pé no preconceito, revela experiência de vida pós-vírus e desfrutar de uma vida positiva (Arquivo Pessoal)

Campinas reduz significantemente o número de notificações de Aids nos últimos seis anos. Entre 2011 e 2016, os registros caíram gradativamente de 315 para 210. A Taxa de Incidência (TI) da doença a cada 100 mil habitantes confirma a retração da patologia no município. Entre 2009 e 2016, o coeficiente saiu de 28,5 para 18,4. Os dados são do Boletim Epidemiológico nº 1 de 2017 do Centro de Referência e Treinamento Doenças Sexualmente Transmissíveis/Aids-SP, da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O estudo, o último realizado pela pasta, abrange o período de 1º julho de 2016 a 30 de junho de 2017, além das séries históricas do levantamento iniciado em 1997, que contempla dados desde 1980. Claudia Tadia, infectologista responsável pela notificação de casos de HIV, Aids, Sífilis e outras Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) em Campinas, explica que a taxa de incidência é o principal indicador para a doença e comemora os resultados recentes. Segundo a médica, os números crus podem passar uma impressão equivocada do cenário real. Por isso, a Secretaria de Saúde se baseia em períodos maiores, como uma década, por exemplo. Nesse contexto, ela destaca a retração da TI e atribui a queda a uma maior conscientização da população aliada a efetividade das políticas públicas voltadas a saúde na cidade. Contudo, Claudia esclarece que redução no número de casos de Aids não deve enganar a população, pois é necessário contemplar também as estatísticas de HIV. Com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o estudo da Secretaria de Saúde informou que, “de janeiro de 2000 até 30 de junho de 2017 foram notificados 88.176 casos de HIV” no Estado. A médica comenta que Campinas atua fortemente na prevenção e orienta: “Toda a população sexualmente ativa deve fazer o teste, principalmente profissionais do sexo, homens que tem relações com outros homens e travestis" - estes classificados como grupo de risco. Claudia enfatiza que a identificação precoce do vírus ou da doença, resulta em um tratamento mais eficaz. Assim, o cidadão poderá ter uma melhor qualidade de vida. Ocasionalmente, se tratado no início, referente cidadão entrará posteriormente na estatística da Aids, apenas quando o vírus se desenvolver para a patologia. “Oferecemos testagem rápida em todos os centros de saúde do município”, destaca. Notificações O Estado de São Paulo assinalou queda de cerca de 6% nas notificações de casos de Aids entre 2015 e 2016. O Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE)de Campinas, que compreende 42 cidades, apontou alta de cerca de 6%, contemplando 30 municípios do conjunto que registraram pelo menos um caso no período. Os 645 municípios do Estado contabilizaram 6.794 ocorrências da doença em 2016, contra 7.242 do ano anterior. Já as localidades que compõem o GVE de Campinas, por sua vez, somaram 635 casos em 2016, contra 599 em 2015. No que diz respeito à taxa de mortalidade, a região de Campinas registrou números inferiores aos do estado em 2016. Maior cidade da região, com população estimada de 1.173.370 habitantes no período, segundo o IBGE, Campinas registrou, consequentemente, o maior número de mortes por Aids em referido ano, contabilizando 72 óbitos, sendo 43 homens e 29 mulheres. O índice ficou em 6,2 casos para cada 100 mil habitantes entre os homens e 3,3 entre as mulheres. A média estadual ficou, respectivamente, em 7,9 e 3,8. Os números parciais de 2017, somam 290 notificações da patologia na região, dos quais 98 são atribuídos a Campinas. O total de casos da doença entre os homens no Estado apresentou queda de 7%, com uma redução de 5.465 casos para 5.087, nos últimos dez anos. No primeiro semestre de 2017, foram 2.404 casos entre o público masculino. Houve um crescimento de 167% entre adolescentes de 15 a 19 anos do sexo masculino, com um salto de 43 para 115 casos, comparando-se 2007 e 2016. Entre jovens de 20 a 24 anos, de 303 para 584 casos (93%). Rosa Alencar, médica infectologista do Centro de Referência e Treinamento DST/Aids entende que além de dados e programas de conscientização, é fundamenta que haja espaços para que os jovens possam conversar sobre sexualidade. Há dez anos com o vírus, ator dá a volta por cima Rafael Sanches Lopes descobriu a contaminação após emagrecer 5kg Esclarecido, irreverente e a cima de tudo feliz, Rafael Sanches Lopes, ator e produtor cultural de 33 anos, artisticamente conhecido como Rafael Bolacha, convive com o vírus HIV desde 2009. Ele conta que descobriu estar infectado pelo imunodeficiente quando morava no Rio de Janeiro. Na ocasião, ele sofria com problemas intestinais que estavam demorando a sarar. “Após três semanas eu percebi que tinha perdido cerca de 5 kg, então resolvi ir ao médico”, recorda. Em seguida, Bolacha realizou uma série de exames, entre eles o teste de HIV. Posteriormente, outro teste lhe foi solicitado, momento em que ficou bastante apreensivo. Após a confirmação, ele relembra que passou um período complicado psicologicamente, pois era uma fase de aceitação do diagnóstico. Naquela época, ele manteve um blog intitulado Uma Vida Positiva, que originou um livro de mesmo nome, publicado pela Editora Cidade Vida. Bolacha destaca não acreditar no que é “normal”, quando fala sobre sua rotina e se ela se enquadra ou não nos parâmetros classificados como regulares. “As pessoas têm essa mania de tentar padronizar tudo, porém cada indivíduo é único”, comenta, acrescentando que é possível viver nessa condição, a exemplo, de outras circunstâncias clínicas. “Estou aqui há quase 10 anos”, brinca. Ele informa que cada pacote de medicamentos dura em média dois meses. “A periodicidade do acompanhamento médico depende muito do caso. Eu me consulto de cinco em cinco meses”, explica, afirmando que aprova atendimento da rede pública. Sobre adquirir o vírus, Bolacha entende que de modo geral, as pessoas são conscientes e procuram se prevenir. “Agora, todos bebem socialmente em uma oportunidade ou outra e quando estamos mais alegres não consideramos algumas consequências”, relatou sobre umas das possibilidades em que, particularmente, os jovens não se cuidam, de acordo com ele. O produtor destaca que é fundamental falar sobre sexualidade. Para ele, as pessoas relacionam esse tema somente com sexo. “É um assunto infinitamente mais complexo que envolve, entre outros, o autoconhecimento do indivíduo no que diz respeito ao seu corpo.” Bolacha comenta que sempre é questionado sobre o porquê dos jovens se infectaram tanto no Brasil, uma vez que são estereotipados como seres hiperconectados. Para o artista, “acontece simplesmente porque estão barrando o diálogo sobre a questão nos dois principais locais. No caso, a escola e em casa com a família”, contextualiza, acrescentando que assim a sociedade limita o acesso dos adolescentes na busca por referências. Rafael Bolacha participa de um canal no YouTube chamado Chá dos 5 () com cerca de 43 mil inscritos. Além disso, realiza palestras sobre o tema. Informações: [email protected]

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