O local é formado por um imenso paredão de rochas e usado como área de lazer pelos campineiros desde o final da década de 80: uma avaliação será solicitada ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o IPT (Reprodução)
A situação dos frequentes temporais, com alto volume de precipitações neste mês de janeiro em Campinas, vem alarmando a população e mobilizando os serviços municipais frente aos danos e prejuízos causados. Além do estado de emergência decretado pelo governo municipal na semana passada, em vista dos incidentes registrados, inclusive com vítimas fatais, na segunda-feira (23), a Prefeitura anunciou a interdição inédita da Pedreira do Chapadão, (Praça Ulysses Guimarães), no bairro Chapadão.
O local, formado por um imenso paredão de rochas e usado como área de lazer pelos campineiros desde o final da década de 80, corre risco de deslizamentos. A praça permanecerá fechada por medida de segurança e sem prazo para a sua reabertura.
A interdição foi decidida a partir da observação de cinco pontos de deslizamentos observados por funcionários da Secretaria de Serviços Públicos. A Pasta está solicitando ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas, o IPT, órgão do governo do Estado, a elaboração de um laudo sobre a situação no local, prevendo uma avaliação detalhada e orientações e medidas a serem tomadas.
A Pedreira do Chapadão (Praça Ulysses Guimarães) que fica na Rua Dr. Alcides Carvalho, s/n, Jardim Chapadão, é um dos 25 parques e bosques da cidade e, desde sua inauguração, no final da década de 80, jamais teve sua interdição decretada por conta dos riscos de deslizamento e segurança.
E o aguaceiro deve continuar. A previsão para hoje é de eventos fortes, com média de 30 milímetros de precipitação e risco de ventos de até 80 km/h, alagamentos, deslizamentos e queda de granizo, informa o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Serviços continuam
Na segunda-feira, com a trégua das precipitações nos últimos dois dias, a Pasta de Serviços Públicos retomou a distribuição de várias frentes de trabalho iniciadas pela cidade logo após os temporais da última quinta e sexta-feira.
Com equipes e maquinário na rua, a Administração procurou atender a diversos pontos da cidade, para a execução de reparos em estruturas atingidas pelas fortes chuvas da semana passada. Segundo a Secretaria, os trabalhos das equipes continuarão pela cidade durante toda a semana, tanto no intuito de avaliar a situação quanto de seguir com a programação de serviços.
Foram retomados os serviços de recuperação de talude na ponte da Avenida Bernardo Kaplan, no Parque Brasília. Houve também trabalhos de recomposição de talude e aterro de erosão na ponte da Rua João Iamarino, no Jardim Flamboyant, além de recomposição de talude e drenagem em ponte próximo à Estrada velha de Indaiatuba, Jardim Iraci.
Na rede de drenagem, que inclui as galerias pluviais do município, a Prefeitura realizou manutenção e reparos na Avenida Orosimbo Maia, com Avenida Brasil, na Vila Itapura, e nas ruas Manoel e Arthur Avelino, no Jardim das Bandeiras 2, além de manutenção em faixa de viela no Parque Santa Bárbara.
E as chuvas que vêm castigando a cidade não escolhem região. Seja em bairros mais nobres ou na periferia, os estragos acontecem e mobilizam os moradores. Na região do Jardim do Lago 2, uma das regiões que mais recebeu chuva na semana passada, a rotina é a de olhar para o céu e tentar se antecipar aos alagamentos, a fim de salvar o que restou dos temporais passados.
O desempregado Marcos Antônio Pereira, 53 anos, morador da rua Antônio Barbosa, no bairro Jardim do Lago 2, relata que a rotina neste mês tem sido a de contabilizar os prejuízos. "Na semana passada a água subiu muito. Alagou toda a minha casa. Tive que fazer um buraco na parede para tentar ajudar a água escoar. É desesperador. Só passando por isso para saber o drama que é perder o pouco que se tem", lamentou.
Segundo informações do Cemaden, na semana passada, o volume de chuva na cidade chegou, em sete dias, a 176 milímetros de água, atingindo mais de 35 milímetros em dez minutos no ponto de monitoramento do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), no Jardim das Bandeiras, próximo ao Jardim do Lago 2, na última quinta-feira. As máximas históricas para o mês de janeiro não ulptrapassam 270 milímetros, mas este ano deverá bater recorde.
Mutirão
Moradores de um condomínio na região do Shopping Iguatemi Campinas, próximo ao Parque da Hípica, também sentiram o castigo trazido dos céus. Desde as chuvas da semana passada, se mantêm em alerta. Um mutirão foi organizado entre moradores e funcionários dos condomínios instalados na região para desobstrução de córregos que cortam o local, na tentativa de evitar novos desastres.
A parte baixa de um dos condomínios ficou alagada com os temporais da última quinta e sexta-feira. A força da água foi tamanha que carregou carros e invadiu as casas. O mutirão retirou árvores, galhos e detritos do córrego que passa sob a Avenida Mackenzie, um dos que provoca alagamento na região. "Os córregos obstruídos contribuem com as enchentes, o que piora e agrava a nossa situação aqui no condomínio, porque a água fica represada e enche aqui dentro", explicou um dos moradores que preferiu não ter o nome revelado.
Ele acrescentou, no entanto, que a situação da região e a obstrução dos córregos já havia sido relatada para Defesa Civil, mas, como não houve providências da Prefeitura e a previsão de chuva intensa continuava, os próprios moradores resolveram se mobilizar para desobstruir o canal da Avenida Mackenzie para evitar novos transtornos.
Segundo a Administração, a legislação permite a entrada de servidores públicos em áreas particulares para a realização de serviços, como poda ou limpeza, que depois são cobrados do proprietário. Antes disso, há medidas administrativas que devem ser cumpridas obrigatoriamente. O proprietário é notificado e tem o prazo de 30 dias para providenciar a limpeza, por exemplo. Após esse período, caso não tenha feito isso, receberá uma multa e um novo prazo, também de 30 dias para realizar a limpeza. Depois desse prazo, a Prefeitura pode entrar.
A secretaria de Serviços Públicos informou também que não há prazos para a conclusão dos serviços em execução na cidade e que os trechos interditados serão liberados conforme o término dos reparos que vêm sendo realizados pela cidade.