vítima

Adolescente de Limeira se automutila e denuncia os abusos à escola

Jovem estava se machucando no banheiro da unidade e agora será acompanhada pelo Conselho Tutelar

Isadora Stentzler
24/05/2022 às 09:39.
Atualizado em 24/05/2022 às 09:39
Viatura da Guarda Municipal de Limeira em frentre à unidade escolar onde ocorreu o caso com a adolescente (Divulgação/Guarda Civil Municipal de Limeira)

Viatura da Guarda Municipal de Limeira em frentre à unidade escolar onde ocorreu o caso com a adolescente (Divulgação/Guarda Civil Municipal de Limeira)

Uma adolescente de 16 anos foi atendida pela Guarda Civil Municipal (GCM), na manhã de segunda-feira (23), depois de ser encontrada se automutilando no banheiro de uma escola estadual, no município de Limeira. Aos agentes, a adolescente contou que foi vítima de sucessivos abusos sexuais entre a infância e início da adolescência e que isso lhe causou traumas. 

O caso é acompanhado pelo Conselho Tutelar e Polícia Civil. De acordo a corporação da GCM de Limeira, que atendeu à ocorrência, a situação serve de alerta para pais e professores. 

A equipe da Ronda Escolar da GCM foi acionada pela própria unidade escolar, quando os funcionários encontraram a adolescente causando ferimentos a si mesma, em um banheiro da unidade. 

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi chamado para fazer os primeiros socorros. A mãe da jovem também compareceu à escola e afirmou que não sabia sobre o abuso sexual. A adolescente foi encaminhada ao hospital Humanitária para receber atendimento. 

De acordo com a guarda civil municipal da Ronda Escolar, Silvana Arado, a adolescente relatou que foi abusada sexualmente na infância, dos 5 aos 13 anos, e que isso lhe causou traumas. Ela também complementou que sofria com crises de automutilação desde os 13 anos, em decorrência do que havia acontecido. Entretanto, a garota não indicou quem a teria abusado. O caso é acompanhado pelo Conselho Tutelar e será investigado pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Um boletim de ocorrência por estupro de vulnerável também foi registrado. 

Alerta

A GM Silvana Arado, que é estudante de Direito e pesquisa abusos sexuais, explica que a autolesão não suicida na adolescência vem recebendo atenção em virtude do aumento de ocorrências relatadas nas escolas e que têm sido atendidas pela GCM de Limeira.

Ela explica que o comportamento autodestrutivo tem por objetivo transferir o trauma frente a um sofrimento, muitas vezes impossível de ser verbalizado ou expressado. “O motivo que gera essa dor ainda não é bem compreendido, mas é certo que a manifestação é um sinal de pedido de socorro”, aponta. 

Nesse sentido, Silvana elenca sinais de alerta e que não devem ser negligenciados, uma vez que a automutilação pode ser a reverberação de algo que tenha sido causado à criança. 

“É importante observar a criança. Essa menina não teve coragem de verbalizar e como ela, muitas pessoas não têm. A criança que sofre esse tipo de abuso tem muito medo, muita vergonha, porque a sua identidade ainda está sendo construída. Por isso, acaba transferindo para o próprio corpo essa angústia. Então, quando você aborda o assunto com a criança, ela, muitas vezes, muda de atitude, dá uma resposta fácil ou até mente. Em alguns casos chega a usar mais roupas para cobrir o corpo, mesmo estando calor. Mas o que precisamos ter em consideração é que ninguém se machuca por nada. Perceba se a criança está com mais roupas, se ela teme ficar sozinha com algum adulto, se ela não quer abraçar determinada pessoa. Entender e observar pode ajudar a criança”, defende. 

Ela aponta ainda que o papel da comunidade escolar é essencial para receber e acolher esses casos. “A escola é a porta de entrada da nossa sociedade, porque a maioria das pessoas passa pela rede pública e 100% pela educação. Esse olhar é essencial.”

Abusos

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP/SP), até março deste ano, dos 15 estupros registrados no município de Limeira, 9 foram contra vulneráveis. Os números de 2022, no entanto, são metade do registrado nos três primeiros meses de 2021. Na época, foram 31 casos de estupro no município, sendo 24, também a maioria, contra vulneráveis. 

O estupro de vulnerável é caracterizado pela prática de ato libidinoso contra qualquer pessoa que não tenha a capacidade de consentir com o ato, seja por ter menos de 14 anos ou por estar com enfermidade, deficiência mental ou qualquer outra característica que a impossibilite de se defender ou resistir.

Em toda a região de Campinas, que abarca 38 municípios, foram 272 casos de estupro no 1° trimestre deste ano, sendo 212 (77% deles), a maioria, contra vulneráveis.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por