Grupo de investidores explicou que o intuito é o de revitalizar a área tombada e construir centro comercial, torres residencial e hospitalar, além de área verde (Rodrigo Zanotto)
De maneira quase unânime, a Irmandade de Misericórdia de Campinas (IMC), provedora da Santa Casa de Campinas e do Hospital Irmãos Penteado, aprovou na quarta-feira (21), em Assembleia Geral Extraordinária, aditivos ao projeto já aceito pelos integrantes em 2015. O projeto visa a construção de um complexo imobiliário, shopping e um novo hospital.
Foram apenas três votos contrários, portanto, houve a concordância de 93,18% dos presentes. A assembleia para aprovar formalmente os aditivos foi solicitada por ordem judicial, pedindo que ajustes no contrato fossem realizados com a condição de que eles fossem colocados em votação na assembleia.
O provedor da IMC, Murillo de Almeida, destacou que levar as mudanças à coletividade também foi importante, uma vez que todos tiveram a oportunidade de manifestar suas opiniões. Entretanto, a assembleia foi rápida quando da votação, sem tanto debate devido à concordância quase que total pela aprovação. "Abrimos discussão tanto na mesa administrativa como na assembleia. Quem quis se manifestar ou tirar dúvidas pode fazê-lo neste momento. E todos que chegaram aqui tiveram acesso aos aditivos. Tudo foi explicado por um notório conhecedor da causa, Antonio Caria Neto, que é advogado, foi secretário de Justiça e conhece como ninguém essa matéria. Ele fez uma exposição brilhante, muito clara a todos."
A perspectiva é a de que, agora, o projeto avance e não demore muito para sair do papel. Há 13 meses, quando o grupo de investidores e representantes da Irmandade se reuniu com o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), foi explicado que, por se tratar de uma retomada do projeto, seria necessária uma revisão e nova tramitação em algumas secretarias. Com a aprovação dos aditivos, a Irmandade entregará ao juiz a decisão da assembleia e a expectativa é que isso ajude a desembaraçar o projeto, inclusive em relação aos trâmites finais na prefeitura.
O projeto
Em entrevistas exclusivas ao Correio Popular, o grupo de investidores à frente do projeto explicou que o intuito é o de unir o "ultramoderno" com o "antigo". A área tombada será revitalizada, mas não ocorrerão alterações profundas, apenas reformas. Estão previstas novas construções no complexo, como um centro comercial, que deve ocupar 35 mil m², e uma torre residencial, de seis mil m². E, ainda, uma torre hospitalar, com nove mil m² e uma grande área de preservação, com bastante área verde, de 7,5 mil m².
Embora alguns detalhes ainda precisem ser definidos, a maior parte do projeto é a mesma desde a sua concepção, cerca de uma década atrás. "Teremos um shopping e duas torres, sendo que uma é exatamente para a Saúde e terá o hospital, clínicas de imagem, laboratório. E a outra torre, de negócios, ficará para os investidores."
Na ocasião, todos concordaram que esta pode ser a oportunidade de Campinas tornar-se um lugar atrativo para interessados em novos investimentos e empreendimentos. Para eles, Campinas está caracterizada, em São Paulo e adjacências, como um município que dificulta a vida dos empreendedores.
O provedor afirmou que dois terços de tudo que está sendo construído serão da Santa Casa. A torre de 30 andares, comercial, será dos investidores. O shopping será da Santa Casa após um contrato de 25 anos, prorrogável pelo mesmo período. A preocupação da Irmandade era que, se nada fosse feito, a história de 150 anos da Santa Casa no local pudesse ser prejudicada. Murillo lembrou que o projeto é importante para evitar eventuais prejuízos futuros à instituição e ainda para que a Santa Casa consiga se manter, sustentada com algo novo e lucrativo. "O importante aqui é a Irmandade. Precisamos de pessoas que ajudem a dar sobrevida a esse tipo de hospital. Nos últimos 15 anos, 420 Santas Casas fecharam as portas."
A avaliação é a de que o projeto pode garantir um futuro próspero, com o local totalmente revitalizado, moderno e capaz de proteger o patrimônio histórico. "Dois terços de tudo o que for construído aqui volta para o patrimônio da Santa Casa. Para se ter uma ideia, teremos aqui 27 mil m². Se você calcular o preço do metro quadrado aqui no Cambuí, na Av. Júlio de Mesquita, e multiplicar esses dois valores, você percebe que vale mais de R$ 300 milhões. Estamos revitalizando e valorizando. Há quem calcule que, com esse empreendimento, o nosso patrimônio poderá chegar perto de R$ 1,2 bilhão de reais depois de tudo pronto."
Para o provedor, a valorização que o terreno obterá e a possível lucratividade futura da instituição com o complexo imobiliário ajudarão a Santa Casa a permanecer viva e também a melhorar a região em que ela está localizada, na área central de Campinas.
"As Santas Casas fecharam porque atendem o SUS e ele não consegue remunerar adequadamente, nunca vai conseguir. Então, toda a nossa luta é para ter algo novo, que consiga sustentá-la. E aproveitar o maior terreno que temos aqui na região central, fazê-lo realmente florescer, ajudar a Santa Casa a continuar viva (...) tem que haver parcerias público-privadas, ou, neste caso, entre entidade filantrópica e a iniciativa privada", concluiu.