COMOÇÃO

Adeus a José Rico reúne milhares de fãs em Americana

Fãs se aglomeraram pelas alamedas do Cemitério da Saudade; cantor formou ao lado de Milionário uma das mais bem-sucedidas duplas sertanejas de todos os tempos

Rogério Verzignasse
04/03/2015 às 10:56.
Atualizado em 23/04/2022 às 18:28
Fã da dupla Milionário e José Rico segura disco em enterro do cantor, em Americana (Dorinaldo Oliveira/AAN)

Fã da dupla Milionário e José Rico segura disco em enterro do cantor, em Americana (Dorinaldo Oliveira/AAN)

Quase dez mil pessoas_ segundo estimativas de policiais __ se aglomeraram pelas alamedas do Cemitério da Saudade, em Americana, e acompanharam emocionados o sepultamento do corpo do cantor José Rico, que formou ao lado de Milionário uma das mais bem-sucedidas duplas sertanejas de todos os tempos.   O ídolo morreu terça-feira, no Hospital Unimed, onde estava internado desde a véspera por complicações no coração e nos rins. O velório, organizado na Câmara Municipoal de Americana, também foi aberto ao público, e atraiu uma multidão. Ao longo da noite e da madrugada, cerca de 15 mil pessoas passaram pelo prédio, no Jardim Girassol. Foto: Dorinaldo Oliveira/AAN Fã da dupla Milionário e José Rico segura disco em enterro do cantor, em Americana Apesar da fama, José Alves dos Santos - pernambucano de São José do Belmonte - sempre circulou à vontade pelas ruas da cidade que escolheu para viver. Era muito amistoso e muito acessível. Por conta disso, a família permitiu a presença do público no plenário da Câmara. Também não houve nenhum controle de acesso ao cemitério, e o povo se empuleirou em túmulos para ver o caixão passar.   Tanto em um lugar como outro, os fãs e os amigos se reuniam em rodas e cantavam sem parar músicas inesquecíveis da duplaNa Câmara, localiza na Praça Divino Salvador, também havia muita gente aglomerada na calçada. Muitos curiosos estavam interessados em conferir a presença de gente famosa no velório. Passaram por lá Zezé di Camargo, Dalvan, Durval e Davi, Gustavo Lima, Vítor e Leo, o apresentador Ratinho e, claro, o velho parceiro Milionário, com quem José Rico dividiu o palco por mais de quatro décadas. Os famosos, protegidos por cordões de segurança, foram recebidos em uma sala especial próxima do plenário, e de lá também saíram escoltados.Mas a cena que mais impressionou, no velório, foi no momento em que a urna foi lacrada. Todo mundo sabe que José Rico era um apaixonado por futebol. Tanto é que mantinha, em Americana, um time chamado Amigos do Zum. "Zum" , no caso, era ele mesmo. O time treinava em um campo no Condomínio Ipês Amarelos, e jogava sempre na cidade em que a dupla se apresentava.     O último jogo, domingo retrasado, foi na cidade de Ubiratã (PR). E os atletas, que carregaram o caixão até a viatura do Corpo de Bombeiros, choravam copiosamente. Era como se todos tivessem perdido um pai. Aquele momento, da saída, fez todo mundo se emocionar. O cortejo seguiu por vias importantes de Americana _ Rua Gonçalves Dias, Avenida Brasil, Rua José Bonifácio, avenidas Paulista e Nossa Senhora de Fátima, até chegar ao cemitério. O trajeto, lento, cruzou apenas três bairros da cidade (Girassol, Centro e Jardim Santana), mas durou uma hora e meia. O povo, nas calçadas, aplaudia o cortejo. Um caminhão de som, colado à viatura, tocava os grandes sucessos: Estrada da Vida, Vontade Dividida, Sonho de Um Caminhoneiro... Quando a viatura chegou ao cemitério, havia mais de três mil pessoas no portal. Lá dentro, outra cinco mil se amontoavam ao redor do túmulo da Quadra 5, que já estava aberto. As quipes de segurança, rapidamente, espalharam cordas pela alameda principal e abriram caminho para o grupo de jogadores que carregava o caixão. Mas os fãs _ gente de todas as cidades _ corriam entre e por cima dos túmulos, na esperança de encontrar um lugar alto, de onde poderiam ver o enterro.Não cerimônia ou discurso. Logo que chegou, o caixão foi depositado no jazigo sob uma sonora salva de palmas. E, mesmo depois de fechado o túmulo, muita gente permaneceu ali ao lado, cantando, chorando. Como se não acreditassem. É que, como cantava o José Rico, o final da corrida chegou. CLIQUE AQUI e confira 10 dos grandes sucessos de Milionário e José RicoIncidenteA aglomeração popular sem controle no Cemitério da Saudade, como qualquer leigo podia prever, provocou incidentes desagradáveis. As lajes de dois túmulos próximos cederam. E quatro pessoas que se amontoavam sobre eles caíram para dentro dos jazigos e se machucaram levemente. Uma das vítimas. Lourinval Martins dos Anjos, feriu um dos ombros e precisou ser levado para fora por um grupo de amigos. Ele gemia de dor. Os demais, apesar dos raspões, bateram a poeira do corpo e continuaram firmes por ali, à espera da chegada do corpo.Para evitar novos incidentes, os servidores públicos deitaram escadas sobre os trechos arrombados, para que ninguém mais se aventurasse por ali. SuperastrosOs superastros do música sertaneja, precavidos, preferiram não acompanhar o sepultamento. Todos partiram no final do velório. Só Milionário, muito protegido por seguranças, esteve no cemitério. Mas havia, sim, muitos artistas que, apesar de desconhecidos do grande público, possuem muitos anos de estrada. Caso de Dênis (da dupla com Dinei), morador de São Simão, que fez questão de vir até Americana e se despedir do ídolo. Ele contou que quando começou a cantar, há uma década, ele abria os shows de Milionário e José Rico, onde quer que a dupla se apresentasse. "A músíca sertaneja é o que é hoje graças ao Zé Rico. Ele revolucionou o estilo, o tornou popular, inspirou carreiras. É uma perda irreparável para o Brasil" , disse. Gente humildeMesmo no auge da fama, nas décadas de 70 e 80, Zé Rico levava a vida de gente humilde, morando com a mulher Berenice e dois filhos na Vila Amorim, bairro simples da cidade. Mas o homem tinha sim, seus caprichos pessoais. Há 25 anos, ele começou a contruir um castelo em uma estrada vicinal, no limite dos municípios de Americana e Limeira, a 300 metros da Via Anhanguera. O casarão imponente _ com mais de cem quartos e uma profusão maluca de estilos arquitetônicos _ era construído devagarinho, aos poucos. Diziram os fás _ que ontem, faziam vigília na portaria _ que os cômodos eram acabadinhos por dentro, e que o astro passava um dia ou outro por ali. Do lado de fora, permanecia o visual da eterna construção.Ontem passou por lá o metalúrgico Djalma de Luna, de 48 anos, morador de Sertãozinho, que viajou quase 300 quilômetros de moto só para participar do enterro do ídolo. Ele disse que até gostaria de entrar no "palácio" , mas encontrou os portões trancados e as guaritas vazias. "Hoje todo mundo tirou o dia para chorar a morte do Zé" , falou. José Rico chegou a dar uma entrevista para o Fantástico em 2014 no castelo, dizendo que aquele era "o seu mundo" . O cantor se divertia com as "lendas" que cercavam a construção. Uma cigana teria dito que o artista jamais podia parar de construir sua prórpria casa. "Bobagem" , segundo o cantor. Ele falou que a obra era cara e nunca sobrou dinheiro para acabar. Os empresários do cantor, presentes ao cemitério, disseram que a família vai ficar com a propriedade, e fazer dela um monumento em memória de José Rico. Número: Foram vendidas 35 milhões de cópias por Milionário e José Rico desde 1973, quando a dupla gravou o primeiro de seus 29 discos. 

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