Reportagem do Correio vai às ruas e compra selo de identificação para veículos do transporte
O repórter Henrique Hein foi às ruas e adquiriu por R$ 40 um par de adesivos: em nenhum momento jornalista foi questionado se era motorista de veículo de transporte por aplicativo (Carlos Henrique/AAN)
A lei municipal que determina a utilização dos adesivos de identificação para motoristas dos aplicativos de transportes pagos, como Uber e Cabify, mal entrou em vigor e já apresenta graves falhas de fiscalização e de segurança por parte da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). Isso porque, alguns comerciantes e donos de bancas de jornais da cidade estão vendendo o documento, sem a necessidade da apresentação de um comprovante – é só pagar e pegar o selo. De acordo com a nova legislação (que começou a valer no dia 9 de abril) a identificação visual é obrigatória quando o veículo estiver realizando a atividade remunerada. Ontem, a reportagem esteve em uma banca de jornal no Jardim Leonor para tentar comprar o adesivo – a facilidade com a qual ele foi obtido surpreende. “Eu tenho vários. É só para você mesmo ou mais algum amigo seu vai precisar?”, perguntou o dono do estabelecimento, que na sequência revelou a origem das placas. “Tem um amigo meu que trabalha como designer, então ele arruma sempre essas placas aqui para mim. Só hoje já vendi outros dois”, enfatiza o vendedor. A reportagem ainda constatou que uma gráfica no Cambuí também comercializa o adesivo. Uma das atendentes disse que as duas placas obrigatórias que os veículos cadastrados precisam usar custa R$ 40,00 – mesmo preço cobrado pela banca de jornal do Jardim Leonor. Reação Nas ruas, a opinião da população foi de revolta com a situação. A secretária Ana Paula Romão, de 29 anos, comentou que costuma frequentar barzinhos e festas nos sábados à noite. Para ela, a falta de fiscalização por parte das autoridades competentes coloca em risco a segurança dos usuários. “Muitos motoristas ficam do lado de fora das boates, por exemplo, esperando alguém sair para combinar o preço da carona. Então, isso é muito complicado, porque se alguém com má intenção decide comprar uma placa dessa e colocar no seu carro, ele pode muito bem se passar por um motorista autorizado, quando na verdade ele não é, e roubar ou sequestrar a gente”, explica a secretária. Perguntada sobre o assunto a estudante Paloma Rios, de 21 anos, num primeiro, não acreditou na informação. Na sequência, ela disse achar a situação absurda. “Então, quer dizer que se eu precisar ir para algum lugar com pressa e não conseguir chamar o Uber pelo meu celular, mas decidir acenar para um deles que estiver passando pela rua e pedir para entrar no carro dele, eu estou sujeita a ser assaltada, estuprada ou sequestrada? Nossa é assustador isso.”, comentou a estudante. Já o vendedor, Henrique Barbosa, de 30 anos, disse que o problema não está na comercialização das placas. “Eu acho que a pessoa que for comprar essa placa tem que, no mínimo, apresentar um registro comprovando que ela de fato trabalha com o aplicativo, até por uma questão de segurança dos usuários.” Emdec admite não ter gestão sobre a venda Questionada, a Emdec confirmou que a Administração não possui nenhuma gestão sobre a confecção e a venda da identificação visual para os veículos que prestam serviço de transporte por aplicativos. “A Resolução Nº 84/2018 contém as informações, com imagens e medidas, sobre como deve ser a identificação visual dos veículos. Mas, em nenhum momento, regula a fabricação ou locais de venda do produto. Também não diz quem deve ser responsável pelo pagamento da identificação visual (motorista ou empresa)”, informou a nota da companhia. Vereador cobra explicações e vê insegurança a usuário O vereador Carlão do PT protocolou um pedido na Câmara Municipal cobrando explicações da Emdec sobre a forma como esses objetos estariam sendo comercializados. Ele afirmou que a falta de organização, de fiscalização e de controle coloca em risco a vida dos usuários. “A maior preocupação foi ver que existem pessoas vendendo essas placas normalmente nas ruas e nas bancas de jornais e revistas. Fica nítido que não há um controle por parte da Prefeitura, com relação isso. Uma pessoa pode facilmente se passar por um motorista e roubar ou sequestrar qualquer um. Vamos mandar um ofício ao prefeito hoje de manhã, para que alguma medida seja tomada”, explicou o vereador.