Defesa alega que Aquino era orientado pelo Ministério Público durante gravação do Caso Sanasa
A defesa de um dos réus do Caso Sanasa pediu à Justiça uma perícia oficial no áudio da gravação de uma conversa entre o delator do possível esquema de corrupção, Luiz Augusto Castrillon de Aquino, e o empresário denunciado Wanderley Gregório Cerveira. A defesa questiona a participação de Aquino na captura do áudio e diz que ele foi orientado pelo Ministério Público (MP) sobre como questionar o acusado. A Promotoria defende que o procedimento está dentro da legalidade.A conversa entre os dois, que aconteceu na academia de ginástica de Aquino, é uma das principais provas apresentadas pelos promotores contra o empresário — que é dono da Hydrax — como participante do esquema de fraudes em licitações dentro da Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa). O caso segue na Justiça e as audiências serão retomadas no próximo dia 2. O documento dos defensores foi juntado ao processo em agosto.O pedido foi feito ao juiz da 3ª Vara Criminal, Nelson Augusto Bernardes, com base em uma perícia particular, contratada pelo advogado de outro réu, o ex-diretor técnico da Sanasa Aurélio Cance Júnior. Nessa perícia, segundo o documento, é possível ouvir conversas entre Aquino e uma pessoa que seria do MP, na qual os dois comentam sobre a escuta. De acordo com o documento, Aquino diz que o gravador está ligado. Em seguida, uma pessoa responde: “tá ligado? Eu vou ficar sentado ali (...)” e depois diz: “o senhor fica aqui.”No documento, o advogado de Cance Júnior argumenta que a gravação em acordo com Aquino “põe em xeque não só a prova, como também o proceder do Ministério Público” e que ele tinha ciência de que a conversa seria gravada “de modo que atuou deliberadamente como agente de investigação”. Aquino é o ex-presidente da Sanasa e se transformou no “homem-bomba” dos casos ao fazer a delação ao MP, tendo em troca a redução de sua pena.A defesa considera como uma “farsa a versão apresentada (pelo MP) de que seus sagazes agentes valeram-se de uma estória de cobertura (espécie de infiltração, recurso usado em investigações) para conseguirem acesso às dependências do local (a academia de Aquino)”.O MP, no relatório oficial com a transcrição dessa conversa gravada, consta que agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) se deslocaram até a academia de Aquino onde havia marcado encontro com o empresário e, “através da usualmente estória de cobertura conseguiram acesso às dependências do local como interessados no serviço da empresa (a academia)”.O promotor do caso, Amauri Silveira Filho, contesta as considerações feitas pela defesa e afirma que agiu dentro da legalidade, realizando a gravação com autorização judicial. O promotor conta que, ao saber que haveria um encontro entre os dois, por meio de escutas telefônicas que já eram feitas na época, pediu a Aquino que realizasse a gravação, mas que a Promotoria achou por bem encaminhar um técnico para isso. “Quando uma conversa acontece, o interlocutor pode gravar a conversa. O Aquino era um colaborador nosso na época.”Quanto à “cobertura” questionada pela defesa, Silveira Filho afirma que esse recurso foi usado quando um agente do MP se passou por um usuário da academia, instalou o equipamento, e permaneceu no local disfarçado enquanto a conversa acontecia. “Isso para que pessoas além de Aquino soubessem dessa gravação. Havia pelo menos um investigado, que era o Francisco de Lagos (ex-secretário de Comunicação) que também frequentava a academia”, disse. No relatório,a Promotoria não detalha a participação de Aquino.VersõesPara o promotor, a defesa está atuando na tentativa de prorrogar o julgamento do processo, que segue para sua fase final. Procurado, o advogado autor do documento, Augusto de Arruda Botelho não quis se manifestar sobre o assunto. O advogado de Aquino, Carlos de Araújo Pimentel Neto, disse que não teve acesso ao documento, mas que a defesa está no seu direito.Áudio mostra preocupação de empresário A conversa que foi gravada entre Luiz Aquino e o empresário Wanderley Gregório Cerveira sugere que ele suspeitava das investigações do MP e estava preocupado com uma intimação que havia sido feita pela promotoria para que fosse depor. Os dois comentam sobre as possíveis perguntas que poderiam ser feitas e Gregório diz o que pretende dizer sobre o contrato que mantinha com a Sanasa. Ele está entre os acusados por fraude em licitação e corrupção ativa (quando paga a propina).Sua advogada Mariela de Lourenço Gregori afirma que é preciso haver uma perícia oficial, mas que se as suspeitas se confirmarem, as provas apresentadas podem ser desqualificadas. “Mesmo porque não foram apresentadas provas fundamentadas contra o meu cliente.”