EX-FUNCIONÁRIA DA FUNCAMP

Acusada de desviar verba de pesquisas diz que fazia pagamentos para docentes

Ligiane, ré por peculato e lavagem de dinheiro, alegou em depoimento ao MP que pesquisadores pediam que ela efetuasse pagamentos para despesas pessoais deles

Luiz Felipe Leite/luiz.leite@rac.com.br
08/05/2025 às 11:22.
Atualizado em 08/05/2025 às 16:41

Ligiane Marinho de Ávila, ex-funcionária da Funcamp, virou ré por peculato e lavagem dinheiro no caso que envolve o desvio de mais de R$ 5,3 milhões que seriam utilizados para pesquisas científicas do Instituto de Biologia da Unicamp (Kamá Ribeiro)

A ex-servidora da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), Ligiane Marinho de Ávila, ré por peculato e lavagem de dinheiro no caso dos mais de R$ 5,3 milhões desviados de pesquisas científicas do Instituto de Biologia (IB) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirmou que os pesquisadores que desempenhavam as atividades na área utilizavam a maior parte dos valores financeiros para uso pessoal. Os docentes negaram as acusações da suspeita e alegaram que são vítimas no caso.

Denunciada pelo Ministério Público (MP) junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ) por ter supostamente cometido 27 vezes o crime de peculato e ao menos 189 vezes o de lavagem de dinheiro, entre 2017 ao início de 2024, Ligiane detalhou em um depoimento aos promotores públicos, obtido com exclusividade pela EPTV, a função realizada por ela na fundação e a relação com os cientistas. De acordo com a exservidora, nas declarações feitas ao MP e que foram repercutidas pela mídia regional, os pesquisadores pediam que ela fizesse vários pagamentos a eles para finalidades pessoais. Um exemplo citado por ela foi a compra de um abajur.

Ainda segundo Ligiane, que está foragida no exterior desde fevereiro do ano passado, os valores foram inicialmente desviados para uma conta dela, mas ela não teria ficado com todo o montante. “Esses valores que falam que eu desviei realmente foram para a minha conta, mas e tudo o que eu paguei deles (pesquisadores)? Do jeito que estão falando, parece que eu não paguei nada deles. Eles não estão olhando isso. Eles sabiam que eu jogava na minha conta para facilitar os pagamentos”, afirmou.

A defesa dos docentes do Instituto de Biologia, citados pela ex-servidora, ressaltou o posicionamento divulgado anteontem, de que os profissionais procuraram imediatamente a Fapesp, a Unicamp e a Funcamp quando identificaram, em dezembro de 2023, as fraudes envolvendo o recurso destinado a seus projetos de pesquisa. Eles também protocolaram pedido de abertura de inquérito criminal junto à Polícia Civil. “Reforçamos que os pesquisadores também são vítimas dessa situação e têm agido com total transparência e cooperação desde o início”, destacou em nota.

DESVIOS

Em sua primeira manifestação oficial à imprensa, a defesa de Ligiane alegou que o valor que ela tem de devolver é de cerca de R$ 150 mil, negando a apropriação indevida no valor de R$ 5.384.215,88 em recursos da Fapesp. A manifestação ocorreu em uma coletiva de imprensa na manhã de anteontem, promovida pelo advogado de defesa, Rafael de Azevedo.

Questionado se sua cliente fez proveito da verba que movimentava, o advogado afirmou que ela utilizava a opção de pagamento em crédito, a fim de acumular milhas aéreas. “O que ela usufruiu pela questão da conta foi com as milhas, essa foi a maior parte do benefício próprio”, declarou. Azevedo afirmou que sua cliente tem a intenção de devolver o valor utilizado. Segundo o advogado, Ligiane mencionou que os valores giram em torno de R$ 150 mil. “A defesa está com uma perícia contábil particular, para justificar que os valores de entrada batem com os valores de saída das movimentações realizadas durante o período de investigação”, ressaltou. No entanto, questionado sobre o fato da ré no TJ-SP ter uma empresa aberta em seu nome utilizada para emitir as notas fiscais, Azevedo respondeu que “ela não viu outra forma de conseguir emitir as notas para a liberação da verba”.

O advogado apontou que as 220 movimentações realizada por sua cliente foram feitas com consentimentos tanto dos pesquisadores quanto da própria Unicamp, “sem que existisse um compliance”. Azevedo afirmou que os professores passaram de livre e espontânea vontade as senhas dos cartões, assim como desabilitaram a leitura biométrica para que Ligiane pudesse acessar e movimentar as contas bancárias. De acordo com o advogado, a acusada repassava os valores dos cartões para uma conta pessoal, utilizada para as transações.

Em nota enviada anteontem à reportagem, a Unicamp reiterou que não houve qualquer omissão do ex-reitor Antonio José de Almeida Meirelles, conhecido como Tom Zé, na condução do caso, e que determinou a apuração dos fatos, instaurando sindicância administrativa. Ela foi concluída e arquivada, mas o Ministério Público solicitou a abertura de uma nova sindicância.

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