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Acredite: o unicórdio manda muito bem

Livro destrincha segredo das pequenas empresas que adquirem valor de mercado superior a US$ 1 bi

Adriana Menezes/AAN
25/10/2020 às 15:31.
Atualizado em 27/03/2022 às 19:40
Bergamasco se sentiu desafiado a entender o fenômeno e escreveu " Da ideia ao bilhão ? Estratégias, conflitos e aprendizados das startups" (Divulgação)

Bergamasco se sentiu desafiado a entender o fenômeno e escreveu " Da ideia ao bilhão ? Estratégias, conflitos e aprendizados das startups" (Divulgação)

O que há em comum entre as poucas empresas que começaram timidamente e em poucos anos adquiriram valor de mercado superior a US$ 1 bilhão? Instigado por esta pergunta, o jornalista Daniel Bergamasco se sentiu desafiado a entender o fenômeno das startups unicórnio, nome dado a estes jovens e fenomenais empreendimentos bilionários. Após cerca de cem entrevistas, o jornalista finalizou 7 — no meio da pandemia — o livro Da ideia ao bilhão — Estratégias, conflitos e aprendizados das primeiras startups unicórnio do Brasil (Editora Portfolio Penguin). Uma de suas conclusões foi a de que o segredo não está necessariamente na tecnologia nem na roupagem ou estilo da empresa, mas na ousadia de inovar e de se arriscar em novos modelos de negócio. Conceitos e estratégias fazem a diferença. Isso se aplica na necessidade de conquistar investidores, formar talentos, encantar clientes e dominar a concorrência. O livro descreve o ecossistema de inovação brasileiro e o seu funcionamento, tomando como cenário as dez primeiras startups unicórnio brasileiras: 99, Arco Educação, Ebanx, Gympass, iFood, Loggi, Movile,Nubank, QuintoAndar e Stone. Campinas aparece em primeiro plano nestas histórias, especialmente nas duas que nasceram na cidade: Quinto Andar e Movile (em cujo guarda-chuva estão iFood, PlayKids e Sympla, entre outras). Lançada há três semanas, a obra teve início em 2019. No meio do caminho, três novas startups unicórnio surgiram no País, mas Daniel decidiu manter o recorte das dez empresas para compartilhar aquilo que todo mundo deseja saber: qual o segredo? O jornalista saiu da revista Veja, onde trabalhava com mídias digitais, e mergulhou de cabeça na compreensão das startups que estão revolucionando seus mercados e produzindo uma nova economia em todo o mundo. “Eu queria entender como, em uma década de forte instabilidade na economia brasileira, os unicórnios nasciam. Não podia ser coincidência nem magia”. Aos poucos, Daniel percebeu que havia entre elas novas metodologias de criação de um modelo de negócio, além de práticas de gestão que eram aplicáveis a empresas de qualquer área. As narrativas contam os bastidores do nascimento das empresas e revela dificuldades, curiosidades e segredos sobre a realidade desta espécie de empreendedores. “Todas são transformadoras, cada uma no seu modo”, diz Daniel, que recomenda a leitura para os profissionais de qualquer área que desejam se conectar com a nova economia. “É um livro que pode ajudar a disseminar os conhecimentos de inovação no Brasil, que é território favorável para empreendimentos digitais”, acredita o jornalista, que também escreve sobre estratégias e mercado. Em um dos capítulos, fala sobre como conquistar um investidor. “É um livro de muitas histórias de gente de carne e osso. Pra que todo mundo possa entender o básico da inovação.” Apertador de parafuso Para o autor, o ambiente de inovação no Brasil tem sido muito excludente. “Usa-se termos em inglês ou português que muitos não entendem direito. Fica parecendo que existe o núcleo dos inovadores e o resto é apertador de parafuso, como se houvesse uma divisão entre empresas inovadoras e empresas dinossauros. Essa conversa é nociva”, avalia o autor do livro. “Esse papo excludente é péssimo para o desenvolvimento da inovação brasileira”. te excludente, Daniel aposta na divulgação dos novos métodos e práticas de gestão. “A partir do momento que estes métodos são conhecidos, você faz a ponte para a inovação. Assim a inovação se torna menos excludente”, avalia. “Para inovação se tornar mais democrática, precisa compartilhar conhecimento”. No cenário brasileiro, o Sebrae é peça importantíssima, mesmo sendo tradicional nas técnicas e modelos de negócio. “O Sebrae faz o trabalho complementar das universidades, escolas de negócios, outras instituições e também das próprias empresas, que também precisam ter atividade de ensino”. Ao longo das entrevistas, o jornalista percebeu que Campinas é uma cidade-chave no cenário de inovação. “A cidade colhe os frutos de ter investido em inovação e conhecimento ao longo de décadas”, afirma o autor. Campinas passa pela história de várias startups unicórnio, com a presença de muitos executivos-chave que passaram pelas universidades da cidade, especialmente na Quinto Andar e na Movile. Sobre as práticas transformadoras e inovadoras dos unic,,,,,órnios, Daniel identificou que a mais importante é a criação de um modelo de negócio a partir do interesse e das necessidades do cliente – um dos fundamentos de um negócio inovador. “Você não tem de buscar cliente para o seu produto, você tem de criar produto para o seu cliente”, afirma o jornalista, descrevendo em poucas palavras o que é design thinking, termo em inglês para um conceito que foca na solução dos problemas e que é muito comum no dia a dia destas empresas. “É importante traçar a jornada do cliente, o sentimento dele, suas expectativas, frustrações, para criar um caminho mais suave”, diz Daniel. Campinas Como exemplo de aplicação de design thinking, ele conta no primeiro capítulo do livro a história do Quinto Andar, que nasceu em Campinas. “Todo mundo sempre achou chato encontrar fiador, ter de ir a um cartório e outras coisas pra alugar imóvel. O Quinto Andar criou soluções para isso. Mapeou esta experiência e a tornou mais suave. Foi a construção do modelo de negócio a partir do cliente; este é o primeiro ponto”. Fundadores da Quinto Andar estudaram nos EUA Os dois fundadores da Quinto Andar, André Penha e Gabriel Braga, são mineiros e se conheceram na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, onde faziam um curso MBA (Master in Business Administration). Quando idealizaram a empresa e resolveram voltar para o Brasil, decidiram começar em Campinas. André fez graduação e mestrado na Unicamp. “Pensaram em ficar em Campinas para estar perto dos talentos das universidades da cidade.“ A Movile, criada pelo baiano Fabrício Bloisi, que também estudou na Unicamp, nasceu em Campinas e ainda mantém operações na cidade. “Eu costumo dizer que a Movile é um unicórnio de sete cabeças. Ela tem participação majoritária no iFood, tem ainda a PlayKids - aplicativo que salvou muitos pais e mães na quarentena, com joguinhos pra crianças, e que está em 180 países -, tem a Sympla e muitas outras empresas. Ou seja, virou um ecossistema próprio”, diz Daniel. A Movile nasceu da fusão de duas startups principais e outras menores. “Bloisi se tornou um gigante, um dos principais nomes da inovação no Brasil. Hoje é CEO do iFood e diretor-presidente da Movile.” O nascimento de uma startup normalmente acontece com a criação de produtos ou serviços pequenos que são colocados no mercado. A empresa colhe os dados, aperfeiçoa o produto ou serviço e começa a crescer quando tem o produto viável, seguindo um ciclo. “Assim são as startups. A partir disso estes negócios são construídos. E algumas se transformam em unicórnio.” Daniel conta também em seu livro a história da Arco Educação, único unicórnio de educação, que nasceu em Fortaleza (CE) e já abriu capital na Nasdak de Nova Iorque. “Ela é lucrativa e cresceu sozinha sem queimar dinheiro. Mais um exemplo de que para ser unicórnio não precisa começar com muito dinheiro nem com tecnologia de ponta”. (AM/AAN)

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