Motoristas e cobradores de ônibus de Paulínia encerraram no começo da noite de ontem a paralisação do transporte público da cidade, que durou dois dias. A decisão foi tomada depois que um acordo foi firmado entre os trabalhadores e a prefeitura. Pelo trato, a função de cobrador será mesmo extinta no município, mas os cobradores não mais perderão o emprego, porque terão que ser realocados para outras funções dentro da viação que vencer a nova licitação, ou mesmo pela Administração Municipal.
A greve começou na quarta-feira, com os trabalhadores reivindicando a manutenção dos cerca de 100 postos de trabalho dos cobradores. Ocorre que o novo certame, hoje em andamento, extingue a função da frota paulinense. Com isso, os que atuam hoje nesse cargo ficariam desempregados daqui a sete meses, quando a empresa que vencerá a licitação tomará posse.
"Foi uma manifestação pacífica em prol do emprego dos cobradores. Infelizmente, já está nos autos da nova licitação que não existirá mais cobrador. Por isso, a próxima empresa que entrar não vai mais operar com cobrador. Mas, a gente queria que o cobrador fosse realocado em algum posto de trabalho. Que saísse empregado. Porque não adianta a gente só capacitar o cobrador para outra função e ele ter que procurar emprego sozinho nessa pandemia", afirma o líder da comissão de trabalhadores, Nilton Aparecido de Maria.
A cobradora Arlete Martins Freire estava indignada. "É um absurdo. Todos nós iríamos ficar desempregados. Eu tenho neto, pago aluguel. Na pandemia está pior para todo mundo. Está cheio de empresa que faliu. E a gente sabe que essas coisas não melhoram da noite para o dia", declara.
Na segunda-feira (26), três empresas entregaram documentos para participar da nova licitação, que está prevista para terminar até dezembro. Atualmente, a concessionária responsável pelo transporte é a Viação Terra.
Ontem, cerca de 200 funcionários cruzaram os braços, segundo o Sindicato dos Rodoviários de Paulínia. Na noite de quarta-feira (28), motoristas e cobradores reuniram-se na prefeitura com representantes da Secretaria Municipal de Transportes. Na ocasião, a Administração Municipal ofereceu capacitação profissional para outras profissões, como, por exemplo, para mecânico, com cursos do Serviço Social do Transporte e do Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Sest/ Senat), mas sem a garantia de emprego.
Transtorno
A diarista Lúcia Souza de Oliveira, de 51 anos, estava ontem de manhã na rodoviária de Paulínia aguardando ônibus para poder ir trabalhar. "Eu acho terrível essa situação. Fico preocupada porque se eu não conseguir chegar lá, além de eu não receber o dia, o patrão fica decepcionado", afirmou. A recepcionista Vitória Simões, de 20 anos, também aguardava pelo transporte para tentar chegar à clínica onde trabalha. "Acho bem chato isso. Que situação horrível que é essa", declarou.
O cobrador Kleverton Almeida, de 22 anos, também lamentou. "Se tá ruim para o passageiro, imagine para a gente, que depende desse serviço para comer, pagar aluguel e pagar pensão de filho. Já está tudo muito mais difícil com essa pandemia, e imagine então o que vai ser se a gente ficar desempregado", lamentou. Bruno de Araújo Leal, de 29 anos, também é cobrador. Tem duas gêmeas de quatro anos de idade, e também paga aluguel. "Essa é a minha única renda. A nossa situação está bem complicada, e ainda querem piorar" declarou.
Acordo sela fim da greve de ônibus
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