REMANESCENTES

ACL homenageia seus fundadores

Academia Campinense de Letras comemora 57 anos de história e cultura com várias atividades

Rogério Verzignasse
rogerio@rac.com.br
17/05/2013 às 06:00.
Atualizado em 25/04/2022 às 15:45

Antonio Leite Carvalhaes foi um dos fundadores da ACL e será homenageado hoje: dono da cadeira 9 (César Rodrigues/AAN)

Seo Antônio se aproxima do portão em passos cuidadosos. Cumprimenta cada um dos visitantes, e pede que falem um pouco mais alto, pois a audição não está lá aquelas coisas.

Apesar do sol forte, ele precisa usar uma blusa por causa de uma pneumonia que o atormentou semanas atrás. Mas o traje é só precaução. O homem, às vésperas de completar 90 anos, está muito bem. Adora uma prosa. Faz questão de mostrar os cômodos, as fotos, a criação de patos no quintal.

O lar, lá em Sousas, é seu reduto. Ele quase não vem para a cidade. Só que velhos amigos fazem questão de sua presença em um evento especial desta sexta-feira (17), quando serão homenageados os fundadores da Academia Campinense de Letras (ACL), espaço cultural que comemora 57 anos de história.

Antônio Leite Carvalhaes, por sinal, é muito conhecido pelas famílias mais tradicionais da cidade. Advogado e dirigente do antigo jornal A Defesa, ele se dedicou à política.

Foi vereador, deputado e chegou a disputar a prefeitura de Campinas, no pleito conquistado por Miguel Vicente Cury. Durante os governos de Ruy Novaes, ele respondeu pelas secretarias de Finanças e Obras.

Mas, o campineiro se orgulha mesmo de ter sido um dos fundadores da academia, lá em 1956.

Na solenidade de posse dos primeiros acadêmicos, ele tinha ao seu lado 39 amigos.

Deles, só dois continuam vivos: Camilo Geraldo de Souza Coelho e Heládio José de Brito, que também serão celebrados na sessão extraordinária, com direito a apresentações de música clássica e exposição artística.

Na mesma noite, três ex-presidentes da ACL também serão aplaudidos: Conceição Arruda Toledo, Rubem Costa e Uassyr Martinelli.

Dentre os três fundadores remanescentes, é provável que só Carvalhaes compareça à sede da ACL, aquele prédio de inspiração grega erguido na Rua Marechal Deodoro.

Ah, claro. Carvalhaes vai ter que convencer o filho Artur, que impede que ele saia de casa no frio.

“A gente fica velho e tem de obedecer. Minha carteira de motorista vence em 2015. Eu estou meio surdo mas enxergo muito bem. E meu filho não me deixa dirigir”, gargalha.

Ele faz questão de rever amigos e passear por aquele templo da academia. E ele tem boas razões para isso. Ao contrário das outras academias brasileiras, diz, a Campinense não foi criada para agrupar só a fina flor da intelecutualidade.

A proposta do grupo não se limitava a escritores. “Entre os fundadores haviam médicos, engenheiros, advogados. Várias profissões. Para a gente, a cultura ia muito além de escrever livro. A gente reunia pessoas interessadas em ver Campinas estudando, progredindo.”

A ACL nasceu quando o linguista Francisco Ribeiro Sampaio, então secretário municipal de Educação e Cultura, decidiu reunir os campineiros ilustres. O próprio Sampaio foi eleito presidente.

No começo, as sessões aconteciam em lugares improvisados, ou na casa dos próprios acadêmicos. Em meados da década de 70, quando a Prefeitura cedeu o terreno para a construção da sede própria, a ACL virou um patrimônio da cidade.

A aprovação à causa era tão grande que o projeto e a execução da obra foram feitos de graça pela Lix da Cunha.

“A situação mostrava bem como era a sociedade da época. Um engenheiro renomado se oferecendo para trabalhar de graça, em um projeto para valorizar Campinas”, diz.

Com a idade chegando, ele deixou de comparecer às sessões todos os meses. Mas a cadeira 9 está lá, pertence a ele desde 1956. Novas gerações chegaram, e ele confessa que não conhece todo mundo. Mas não importa.

Para Carvalhaes, o mundo mudou para melhor, e a tendência é que a própria academia se modernize, e seja cada dia mais frequentada.

Um exemplo disso é que a eleição de um novo acadêmico para uma cadeira vaga, neste mês, atraiu nada menos que nove candidatos.

“É muito gratificante ver os mais novos interessados em fazer parte do grupo, em difundir a educação e a cultura”, fala.

“Além disso, as atrações artísticas tornam a ACL um espaço para lazer para gente de bom gosto, e para a divulgação do trabalho de artistas da terra.”

E, se a idade avançada não permite idas frequentes à academia, ele se diverte em casa, lendo tudo que vem às mãos.

De triste, naquele lar, só uma coisa. A esposa Helenita se foi há oito anos, o que faz Carvalhaes filosofar: “Está errado. O homem sempre devia partir primeiro. Sem a esposa, a casa nunca mais é a mesma”, diz.

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