Estudo será elaborado para identificar necessidade de reformas na estrutura, que já tem 50 anos
Além de não suportar demanda atual de veículos, Viaduto Cury pode ter falhas na sinalização e nas proteções laterais: avaliação será feita pela Secretaria de Serviços Gerais ( Carlos Sousa Ramos/AAN)
A Prefeitura de Campinas vai fazer um estudo para avaliar se o Viaduto Miguel Vicente Cury precisa de reforço na sua estrutura para permitir tráfego intenso e pesado de veículos diariamente. Construção de 50 anos, o viaduto foi palco, nos últimos 15 dias, de três graves acidentes. A avaliação foi determinada pelo prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), à Secretaria de Serviços Públicos depois do acidente ocorrido ontem que causou uma morte e deixou outras 19 pessoas feridas.O secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, não quis se pronunciar ontem sobre o estudo. Por meio da assessoria de imprensa, ele afirmou que o estudo irá verificar se a estrutura da construção suporta um reforço na proteção lateral do viaduto e na segurança. Foto: Carlos Sousa Ramos/AAN No acidente de ontem, ônibus articulado caiu sobre carro; uma pessoa morreu e 19 ficaram feridas O especialista em segurança no trânsito José Almeida Sobrinho questiona as condições de segurança do viaduto para o atual volume de tráfego e defende reformas urgentes na construção. Segundo o especialista, o viaduto precisa ser reconstruído ou completamente reestruturado (leia mais nessa página).Segundo a Prefeitura, se o estudo apontar que os reforços na segurança do viaduto só podem ser feitos após a melhoria na estrutura da construção, a intervenção será feita. Apesar de não haver prazo para que as intervenções comecem, a Administração informou que, em razão dos últimos acidentes, irá priorizar a reforma no local.O recapeamento do Viaduto Cury foi a primeira obra feita pela gestão do prefeito Jonas Donizette (PSB). Além da recuperação completa do pavimento, em janeiro a Administração realizou um trabalho em todo fresamento do piso e providenciou a troca das juntas. Segundo a Prefeitura, o Viaduto se encontra em perfeito estado de conservação, “tanto em relação ao piso quanto às juntas de dilatação”. “Foi um acidente muito grave. Esse viaduto foi a primeira obra que fizemos, é algo muito lamentável”, afirmou Jonas. Foto: Carlos Sousa Ramos/AAN O secretário de Transporte, Sérgio Benassi (à esq.), e o prefeito Jonas Donizette: novos reparos à vista Além da troca de pavimento, foi feita no local a revitalização da sinalização, tanto na parte vertical (placas) quanto na horizontal (solo). O secretário de Transporte, Sérgio Benassi, diz que a construção é antiga e que é preciso fazer uma reforma na estrutura do viaduto. “O viaduto passou por uma reforma recente, mas a construção é muito antiga e é preciso fazer uma boa reforma no local”, afirmou. Segundo o secretário, a reforma seria necessária para melhorar as condições de segurança do local.Em janeiro a Secretaria de Infraestrutura iniciou estudos para a troca das proteções de metal, já que é necessária avaliação sobre estrutura do viaduto para que se saiba se ele comporta outra defensa. A Prefeitura informou que, se não for possível a troca, ele será reconstituído, pois ficou danificado com os acidentes.Complexo não comporta demanda atual, diz especialistaPara José Sobrinho, viaduto deve ser reconstruído ou totalmente reestruturado Embora não relacione os três acidentes ocorridos no Viaduto Cury num prazo de 15 dias com problemas estruturais do complexo viário, o especialista em trânsito e presidente do Instituto Brasileiro de Ciência do Trânsito, José Almeida Sobrinho, critica as condições de segurança da estrutura. Segundo Almeida, o viaduto foi projetado há 50 anos, numa época em que Campinas tinha um terço do volume da frota de veículos que tem atualmente. “O volume de tráfego para as condições dele está muito acentuado e ele não tem condições de comportar a demanda atual”, afirmou. Almeida ressaltou que o viaduto precisa ser reconstruído ou completamente reestruturado. “É necessário encontrar soluções para atender a frota que circula pela região, como alargar a pista, aumentar o número de pistas, fazer novas alças para saídas. Mas os engenheiros que forem fazer o estudo de viabilidade podem chegar à conclusão de que não é a obra no viaduto que vai resolver o problema, mas uma passagem subterrânea, por exemplo. A solução vai depender de estudos que serão feitos”, explicou.Algumas medidas, no entanto, podem ajudar a minimizar os riscos, segundo o especialista. Entre elas estão o reforço de sinalização, reforço das proteções de metal nas laterais, melhoria na iluminação e redutores de velocidade. “São medidas que podem ser adotadas de imediato para tentar amenizar os risco à segurança, porque o perigo está muito grande”, afirmou. Falha humana?Segundo Almeida Sobrinho, o que pode se verificar nesses três acidentes é que houve negligência ou falha humana, o que não quer dizer que o viaduto esteja em plenas condições para evitar acidentes. Ele explicou ainda que, no caso do acidente de ontem com o ônibus, havia a dificuldade adicional pelo veículo ser articulado. “Ele é mais difícil de ser manobrado. Em caso de freada brusca, por exemplo, a parte de trás empurra a da frente. O motorista, no entanto, é habilitado para lidar com esse tipo de veículo e algum fator a mais provocou o acidente. Algo ocorreu que fez com que ele tenha se perdido ali: ou uma fechada, ou ele tentou desviar, ou chuva. Algum problema desse tipo levou o motorista a não tomar o devido cuidado”, disse o especialista. (Inaê Miranda)