EM CAMPINAS

Acidentes de trabalho geram altos gastos em afastamentos

Apenas com aposentadorias por invalidez, valor chegou a R$ 356,5 mi em 2021

Ana Carolina Martins
28/04/2022 às 09:07.
Atualizado em 28/04/2022 às 09:07

Profissionais da área da saúde, com atividades de risco, sofreram física e emocionalmente no combate à pandemia nos últimos anos (Ricardo Lima)

Os acidentes de trabalho em Campinas em 2021 aumentaram em 17,7% em relação a 2020, segundo um estudo do Ministério Público do Trabalho (MPT), realizado em cooperação com a Organização Internacional do Trabalho (OIT). A alta, no entanto, é inferior à registrada em 2019, ano em que a pandemia ainda estava no seu início. Isso representou um gasto previdenciário com auxílios-doença de R$ 75, 8 milhões. No ano de 2020, foram gastos R$ 81 milhões e, em 2019, R$ 82,4 milhões. Com aposentadorias por invalidez no município, a despesa atingiu R$ 356,5 milhões no ano passado, R$ 343,2 milhões em 2020 e R$ 330,4 milhões em 2019. 

O levantamento, divulgado nesta semana, revelou ainda que o número de óbitos decorrentes do trabalho também cresceu 42,8% (20 casos) em 2021 na comparação com 2020 (14) e 17 trabalhadores perderam a vida em 2019 no exercício do seu trabalho.

Em números absolutos, foram registrados 4.539 acidentes de trabalho na cidade em 2021, enquanto em 2020, 3.854 ocorrências e em 2019, 5.455. Os números se referem apenas aos casos em que houve reconhecimento dos acidentes por parte de empregadores. 

Em relação aos setores com mais casos de acidentes, o destaque negativo de 2021 ficou por conta da atividade de atendimento em ambiente hospitalar, que liderou o ranking entre aqueles que emitiram mais comunicados de acidentes de trabalho (CATs) na cidade, com 9% do total de registros. Na sequência, seguem coleta de resíduos não perigosos (6%); educação superior e pós-graduação (5%) e serviços de catering, bufê e outros serviços de comida preparada (4%). 

O procurador Silvio Beltramelli Neto, coordenador regional da Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Condemat) na 15ª Região, avalia que o cenário atual é de alerta. Isso porque ele acredita que ocorra um alto nível de subnotificação ainda em determinados setores. "As estatísticas nos dão um norte, revelam algo que é conhecido, mas tem de ser entendidas apenas com uma amostra do que está de fato acontecendo. Mais pessoas estão se acidentando e vivenciamos um cenário em que o trabalho se apresenta como uma atividade perigosa, visto que se privilegia a produtividade e o uso diuturno das tecnologias em detrimento do direito a um ambiente de trabalho seguro e à desconexão do trabalho", defende.

O procurador destaca ainda os impactos econômico-sociais que os trabalhadores adoecidos ou acidentados geram. "Quando se afastam, isso gera custo tanto para a seguridade social quanto para o empregador, que acaba tendo a sua produção reduzida e gastando mais na substituição desse trabalhador", lembra. Beltramelli entende ser necessário que a sociedade valorize e dê mais importância a uma cultura de prevenção de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho e, a partir de um trabalho conjunto, invista em ações que reduzam a subnotificação".

A fisioterapeuta e especialista em saúde do trabalho e ergonomia pela Universidade de São Paulo (USP), Daniela Rossi, explica que há setores que historicamente apresentam problemas, mas também é possível observar um efeito da pandemia nos registros de casos. Ela citou o exemplo da área da saúde, em que enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem e pessoal de limpeza chegaram ao esgotamento no exercício da atividade profissional.

"Houve casos ainda em que os trabalhadores tiveram que, praticamente, se reinventar para o exercício do seu trabalho, com novas rotinas e, nesses casos, aparecem os acidentes decorrentes de altas jornadas e estresse entre outras complicações que geram afastamentos", explica.

A fisioterapeuta também endossa o coro sobre a necessidade de atenção quanto a ações e conscientização sobre a prevenção de acidentes. "Se é um desafio alcançar os trabalhadores e as empresas, imagine aquele que sequer tem um vínculo ou está na informalidade, ou até mesmo os trabalhadores que migraram para o trabalho em casa. Existe uma necessidade ainda maior de elaboração de políticas públicas de prevenção para garantir os direitos da saúde dos trabalhadores", alerta.

Comunicações de Acidentes de Trabalho (CATs) em Campinas

EM 2021 - 4.539 CASOS 

EM 2020 - 3.854 CASOS 

EM 2019 - 5.455 CASOS 

MORTES NO EXERCÍCIO DO TRABALHO 

EM 2021 - 20 ÓBITOS 

EM 2020 - 14 ÓBITOS 

EM 2019 - 17 ÓBITOS 

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