BAÚ DE HISTÓRIAS

Acic é um patrimônio centenário

A Associação Comercial e Industrial de Campinas completa 100 anos de dedicação à cidade

Francisco Lima Neto
22/11/2020 às 11:01.
Atualizado em 26/03/2022 às 23:57
Primeira sede da entidade, quando ela ainda levava o nome de "Centro Commercial de Campinas" (Divulgação)

Primeira sede da entidade, quando ela ainda levava o nome de "Centro Commercial de Campinas" (Divulgação)

Com restrições por conta da pandemia, a Associação Comercial e Industrial de Campinas (Acic) completou 100 anos de existência ontem, com histórico de atuação em momentos históricos e importantes da cidade, com respeito e a marca de uma das mais importantes e representativas do Estado de SP. Campinas quase sempre foi uma cidade pujante e, no final do século 19, se destaca como capital agrícola da Província de São Paulo, e já tinha um mercado comercial e industrial, impulsionado pela cafeicultura e pelo polo ferroviário. De tão rico e importante que era o Município, aventava-se a possibilidade de que se tornaria a capital da província. A história conta que o protagonismo foi roubado pelas sucessivas epidemias de febre amarela, que assolaram Campinas sucessivamente de 1889 até o final daquele século. A Princesa d’Oeste, como ficou conhecida, em alusão à marcha cafeeira pela porção oeste da Província de São Paulo, quase foi varrida do mapa pelo total de mortos e pelo êxodo que houve para outros municípios e, principalmente para São Paulo, o que muito ajudou no desenvolvimento daquela cidade. O Brasil, nas primeiras décadas de 1900, enfrentou uma forte recessão, que foi agravada pela 1ª Guerra Mundial, que impactou a economia internacional, e também a gripe espanhola, que se espalhou por todos os continentes. Campinas, que ainda buscava se reerguer da crise causada pela febre amarela, claro, foi fortemente impactada por esses agravantes. Vários estabelecimentos fecharam ou foram transferidos para outros municípios por conta da febre amarela. Mas ainda assim, em 1912, os bondes começaram a ganhar as ruas e deixou a cidade com ares mais urbanizados. Já em 1920, de acordo com os dados do Cadastro do Município, Campinas registrava cerca de 1,1 mil estabelecimentos comerciais. Foi nesse contexto, quando o Centro histórico, comercial e arquitetônico de Campinas já estava consolidado, que a Acic foi fundada. O comerciante João Pereira Ribeiro convenceu os amigos Alfredo Maia, Bernardo Saraiva, João Forster e Joaquim Duarte Barbosa, a se juntarem para defender os interesses dos setores nos quais atuavam e também colaborar com o desenvolvimento do Município. No dia 21 de novembro de 1920, 12 comerciantes se reuniram no Salão Nobre da Sociedade Luiz de Camões e fundaram o “Centro Commercial de Campinas”. O nome Associação Comercial e Industrial de Campinas foi instituído apenas em 1957. Em assembleia geral extraordinária, realizada no mesmo local, um mês depois, foram aprovados os estatutos e também ocorreu a eleição da primeira diretoria e o conselho consultivo. A primeira diretoria foi formada por: Pedro Abrão Anderson, presidente; Antônio Benedito de Castro Mendes, primeiro vice-presidente; Hugo Manoel Brandão Gallo, segundo vice-presidente; Augusto Vieira da Silva, primeiro secretário; José Martins Ladeira, segundo secretário; Manuel Ribas Filho, primeiro tesoureiro; João Pereira Ribeiro. A primeira reunião do Centro Commercial aconteceu em janeiro de 1921, na Casa do Livro Azul, do primeiro vice-presidente, Antônio Benedito de Castro Mendes. Nas duas primeiras décadas do século 20, esse local foi uma referência para Campinas, confirmando a Rua Barão de Jaguara como o principal endereço comercial naquele momento. Posteriormente, outros estabelecimentos sediaram as reuniões da entidade. Entre elas a Casa Cristofani, onde, em maio de 1921, o Centro Commercial de Campinas firmou parceria com a Associação Comercial de São Paulo. A primeira sede própria da Acic foi um prédio na Rua Benjamin Constant, com frente para a Rua Barão de Jaguara, em 1924. Já o edifício na Rua José Paulino, 1111, passou a abrigar a sede da associação em 1955, ano em que foi inaugurado como um dos primeiros edifícios altos construídos no Centro de Campinas. A edificação Art Déco, que foi uma referência urbana de Campinas na década de 1940, tem 1,9 mil metros quadrados, distribuídos em seis andares, e foi tombada em 2010 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). Em 2011, o prédio passou por retrofit (processo de modernização). Na primeira etapa, a fachada voltou a exibir as cores originais de sua pintura — tom amarelo escuro, próximo à cor do mel, muito usado em Campinas no século 19, durante os áureos tempos do ciclo do café. Na ocasião, as 114 janelas receberam esmalte sintético em tom de marfim, também resgatando a tonalidade da primeira pintura. A parte interna dos dois últimos andares e o terraço também foram contemplados. A Acic atua pela recuperação e manutenção do patrimônio histórico e cultural de Campinas, em especial do Centro Histórico. Em 2001, junto da Câmara de Dirigentes lojistas (CDL) assumiu como proponente o projeto de restauro do Palácio dos Azulejos – tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A edificação já abrigou a Prefeitura, a Sanasa e, atualmente, é a sede do Museu da Imagem e do Som (MIS). A associação também tem participação na revitalização da ponte que deu origem ao bairro Ponte Preta, e na Praça 9 de Julho, em frente à Estação Ferroviária da Companhia Paulista (Estação Cultura). Haverá homenagem aos membros Para marcar o mês do aniversário, a Acic homenageará os 36 membros da sua diretoria com placas personalizadas, amanhã, às 11h30, durante solenidade no Bellini Restaurante, como agradecimento às relevantes contribuições para o fortalecimento da instituição. O registro da cerimônia integrará o livro sobre os 100 anos da Associação, a ser lançado em 17 de julho de 2021, na comemoração oficial pelo centenário, que foi adiada devido à pandemia do novo coronavírus. Atualmente, a Acic é presidida por Adriana Flosi - também vice-presidente da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (FACESP) - eleita para o triênio 2019-2022. Guilherme Campos Júnior e Zulmiro José Furlan são, respectivamente, primeiro e segundo vice-presidentes. Adriana foi a primeira mulher a assumir a presidência da instituição, quando esta completava seus 90 anos, em 2010. A instituição possui uma das maiores representatividades do interior do Estado de São Paulo. É a principal representante, em Campinas, do comércio, indústria e serviços junto à sociedade e às instâncias de poder público e é, também, a sede da 7ª Região Administrativa da FACESP, que congrega 37 municípios. A Acic tem voz e representação em diversos conselhos do município de Campinas. Entre eles: Conselho de Turismo, Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural de Campinas, Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU), Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Centro etc.

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