ELES RESISTEM

Acampados, bolsonaristas esperam por um ‘milagre’

Manifestantes se mantêm firmes, na expectativa de que sua luta não seja em vão

Da Redação
24/12/2022 às 09:40.
Atualizado em 24/12/2022 às 09:40
Manifestantes põem à prova a resistência de um ideal (Divulgação)

Manifestantes põem à prova a resistência de um ideal (Divulgação)

Acampados e mobilizados há quase dois meses em frente aos quartéis, esperando por algo mais do que silêncio e acenos cifrados, os manifestantes que rechaçam que Lula assuma a Presidência da República em 2023 e que as Forças Armadas ajudem o ainda o presidente Jair Bolsonaro a se manter no poder não sabem o que farão nas festividades de fim de ano.

O Natal está às portas, mas muitos dos seguidores que passaram semanas castigados pelo sol ou debaixo de fortes chuvas, sob nada mais do que estruturas precárias para protegê-los, como as barracas, aguardam uma sinalização e acumulam novos prazos para que, finalmente, sejam atendidos em suas reivindicações. Esse dia parece nunca chegar e, cada vez mais, aproxima-se o dia em que o Brasil iniciará o ano com um novo presidente da República.

Em Campinas, as barracas - e pessoas - continuam em pé em frente à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). O difícil é saber por quanto tempo. A impressão é a de que, assim como as mambembes estruturas físicas resistem às intempéries por um fio, a parte psicológica dos manifestantes também está a um passo de colapsar. São as 72 horas mais longas da vida daqueles que esperam por algo que reverta a derrota registrada nas urnas eleitorais.

Na véspera do início das celebrações de final de ano, o que se vê, naqueles que se mantêm em prontidão na Escola de Cadetes, são pessoas longevas, crianças, famílias, mães e filhas, pais e filhos, cujos comportamentos oscilam entre o entusiasmo, ansiedade e um extremo temor de que todo o esforço será em vão.

O silêncio de alguns momentos é quebrado por pequenos grupos de conversas, de reflexões e conspirações que geram algum burburinho. Repentinamente, um grito eclode, como um pedido de ajuda às Forças Armadas, que ecoa longe e é acompanhado por todos. Entretanto, mesmo que a mensagem chegue aos ouvidos dos destinatários, não há resposta. Deveriam voltar para casa e comemorar o Natal? Passar a virada de ano em família, agradecendo e desistindo das expectativas que cada vez mais se consolidam como irreais? Será que esperarão e, efetivamente, nada acontecerá? Em janeiro, terão de voltar à realidade que não querem ou podem aceitar? Continuarão convictos em suas pautas que encontram eco apenas entre os seus pares, passando por cima de datas festivas, momentos de celebração?

Alguns são orientados por parentes e amigos a desistirem das demandas irreais. Mas o que quem está fora pode não compreender é que muitos acampados em frente aos quartéis acreditam que estão imbuídos de uma missão de vida, uma batalha milenar do bem contra o mal. Mas afinal, de que lado está o mal? Para eles, não há dúvida: é do lado dos petistas. De quem é contra a família e as tradições. De quem tem empáfia e os julga a todo o momento. "Como não conseguem nos entender? Está óbvio!", pensam.

Em frente à EsPcEx, o ar torna-se quase palpável em alguns momentos. Os manifestantes estão tensos. Talvez não percebam que o espetáculo está chegando ao fim. Cai o pano e o que parecia ser aventura, agora, mostra-se uma desventura. Como em uma obra de ficção, o clímax já aconteceu. Não haverá outra reviravolta para atender aos desejos dos revoltosos com o resultado da eleição presidencial.

O que começou como uma aventura épica, terminará em desventura. "Eles vão vir com tudo para cima de nós", é o temor de uma manifestante. Quem são eles? Não fica claro. Judiciário? Adversários políticos? O entusiasmo não é o mesmo, mas ainda há agitação e, por mais que nada aconteça em termos nacionais, são imprevisíveis os efeitos que o choque de realidade - se acontecer - fará às pessoas que ainda acreditam.

O receio de admitir que as mensagens subliminares, os prazos que nunca chegam, o ‘Dia D’ que a todo momento fica para 'depois', eram apenas uma narrativa na qual escolheram acreditar, paralisa muitos. Contudo, pouco a pouco, fica evidente, até para eles, que não haverá a vitória que almejam e precisarão ser bons perdedores se quiserem retomar um pouco da normalidade que havia em suas vidas até alguns anos atrás.

Barracas se mantêm armadas em frente à Escola Preparatória de Cadetes (Divulgação)

Barracas se mantêm armadas em frente à Escola Preparatória de Cadetes (Divulgação)

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