Amarelinhos que bloquearam a Rua Gustavo Ambrust vivem dia de heróis
Um acidente de proporções gigantescas, em um local com grande movimentação de veículos e de pessoas, mas sem perda de vidas. A façanha só foi possível graças à atuação rápida de verdadeiros heróis de Campinas, que atuavam como anônimos até a abertura da cratera na Rua Gustavo Ambrust, no Cambuí, na manhã de anteontem.
Com 15 anos de atuação como agente de mobilidade da Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), Cléber Adriano de Oliveira, de 37 anos, não perdeu tempo ao observar uma sinalização irregular na rua com cavaletes e, posteriormente, uma fissura no solo. Esvaziou a área e impediu a tragédia.
Campineiro de coração, Oliveira contou que sempre trabalhou na área de transporte, como motorista. Ao ingressar na Emdec, a sua única ambição era pela estabilidade proporcionada pelo serviço público. “Depois que comecei a atuar como agente, passei a perceber que se tratava de uma função de muita importância para a sociedade”, disse. No dia do desmoronamento, Oliveira fazia vistoria com sua moto nas vias do Cambuí, como acontece rotineiramente. Assim que entrou na Rua Gustavo Ambrust, deparou-se com o que aparentava ser apenas uma sinalização irregular.
“Havia dois cavaletes de construção civil. Parei no local para ver o porquê da sinalização inadequada, que não é padrão nosso, e observei uma fissura na via. Em pouco tempo, as fissuras começaram a aumentar e virar rachaduras. Imaginei que deveria ser devido ao tráfego de veículos que não havia sido bloqueado”, contou. Imediatamente, o amarelinho tomou a decisão de bloquear a área e comunicou seu supervisor, Márcio William Zampoli, de 40 anos, que foi ao local para dar apoio.
Tarimbado e com 16 anos na Emdec, Zampoli também percebeu a gravidade do problema. “Depois que bloqueamos a Norte-Sul, achamos por bem bloquear todo o acesso de veículos”, afirmou Zampoli. O problema foi verificado às 8h30 e cerca de 5 minutos depois o trecho da Norte-Sul com a Gustavo Ambrust já havia sido bloqueado. Às 9h, com apoio da supervisão e de mais técnicos, o entorno foi bloqueado. Nesse tempo, também foram acionados órgãos como Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, polícias Civil e Militar.
Zampoli e Oliveira conseguiram retirar em uma hora todos os operários que trabalhavam na obra da GNO e os funcionários dos imóveis vizinhos. “Fomos conversando com as pessoas, batia de porta em porta pedindo para que saíssem e retirassem os carros para evitar uma situação pior. Talvez se não fosse a nossa ação de bloquear a via, poderia ter ruído bem antes e com proporções maiores”, disse Oliveira.
Zampoli entrou na empresa como agente de trânsito e há cerca de dois anos foi promovido a encarregado. Casado há 18 anos, e pai de um rapaz de 18 ano, e de uma moça de 15, a família é só orgulho. “Ele gosta muito do que faz. E ontem (na última quinta-feira, 6), quando ele contou o que aconteceu, sentimos muito orgulho do trabalho que ele executa”, disse sua mulher.
Além de atuar como agente, Oliveira também trabalha com educação de trânsito, dando aula em um Centro de Formação de Condutores. Por causa da correria, ele mal teve tempo de ver a família após o acidente no Cambuí. “Comentei com o meu pai e a minha mãe e eles ficaram felizes de saber que a gente trabalha de forma honesta”, disse. Solteiro, Cléber deve aproveitar o final de semana para contar a façanha para a única filha, Camila, de 16 anos.
Os servidores afirmam que a sensação é de dever cumprido. “Tragédia a gente evita todos os dias com o nosso trabalho. Então, foi um bom dia de trabalho e saímos com a sensação de dever cumprido”, afirmou Oliveira. “Saímos em campo para preservar vidas e evitar acidentes”, complementou Zampoli.
Veja também
Solo de obra cede e 'engole' rua no bairro Cambuí Comissão integrada pelas Secretarias de Urbanismo, de Infraestrutura e CREA e IC vai investigar o caso Barreira tenta evitar que cratera se alastre Laudo sobre as causas do incidente pode sair em uma semana; trânsito continua desviado Trânsito no entorno da cratera sofre modificações