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Ações sociais modernizam serviços no Padre Haroldo

O serviço foi fundado há 40 anos em uma fazenda de 13 alqueires, na região do bairro Gargantilha ? próximo do limite de Campinas com Pedreira

Rogério Verzignasse
20/05/2018 às 14:37.
Atualizado em 28/04/2022 às 09:22
Entidade fundada há 40 anos, mantém programa voltado à promoção de atividades esportivas, de lazer e reforço alimentar, que é frequentado por duas centenas de crianças e adolescentes (Leandro Torres)

Entidade fundada há 40 anos, mantém programa voltado à promoção de atividades esportivas, de lazer e reforço alimentar, que é frequentado por duas centenas de crianças e adolescentes (Leandro Torres)

A imagem do padre Haroldo Rahm sempre foi associada a um programa para o acolhimento terapêutico de narcodependentes. O serviço foi fundado há 40 anos em uma fazenda de 13 alqueires, na região do bairro Gargantilha — próximo do limite de Campinas com Pedreira — e acabou se tornando referência. Usuários de drogas e álcool do Brasil inteiro buscaram e buscam socorro na entidade para abandonar o vício e recomeçar a vida. Desde a fundação, nada menos que 12 mil pessoas passaram pelo núcleo e se submeteram ao tratamento que associa cuidados médicos e fortalecimento espiritual. Hoje, no entanto, o Instituto Padre Haroldo (IPH) tem uma atuação muito mais abrangente, e também presta assistência a famílias em situação de risco. Oferece acolhimento, assistência social e atividades socioeducativas por toda a cidade. Poucos campineiros imaginam, por exemplo, que a entidade mantém, há mais de uma década, um programa voltado à promoção de atividades esportivas, de lazer e reforço alimentar, que é frequentado por duas centenas de crianças e adolescentes. No contraturno escolar, o projeto incetiva a amizade fraterna, os hábitos saudáveis, a convivência solidária. As atividades, que começaram na sede atual do instituto, na Vila Bradina, hoje se expandem para núcleos da periferia, como o do Campo Belo. “Hoje se investe muito na prevenção do uso de drogas, no fortalecimento dos vínculos sociais, dos valores morais”, explica o presidente Luís Roberto Chaim Sdóia, empresário, que há dez anos ocupa o cargo de forma voluntária. Como são voluntários, por sinal, outros 19 diretores da entidade, à frente de 14 serviços específicos. O instituto, por exemplo, mantém um ambulatório médico e psicológico a serviço de pessoas que, mesmo não acolhidas, procuram ajuda para se livrar do vício. Há equipes especializadas, alocadas em dez diferentes endereços, que se dedicam a um leque de ações sociais importantes. São mantidas casas de passagem; repúblicas; abrigo para gestantes; parceiras para capacitação profissional; projetos de criação de renda e empreendedorismo. “O Instituto Padre Haroldo evoluiu muito: passou a se preocupar com a fase posterior ao tratamento da dependência química e à reinserção social de seus atendidos”, diz o presidente. Hoje, por exemplo, funciona no Guanabara um serviço que acolhe moradores de rua e busca restabelecer o vínculo familiar de cada um, Brasil afora. Os assistidos também são motivados a voltar para a escola e a desenvolver competências e comportamentos adequados na busca de um emprego. Para manter toda a estrutura — que consome recursos da ordem de R$ 12 milhões a cada ano — o IPH conta com recursos do Município, do Estado e da União. Juntas, todas as esferas do governo repassam à entidade algo em torno de R$ 8 milhões anuais. Mas, para pagar as despesas, o IPH precisa da colaboração espontânea dos campineiros. “Cada um ajuda como pode, com o quanto pode. Se nos derem R$ 5,00 por mês, agradecemos demais”, explica Shaim Sdóia. Se organizam eventos, se montam bazares… Ainda assim, o prejuízo anual beira a casa de R$ 1 milhão. Mulheres O público em geral sempre relacionou o uso de drogas e álcool a homens. De fato, dos 200 acolhidos atualmente no IPH, só 40 são mulheres. Para Juliana Andrea Madeira, coordenadora da comunidade terapêutica feminina, elas são culturalmente reprimidas e nem sempre admitem que precisam de ajuda. “As estatísticas são assustadoras: entre os anos de 2016 e 2017, aconteceu um aumento de 34% no número de mulheres dependentes químicas”, fala. “No caso delas, o vício é muito mais doloroso, muito mais pesado. É muito maior o preconceito social. Muitas preferem se esconder, sofrer sozinhas.” Entre as acolhidas do IDH está a cabeleireira R., por exemplo, cearense, que se mudou para Campinas há 26 anos. O vício, lembra, começou com a cerveja. Há duas décadas, lembra, ela chegou ao fundo do poço: consumia diariamente de três a quatro corotes de pinga. “Busquei ajuda quando fui encontrada por minhas amigas, caída na sarjeta”, diz. Ela se trata há seis meses. E diz que nunca mais vai colocar uma gota de álcool na boca. E a senhora revelou o segredo de estar curada: “Só é curado quem procura ajuda de forma voluntária, que tem vontade de mudar”, diz. A experiência de R. reforça a metodologia de tratamento no IPH: não existe internação compulsória. O compromisso pessoal em deixar o vício é premissa básica para o ingresso na comunidade terapêutica. E os resultados atingem índices expressivos: 45% dos internados concluem os seis meses de tratamento. E, deles, 80% se livram para sempre das drogas ou do álcool. Religioso está radicado no País há 53 anos O padre Haroldo Rahm nasceu no Texas em 1919. Jesuíta, ele se mudou para o Brasil há 53 anos, e tomou a frente de programas de evangelização e obras sociais. Ele coordenou pessoalmente a criação das chamadas Casas Dia, com dezenas de unidades espalhadas pelo Brasil, para o amparo e os cuidados com dependentes químicos. O projeto serviu de base para a criação do instituto que leva seu nome e completa 40 anos de existência, referência nacional no tratamento e na prevenção da drogadição. O padre, prestes a completar 100 anos, já não circula mais pelo instituto, como sempre fez. Ele faz um tratamento de saúde e fica em casa, contando com a ajuda de enfermeiros. A instituição, que hoje também se dedica ao amparo de crianças, adolescentes e adultos em situação de risco, hoje é administrada por diretores voluntários.

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