Capítulo VIII do Fórum RAC mobiliza setores público e privado em torno do tema que pede urgência
Composta por grupo de excelência dos setores de mercado e das universidades, mesa conduz seminário (Thomaz Marostegan/Especial para AAN )
Um abismo separa a educação formal da boa capacitação profissional no Brasil. Para que esse cenário seja revertido são necessárias uma série de medidas. Faz-se urgente, entre outros, o estabelecimento de uma única linguagem entre os três níveis de governo - federal, estadual e municipal. Segundo Wilson Levy, ex-diretor da Secretaria de Educação Estadual de São Paulo, todos os agentes envolvidos na temática seguem, há um bom tempo, “apostando em um modelo ultrapassado”, que resultou no encastelamento da universidade e também na falta de foco para as reais necessidades. Esse e outros conceitos foram discutidos no Capítulo VIII do Fórum RAC, que aconteceu na manhã desta segunda-feira, no Royal Palm Hall, em Campinas. Intitulado Educação Versus Capacitação: Encontros e Desencontros, o evento teve José Antônio Maranho como interlocutor e mediador do simpósio que, ao fim, se transformou em uma mesa redonda. De início, ele evidenciou um dos principais impactos resultantes dessa desarmonia. Com pensamento de Rubens Passos, vice-presidente da Acco Brands, uma das maiores empresas do mundo em produtos de consumo para escritório, Maranho destacou que “dentre os conhecidos fatores da baixa competitividade da nossa economia, um dos mais graves é a baixa produtividade de nossos trabalhadores.” Levy fundamenta a tese, lembrando que estudo divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, em 2018, apontou que a produtividade do funcionário brasileiro é de cerca de R$ 68,55 por hora, enquanto alemães e noruegueses rendem aproximadamente R$ 262,78 e R$ 419,47, respectivamente. Segundo o advogado, é necessário inicialmente reconhecer que a educação não é um gasto, mas sim um investimento, mensurável sobre vários enfoques, incidente sobre diversos campos e apto a multiplicar ganhos financeiros. Luíz Roberto Marighetti, diretor pedagógico da Secretaria de Educação de Campinas, utilizou a cidade como exemplo, explicando que uma das medidas para manter um bom nível de ensino é a capacitação constante dos professores. O educador ressaltou que entre 26 grupos de estudos, outros 23 de trabalho e mais de 40 cursos, a Prefeitura qualifica 1.057 profissionais da educação por mês. Já Ophir Figueiredo Júnior, gerente regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), explicou que a entidade procura atuar em sintonia com as tendências e necessidades da indústria e da sociedade. "A nossa oferta de cursos é flutuante levando em conta a demanda de mercado", comentou, completando que não adianta formar jovens para o desemprego. Por isso, a abertura ou não de turmas é sempre condicionada a um estudo prévio. Nessa linha de raciocínio, Eliete Aparecida de Godoy, diretora da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas), orientou que as universidades precisam estar atentas às novas configurações econômicas, sociais e culturais demarcando contemporaneamente as inter-relações da instituição. Eliete enfatiza que o ensino superior não é mais somente das classes médias e elites intelectuais. Por sua vez, Maurício Jucá de Queiroz, diretor da Faculdade FIA de Administração, falou sobre a educação para executivos conceituando que, hoje, todos tem que entender que a educação é contínua. “Não podemos parar de estudar”, disse, contextualizando o que entende ser a fórmula para o sucesso. Diretor-presidente do Grupo RAC, Sylvino de Godoy Neto enalteceu a importância do tema e a qualidade dos argumentos apresentados. Para ele, os debates foram intensos e produtivos, transformando esse capítulo em um dos melhores realizados até agora. “É impressionante a sinergia formada entre os setores privado e público nesse tipo de evento, tanto quanto as soluções que acabam se criando pelos participantes”, frisou. Na próxima quinta, o Correio Popular publicará um caderno especial sobre o Capítulo VIII do Fórum RAC.