Abandono está com os dias contados

Um grupo de ao menos 40 crianças brincando no playground sucateado da Praça da Concórdia, no Jardim Maracanã, distrito do Campo Grande, em Campinas, comoveu o empresário Luiz Fernando Orosz, de 41 anos. Orosz, que viveu boa parte da sua vida no Cambuí, bairro nobre de Campinas, e viu seus dois filhos brincarem na praça bonita e bem equipada em frente ao prédio onde morava, refletiu diante daquela imagem contrastante. “As crianças brincavam com quase nada. Então falei para mim mesmo: ‘preciso fazer algo por essa praça’”, contou. Desde então, nasceu em Orosz o desejo de adotar aquela praça no Campo Grande. Ele cotou preços dos brinquedos, conversou com outros comerciantes das proximidades e, enfim, o grupo abraçou o projeto. Decidiu restaurar a praça e colocar novos brinquedos. Porém, questões burocráticas separam Orosz do sonho de inaugurar o novo espaço. O empresário pediu ajuda para dar entrada ao processo de adoção da praça e, por enquanto, o projeto está no papel e o dinheiro, guardado. “É nos parquinhos que começa a vida social de uma criança. Ela aprende a brincar, a dividir o brinquedo com outra criança, a viver em grupo. Além disso, se no Cambuí, onde há moradores com melhores condições de vida, há um parquinho bonito e bem cuidado, por que aqui, no Campo Grande, não pode ser igual? Quero também conversar com as pessoas para mantermos, juntos, o parquinho bem cuidado”, disse o empresário. O parquinho do Campo Grande, como é conhecido, mesmo simples e mal conservado, é frequentado por dezenas de crianças que moram em diversos bairros da região. “É o único parquinho que temos na região. Eu trago meu filho do Parque Floresta, que fica a pelo menos 6km daqui, para brincar”, disse o autônomo Anderson Lima, pai de Wendreo, de 6 anos. “É uma pena, o parquinho precisa de uma reforma. Os brinquedos estão muito velhos”, disse a madrasta do menino, a dona de casa Eunice Marques da Silva, de 35 anos. O aeroportuário Genilson Janis da Silva Santos, de 34 anos, tem dois filhos: Kauã Riquelmi, de 6 anos, e Lorenzo Gabriel, de um ano e meio. A família mora no Jardim Santa Clara, a 3km do parquinho. Sempre quando folga, Santos leva as crianças para brincar lá. “Não temos opção e o parquinho faz bem para as crianças. Seria muito bom melhorar esse espaço. Até eu quero contribuir para melhorar este local”, falou. Há 10 anos no local, Neide Souza Silva Barbosa, de 42 anos, dona de uma banca de lanches, já perdeu a conta do número de vezes que socorreu criança que se feriu nos brinquedos danificados do parque. No local, segundo ela, havia dois escorregadores e um deles provocou vários acidentes. “Teve um menino de uns 3 anos que quebrou a costela após cair do brinquedo que estava bambo. Uma menina de uns 4 anos que rasgou a pele perto do olho. Esses brinquedos estão muito perigosos. Sem contar que sem a grade de proteção, uma criança pode correr para a rua, que é movimentada”, falou. Fiscal Cansado de presenciar incidentes e também comovido com o estado do parquinho, Messias dos Santos Felix, de 36 anos, se tornou o fiscal voluntário do local. É ele que promove pequenos consertos, por conta própria. "Fico com dó das crianças. Outro dia, havia um buraco grande na área onde as crianças brincam. Eu vim e acertei a terra. Os parafusos do mirante estavam soltos, fui lá e apertei. Enfim, o que tiver fora de ordem, na medida do possível, procuro arrumar", disse. O Departamento de Parques e Jardins garante que faz manutenção regularmente das praças da cidade e tem uma equipe específica de cuidados de parquinhos. Porém, não são raros os casos de vandalismo em que se torna necessária a troca ou a manutenção de peças. O DPJ enviou técnicos ao local e disse que a partir da próxima semana fará o reparo na escada da pista de skate e também a compra da grade do parquinho. "A Guarda Municipal realiza rotineiramente patrulhamento pela região com atenção especial para a Praça da Concórdia, centro do Campo Grande", frisou em nota.