9 DE JULHO

A Revolução de 32 que incandesceu a alma paulista

A Revolução Constitucionalista de 1932 foi esmagada pela ditadura de Vargas

Luiz Saviani Rey
09/07/2022 às 10:32.
Atualizado em 09/07/2022 às 10:52
A liderança da Revolução de 32, assumida por intelectuais, ensejou aos cafeicultores atingidos pela quebra da Bolsa a insuflar e a financiar o movimento, incentivando o conveencimento da juventude ao alistamento (Reprodução)

A liderança da Revolução de 32, assumida por intelectuais, ensejou aos cafeicultores atingidos pela quebra da Bolsa a insuflar e a financiar o movimento, incentivando o conveencimento da juventude ao alistamento (Reprodução)

A Revolução Constitucionalista de 1932, que motivou a população do Estado de São Paulo a pegar em armas, a partir de 9 de julho - em uma ação de guerra efetiva contra o poder central, caracterizado pelo governo provisório e discricionário do gaúcho Getúlio Vargas -, fora provocada por outra revolução.

Eclodida dois anos antes, quando Getúlio, após perder as eleições presidenciais de março de 1930 para o paulista Júlio Prestes, foi transformado em líder civil de uma revolução militar, a Revolução de 1930. Ela foi marcada pela usurpação do poder e por um governo provisório, que passou a humilhar os paulistas, em especial as lideranças cafeeiras, que experimentavam os efeitos da quebra da Bolsa de Nova Yorque e a consequente Grande Depressão dela decorrente.

Para o escritor Antonio de Pádua Bafero, a liderança da Revolução de 32, assumida por intelectuais, ensejou aos cafeicultores atingidos pela quebra da Bolsa a insuflar e a financiar o movimento, incentivando o conveencimento da juventude ao alistamento. 

A campanha eleitoral daquele ano resultara na vitória de Prestes, do Partido Republicano – com pouco mais de um milhão de votos, contra 742 mil atribuídos a Getúlo, da Aliança Nacional. Somente em São Paulo, Prestes levara 91% dos votos válidos. Sua candidatura fora resultante da quebra do acordo chamado “Café com Leite”, pelo qual um paulista seria sucedido por um mineiro no Palácio do Catete. O presidente Washington Luiz, paulista, decidira lançar Prestes, também paulista.

O rompimento do acordo e o desejo dos gaúchos de fazer valer sua voz nos cenários nacionais levaram a Aliança Nacional a um levante. Foi então que um trem militar partiu do Rio Grande do Sul, levando Vargas e altas patentes das Forças Armadas, chegando ao Rio de Janeiro, onde ele, simbolicamente, amarrou as rédeas do cavalo no monumento chamado Obelisco, e, colocando Washington Luiz e e seu candidato vitorioso no exílio. tornou-se líder da Nação.

Getúlio passa a governar por meio de decretos e a massacrar os paulistas com medidas amargas, como a nomeação o tenente João Alberto Lins de Barros, inimigo dos cafeicultores, para inteventor de Sâo Paulo. Era o fim da supremacia política do estado e da sucessão entre paulistas e mineiros. Além da série de interventores “estrangeiros” para governar São Paulo, Getúlio impusera e entregara o comando da 2<SC210,170> Região Militar (SP) ao general Isidoro Dias Lopes, outro inimigo dos fazendeiros por sua destacada atuação na Revolta Paulista de 1924.

As fazendas cafeeiras, em especial as da região de Campinas, onde o republicanismo brotara e substituíra o regime monárquico 40 anos antes, abalaram-se.

Um rastilho de pólvora correu entre as hostes republicanas. Um levante contra dois anos de ditadura disfarçada. Os partidos Republicano de São Paulo e o Democrático, uniram-se na reação aos provisórios, realizando várias passeatas e comícios pacíficos, com enormes multidões em fevereiro de 1932. Advogados, intecelectuais, poetas, literatas, povo juntam forças e aderem a um movimento em embrião.

O auge do movimento de protestos é o dia 23 de maio (como relatado no texto da página 6), com as mortes de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Precipitadas pelas mortes e com a consolidação do MMDC, as operações de guerra começam a ser montadas de forma acelerada nos dias subsequentes. Inicialmente, o MMDC fora instalado na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Depois, transferido para o Fórum, na rua do Tesouro. E depois, ainda, para o prédio da Escola de Comércio Álvares Penteado. 

Rapidamente, ocorreram as adesões de entidades, agricultores e comerciantes. A Associação Comercial e Industrial lançou a campanha “Dê ouro para o bem de São Paulo”. A adesão das mulheres levara à larga confecção de uniformes e cartazes passaram a convocar os jovens a se alistarem. No início de julho, São Paulo já estava em guerra contra Getúlio. Lançados os postos de alistamento, 70 mil voluntários inscreveram-se somente nas 72 primeiras horas. Mais de 200 mil estavam apostos nas vésperas.

Na noite de 9 de julho, paramentados e armados, os revolucionários receberam voz de comando e saíram de suas tocas para atacar as unidades militares da capital de São Paulo. A data prevista era o 14 de julho, na comemoraçã da Revolução Francesa. Porém, o general Bertoldo Klinger, comandante militar do Mato Grosso, se precipitou em levar reforços a São Paulo e foi destituído, enfraquecendo o movimento.

O comando das operações fora passado ao coronel Euclydes Figueiredo (pai do presidente João Batista Figueiredo). São Paulo aguardava a adesão de estados como Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso. São Paulo ficou só e contou com o apoio do general Klinger

Seguiram-se 81 dias de combates centrados na divisa entre São Paulo e o Rio de Janeiro, onde se deram os combates mais violentos, ao Sul da capital paulista e na região de Itapira e Socorro, onde foi travada a encarniçada Batalha de Eleutério (divisa de São Paulo e Minas). Nesse episódio, Campinas contou com dois mil voluntários que resistiram bravamente ao massacre dos soldados provisórios.

Em 1º de outubro, enfraquecidos e em menor número, contabilizando 674 voluntários mortos em combate, os paulistas capitularam.

Apesar da derrota, consideram-se vitoriosos, pois Getúlio convocou Assembléia Constituinte em 1934, aprovando uma nova Constituição e a nomeação de interventores de origem paulista. Atualmente, o 9 de julho é a data cívica mais importante do Estado de São Paulo.

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