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A primeira praça pública de Campinas

Qualquer pessoa que mora em Campinas já visitou ou ao menos ouvir falar da praça do Centro de Convivência, no coração do bairro Cambuí

Francisco Lima Neto
03/05/2020 às 10:04.
Atualizado em 29/03/2022 às 13:04

Qualquer pessoa que mora em Campinas já visitou ou ao menos ouvir falar da praça do Centro de Convivência, no coração do bairro Cambuí, com sua tradicional feira hippie aos finais de semana. Porém, para entender como aquele espaço nasceu e foi se transformando com o passar dos anos, é preciso voltar no tempo. Na primeira metade do Século XIX, a Câmara Municipal passou a planejar a criação de um jardim botânico no Município, nos moldes do que existe na cidade do Rio de Janeiro. O local seria dedicado às pesquisas botânicas aplicadas à agricultura. O lugar destinado ao projeto foi demarcado como Largo Municipal. Porém, o projeto não prosperou.  Anos mais tarde, surgiu o Passeio Público de Campinas. No início, havia a possibilidade de ele ser construído em uma área chamada Largo do Mercado, onde hoje é o Jardim Carlos Gomes. Contudo, o Largo Municipal acabou por ser escolhido por causa da mobilização de grupos políticos entre os moradores do Bairro Cambuizal ou dos Cambuys, região onde antes se concentravam fazendas, sítios e os chamados cortiços, remanescentes de antigos quilombos. A região sofria profundas transformações e passava a ser considerada uma área nobre para residências.  Em 1876 começou a construção do Passeio Público. Para isso, os fazendeiros cederam escravos para que trabalhassem na preparação do terreno. A ideia era que a área fosse um lugar onde os moradores e visitantes pudessem ter bem-estar, contato com a natureza e um ambiente saudável. A inspiração foi o Passeio Público do Rio de Janeiro. A construção durou sete anos, terminando em 1883. Tinha grades, portões de ferro, lago artificial, um quiosque e um coreto de ferro, além de gruta com cascata. Os moradores abraçaram o espaço e o usavam para concertos, reuniões, encontros e passeios. Assim nasceu o primeiro logradouro público da cidade. Outro marco importante ocorreu em 19 de agosto de 1889. Nesta data, por proposição do vereador Oto Langaard, o nome da praça mudou de Passeio Público para Praça Imprensa Fluminense. Isso se deveu ao papel importante da imprensa do Rio de Janeiro, capital do País à época, no socorro à Campinas, que quase foi dizimada naquele ano por conta da febre amarela. Conforme Jorge Alves de Lima narra em seu livro O Ovo da Serpente, os jornalistas da então capital, horrorizados com o que acontecia por aqui, promoveram concerto musical, fizeram vaquinhas com os comerciantes e enviaram dinheiro, medicamentos, médicos, farmacêuticos, enfermeiros e ambulâncias para cá. "A imprensa fluminense supriu, e muito, a inércia política administrativa da época", traz trecho do livro. Mudanças No século seguinte, em 1940, a Administração criou escolas, chamadas Parques Infantis, que deveriam estar integradas à comunidade local. No dia 2 de janeiro de 1940, a primeira dessas escolas foi inaugurada na Praça Imprensa Fluminense. Tinha até piscina para as crianças. Contudo, entre os anos de 1963 e 1965, essa escola foi transferida para o bairro Vila Rica. Vale lembrar que no início do século passado, a região do Cambuí passou por transformações profundas com a abertura de ruas e avenidas. Novas casas e prédios reurbanizaram a área, deslocando para a periferia as moradias populares. Até então, a praça sempre se manteve bastante arborizada, inclusive com exemplares vindos do Rio de Janeiro, quando da sua criação. Centro de Convivência As obras do Centro de Convivência começaram em 1967. Foram interrompidas pouco depois e só retomadas em 1974. O projeto arquitetônico foi desenvolvido pelo arquiteto campineiro Fábio Penteado em 1967, a partir de outros dois projetos dele que concorreram em concursos nos dois anos anteriores, um em Campinas mesmo (“Teatro de Ópera”) e outro em Goiânia (“Monumento à Fundação de Goiânia”). A junção dos dois projetos, com o aumento da escala da praça multiuso no projeto goianiense e as finalidades do projeto campineiro, deu origem à obra.  No dia 9 de setembro de 1976, exatos 100 anos depois do início da construção do Passeio Público, foi inaugurado na praça o Centro de Convivência Cultural. Sua construção foi muito comemorada e preenchia um pouco do vazio deixado na cidade pela demolição do Teatro Municipal Carlos Gomes, ocorrida em 1965. O Centro de Convivência possui quatro edifícios em cruz, dos quais as partes superiores são arquibancadas para o Teatro de Arena. Há uma sala de espetáculos e espaços para exposições de arte e galerias. Em 2004, a praça Imprensa Fluminense foi reurbanizada com a retirada do estacionamento e a troca do piso. Espaço cultural está fechado desde 2011 O Centro de Convivência está fechado desde 2011 por conta de problemas estruturais, como infiltrações, fissuras, sistema elétrico aparente, entre outros problemas que poderiam colocar os frequentadores em risco. Após idas e vindas, uma licitação foi aberta para as obras de revitalização. O custo da primeira fase de obras é de R$ 22,3 milhões, que correspondem a 54,2% do valor estimado para o total da obra, que é de R$ 41,4 milhões. Por enquanto, a Prefeitura tem R$ 19,1 milhões garantidos por meio de um convênio com o governo do Estado, assinado em novembro de 2019. A Administração tentará obter a diferença junto ao Estado ou por empréstimo. Enfim, há muita expectativa para que o espaço cultural volte logo a ser usado para àquilo que foi projetado. O Convivência foi palco de estreia nacional de inúmeros espetáculos grandiosos. Já são nove anos fechado e há toda uma geração de campineiros que nunca pôde conhecer o seu interior. O anseio é por mudança dessa realidade.

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