CULTURA

A pluralidade em forma de feira

Afro Mix chega hoje a sua 19ª edição cumprindo o objetivo inicial de abraçar a diversidade

Francisco Lima Neto
26/05/2019 às 09:56.
Atualizado em 03/04/2022 às 09:30

A pluralidade está representada na Feira Cultural Afro Mix. O evento, que completa 15 anos em novembro e chega hoje a sua 19ª edição, nasceu da vontade de se sentir representado e abraçar a profusão. Os objetivos foram ao encontro das necessidades e a reunião virou sucesso de público. A feira nasceu a partir da imaginação de Marcos Ferreira, idealizador e coordenador geral. "Começou com um sonho que eu tive. Eu via um local de escambo. Era como uma grande senzala", conta. No dia seguinte, Ferreira, ansioso, contou para a amiga Ilcéi Miriam sobre a visão da noite anterior. "Para minha surpresa ela me disse que eu estava descrevendo a Feira Preta, que já existia havia um ano em São Paulo", lembra. Os dois se juntaram a outras seis pessoas e começaram a pensar sobre o tema e trabalhar no desenvolvimento de algo na mesma linha para Campinas. O foco principal era o resgate da autoestima da população negra e colocá-la em evidência, em primeiro plano, e não mais marginalizada. "Eu descia a Rua Treze de Maio, por exemplo, e não via as nossas roupas, não via as nossas caras nos produtos, não me sentia representado, e isso mexia comigo. Apesar que até hoje a gente não se vê", explica. Mas a concepção da feira não seria tão fácil ou simples. O grupo formado por oito pessoas se desfez, restando apenas Ferreira, Ilcéi, e Wanda Pires, que se mantêm até hoje na realização do encontro. Os desafios não os desanimaram. A vontade de difundir a cultura afro-brasileira, integrar os diversos grupos étnicos presentes na nossa sociedade, motivaram o trio a continuar. Em novembro de 2004, a feira aconteceu pela primeira vez, no Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas, na Vila Industrial. Essa primeira edição aconteceu em dois dias no final de semana, e atraiu cerca de 500 pessoas no total. No segundo ano, na Vila Iapi, na região da Vila Teixeira, contou com público de cerca de 1.500 pessoas. No ano seguinte foi realizada no Clube Machadinho, na Vila Industrial. "Foi bastante emblemático porque esse clube é de uma época em que as pessoas negras não podiam entrar nos clubes da cidade. Não eram aceitas", conta. De lá para cá, foram duas edições em 2007 e outras duas em 2008. De 2009 a 2015, houve apenas uma edição por ano, e duas edições por ano desde 2016. O evento está abrigado na Estação Cultura desde 2007, e atraiu cerca de 18 mil pessoas nas duas edições do ano passado. "A quantidade de pessoas mudou, aumentou bastante. Cresceu muito o público jovem e de crianças. Acabou se tornando uma feira familiar. Tem pessoas que se conheceram na feira e se casaram", diverte-se Ferreira. A feira valoriza a memória cultural afro-brasileira e conta com uma programação com música ao vivo, destacando o samba, o jongo e o samba-rock, a exposição de produtos, comidas, bebidas, desfiles, artesanato, capoeira, dança, tratamentos de belza, literatura e a entrega do Troféu Afro Mix às pessoas de todas as etnias que trabalham contra a discriminação. "Nós temos esse enfoque educacional sobre a nossa cultura. A gente faz questão de que tenha a literatura africana, tem outras também, mas as principais são as africanas. A praça de alimentação tem comidas africanas, de vários países daquele continente, além das outras comidas comuns, como pastel", reforça o idealizador. Região A Feira Cultural Afro Mix se tornou referência não só para a população do Município, como também para a Região Metropolitana de Campinas (RMC), como um evento de negócios, troca de informações e difusão da cultura afro-brasileira. Por conta disso, a coordenação do evento encarou o desafio de realizar duas edições por ano para movimentar este mercado específico, tendo grande sucesso e aceitação, apesar das dificuldades econômicas enfrentadas pelo País. No entanto, o enfoque humano se mantém. "É justamente a nossa ideia mostrar o que já nos foi tirado da nossa cultura e inserir no contexto da cidade. Campinas teve escravo por mais 10 anos depois do fim da escravidão, e a gente ainda percebe os reflexos na cidade", complementa Ferreira. Entrada é a doação de 1kg de alimento A entrada para a feira é 1kg de alimento não perecível. Os alimentos arrecadados serão revertidos para o Instituto Padre Haroldo, Caluz e Conferência Vicentina Nossa Senhora Auxiliadora (Satélite Íris), que estarão no local. A feira tem mais de 60 expositores, sendo 12 de alimentação e o restante de bijouterias e acessórios, brinquedos, literatura africana, entre outros.

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