VALINHOS

A lição que vem do 'querer é poder'

Portador da Síndrome de Asperger, Guilherme fez da frase o seu mantra para se tornar professor

Daniel de Camargo
daniel.camargo@rac.com.br
01/12/2018 às 17:08.
Atualizado em 05/04/2022 às 22:55

No campo da psicologia, resiliência é a capacidade de o indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Essa definição pode ser empregada para traduzir a maneira com a qual Guilherme Silveira Flaquer lida com a Síndrome de Asperger (Espectro Autista). Dotado de uma incessante e inabalável vontade de vencer, o pedagogo de 31 anos, diagnosticado com o transtorno aos 11, atua como professor na rede municipal de ensino de Valinhos desde janeiro deste ano. “Eu quero. Eu posso. Eu consigo. Nunca irei desistir. Eu choro, mas sigo em frente”, afirma o docente, que diz ter como mantra o pensamento: “Querer é poder.” Marília Flaquer garante que o filho se tornou um vencedor ao nascer. “Minha gravidez foi de risco”, explica, acrescentando que sofreu inúmeros sangramentos ao longo da gestação. Hoje, a também professora colhe os frutos da batalha enfrentada desde então. “O Guilherme é meu colega de profissão e isso me dá um orgulho danado”, afirma. Contudo, Marília frisa que sua maior felicidade é ver o filho feliz e realizado por lecionar para as crianças da Escola Municipal de Educação Básica (Emeb) Professora Alice Sulli Nonta, no Jardim Jurema. Flaquer enfatiza que seu principal objetivo é concluir bem o estágio probatório, período a que se submete todo servidor público aprovado em concurso, no qual seu desempenho é avaliado de forma objetiva, a fim de examinar se ele reúne as condições mínimas de produtividade e a adequação ao ambiente de trabalho para permanência no cargo. “A longo prazo, almejo me aprimorar como professor. Para 2019, de imediato, quero tirar minha carteira nacional de habilitação (CNH)”, afirma. Ainda sobre o trabalho, o educador ressalta que no momento tem uma excelente relação com os alunos. O início, porém, foi complicado. Flaquer diz que foi difícil estabelecer um vínculo com as crianças porque elas tinham em mente outro estereótipo de professor. De acordo com o pedagogo, o convívio com ele foi o primeiro contato de muitos estudantes com um autista. “No começo, a turma esclarecia as dúvidas com um professor que me auxilia em sala de aula. Agora que todos têm confiança em mim, acontece o contrário. Mesmo que a coordenadora dê uma ordem a eles, os alunos me questionam a respeito antes de executá-la”, afirma. A nomeação, por parte da Secretaria de Educação de um professor especializado em inclusão para dar suporte a Flaquer surpreendeu positivamente sua mãe. “Ele foi acolhido na escola”, confirma Marília, destacando que o mesmo não aconteceu com o filho Marcelo, portador do mesmo transtorno do irmão. Marcelo também foi aprovado em um concurso público de outra cidade da região, porém, não assumiu o cargo. Segundo Marília, a administração do município, ao contrário de Valinhos, colocou empecilhos. Marília pontuou que Guilherme mostrou caráter, porque não tentou esconder sua condição em nenhum momento. “Na primeira reunião com os pais, ele se assumiu como autista”, disse. Anteriormente, Flaquer já havia deixado sua mãe surpresa. “Na atribuição de aula eu vi ele de longe. Meu filho virou para a supervisora e disse: ‘Eu sou autista. É a primeira vez que vou dar aula em uma escola e só tenho o período de estágio como experiência. Eu gosto mais de educação infantil e como vou vir de ônibus prefiro trabalhar à tarde, porque assim não atraso devido a morar em Campinas’”, relembra, destacando que a firmeza e segurança demonstradas pelo filho espantaram também outras pessoas próximas. Flaquer afirma que além do conteúdo específico, procura passar para as crianças sua vivência de lutas e enfrentamento de preconceitos. “Quero que eles tenham noções de respeito, amor ao próximo, união, trabalho em equipe e coleguismo”, comenta, acrescentando que a intenção é auxiliar os pais na construção de cidadãos que aceitem as diferenças. “Considero eles como se fossem meus filhos”, frisa. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Anuncie
(19) 3736-3085
comercial@rac.com.br
Fale Conosco
(19) 3772-8000
Central do Assinante
(19) 3736-3200
WhatsApp
(19) 9 9998-9902
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por