A tradicional Panificadora Orly e o Frans Café, por exemplo, não resistiram ao aumento da violência e à queda nas vendas
Fundada em 1965, a Panificadora Orly deixou de funcionar em março (Cedoc/RAC)
Os tempos de "vacas magras" e queda nas vendas já eram uma realidade antes da pandemia. Basta lembrar do fechamento de estabelecimentos importantes, como a Panificadora Orly e o Frans Café na Rua Barão de Jaguara. Na ocasião, os proprietários lamentaram o aumento da violência no Centro e a queda nas vendas. Segundo eles, não havia condições de pagamento dos tributos, encargos com funcionários e aluguel de imóveis. A Panificadora Orly, um dos estabelecimentos comerciais mais tradicionais de Campinas, fundada em 1965, comunicou oficialmente o encerramento das atividades em março, após 55 anos de atendimento na esquina das ruas Barão de Jaguara e Dr. Tomáz Alves. A Orly — cujo nome remete ao aeroporto francês de Orly, onde surgiu o famoso pãozinho na chapa — foi administrada desde 1997 pelo Grupo Giovannetti. Os proprietários alegaram, em nota, que problemas financeiros levaram ao fechamento. O local empregava aproximadamente 100 funcionários. O gerente da rede, Wagner Giovanetti, entretanto, afirmou também que outros motivos motivaram o encerramento das atividades. "A degradação do Centro de Campinas, com o crescimento de pedintes e a falta de segurança, pesou na decisão. Infelizmente, houve um aumento da violência na região e pessoas até utilizam a fachada do estabelecimento para atos libidinosos e para fazer as necessidades", comentou. Quanto à questão financeira, ele disse que o aluguel alto e o custo social elevado, com pagamento de uma carga tributária excessiva, também pesaram. A Loja da Bia, de acessórios e materiais para o lar, na esquina das ruas Dr. Thomaz Alves e Luzitana, fechou também antes da pandemia pois o valor do aluguel do imóvel estava muito alto e as vendas não cobriam as despesas. Os proprietários alegaram que a queda nas vendas em função do desemprego crescente impossibilitou a manutenção da loja. O Clube Semanal de Cultura Artística em frente a praça Carlos Gomes, que foi por muitas décadas referência para a cultura e o lazer na cidade, também encerrou suas atividades. Nas proximidades, na Rua Dr. César Bierrenbach, uma escola de informática e a Loja do Artista, umas das mais antigas da cidade, também não resistiram à crise. Na mesma rua, o escritório imobiliário São Fernando também encerrou suas atividades depois de 60 anos. A imobiliária foi responsável por muitos loteamentos de terrenos e formador de bairros importantes de Campinas. Já a Badauê Roupas, que funcionava na esquina das ruas General Osório e Irmã Serafina, deixou o Centro para se instalar no Cambuí. As justificativas para a mudança foram a queda nas vendas e a violência na região. A loja de tecidos Luzitana, que por muitas décadas esteve na rua de mesmo nome, foi outro local a deixar o comércio do Centro. Funcionária pública aposentada e moradora do Centro, Sulamita Andrade disse que é lamentável ver a situação. "Cidades como Santos tiveram o mesmo fim no Centro comercial histórico. Ficou abandonado e entregue à violência e à prostituição. O mesmo se vê na Praça da Sé em São Paulo, que transformou-se em dormitório de pessoas em situação de rua e de drogados da cracolândia" , comparou.