SEM RECURSOS

A dura rotina da crise enfrentada pela Saúde

Paciente com artrite reumatoide vive dias de espera para ser atendido no Hospital Celso Pierro

Rafaela Dias
27/11/2017 às 22:20.
Atualizado em 22/04/2022 às 18:18
Antônio Carlos Trotta Júnior, 29 anos, faz tratamento na PUCC há 15 anos: "Hoje eu estou completamente travado. Não consigo nem me levantar sozinho"r
 (Renan Fernandes/AAN)

Antônio Carlos Trotta Júnior, 29 anos, faz tratamento na PUCC há 15 anos: "Hoje eu estou completamente travado. Não consigo nem me levantar sozinho"r (Renan Fernandes/AAN)

A crise na Saúde e o corte de repasses para os hospitais de Campinas continuam afetando pacientes graves. Desde agosto, o Hospital Celso Pierro, da PUC-Campinas, teve uma diminuição de R$ 11 milhões para R$ 9 milhões no repasse mensal feito pela Prefeitura, justificada por reflexos da crise econômica. A redução complicou o caso do bacharel em direito Antônio Carlos Trotta Júnior, de 29 anos. Com fortes dores devido a um déficit de crescimento e artrite reumatoide ele mal consegue sair da cama. “Hoje eu estou completamente travado. Não consigo nem me levantar sozinho. Estou vivendo à base do Tylenol, mas a sensação é insuportável”, conta. A dificuldade no desenvolvimento começou cedo quando a mãe, Célia Benatti Trotta, de 71 anos, percebeu umas manchas no corpo do filho, que foram detectadas como paniculite, uma inflamação na pele. “Em função desse problema ele desenvolveu uma lentidão de crescimento e acabou sendo encaminhado para a Unicamp para tratamento. O hospital então identificou que o excesso de cortisona, medicação usada para conter o problema na pele, acabou impedindo o pleno desenvolvimento”, explicou a aposentada. Segundo ela, o tratamento para o crescimento não teve sucesso e Juninho, como ela o chama, foi por sugestão de um colega para a PUC-Campinas. Ao tratar o desenvolvimento, a equipe médica descobriu a artrite, causa principal das dores dele hoje. Juninho foi tratado por uma equipe multidisciplinar por 15 anos. Esse ano, ele passou por uma cirurgia de catarata precoce, consequência também do tratamento e foi diversas vezes internado. “Ele teve muitas dores no peito e chegava a desmaiar. Ainda no começo desse ano, foi internado com um sangramento e descobrimos a doença vascular do fígado, que são vários cistos ou cavidades cheias de sangue. Passei noites acordando assustada com a cama ensanguentada sem saber como socorrer meu filho”, contou. Há duas semanas, ele teve uma piora no quadro, com muitas dores articulares ficando impossibilitado de se movimentar. A última vez que Juninho procurou a PUC-Campinas foi no dia 17 de novembro quando recebeu, por escrito, a orientação de aguardar um encaixe, já que só teria consulta médica em 13 março de 2018. Até lá, ele foi orientado a procurar o pronto-socorro. Segundo a mãe, os médicos do hospital afirmaram que o atendimento foi negado pelo corte de verbas da Prefeitura. Só seriam atendidos neste momento, pacientes com Lúpus. Indignado com a situação, ele fez um vídeo no Youtube pedindo ajuda da sociedade. O material foi compartilhado e visto por centenas de pessoas mobilizadas a ajudar o caso. “Precisamos deixar claro que não estamos criticando a PUC que, por anos, nos atendeu com muita excelência e respeito. Estamos reivindicando somente que o Juninho continue sendo atendido por essa mesma equipe. Uma ida no pronto-socorro não resolve um caso tão complexo como o dele. Estamos cientes de que existe uma crise na saúde, mas só entendemos sua complexidade quando nos envolve. É muito grave”, criticou a mãe. “Me sinto abandonado e estou me automedicando. Não posso esperar mais”, disse Juninho. “Eles chegaram a procurar um posto de saúde, mas sem sucesso, já que ele deveria passar por todo o processo novamente.” Definições Procurada pelo Correio, a Secretaria de Saúde informou que está em contato com a PUC para buscar uma solução para o caso. De acordo com a pasta, o convênio permite o atendimento. Além disso, esta semana enviará uma equipe do SAD (Serviço de Atendimento Domiciliar) à casa do paciente para fazer o acolhimento necessário. Já o Celso Pierro informou que o paciente citado, que estava agendado somente para março, teve consulta antecipada para esta semana devido à uma desistência. Todas as soluções foram definidas após a denúncia do jovem. “Espero dar continuidade ao tratamento. Não é justo viver nessa situação. Não estou pedindo favor, estou reivindicando o meu direito”, comentou.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por