Dado é de sondagem divulgada pelo Ciesp-Campinas; 22% dos consultados disseram que já utilizam a tecnologia
Uma indústria de medicamentos anunciou investimentos de R$ 120 milhões até 2024 em, entre outras coisas, tecnologia digital; inteligência artificial vai ajudar a melhorar o controle da qualidade e o nível de produtividade (Divulgação)
As indústrias da região de Campinas investem em tecnologia para desenvolver novos produtos, aprimorar a fabricação, reduzir custos e preços de seus produtos para se manterem competitivas no mercado. O uso da inteligência artificial (IA) para atingir esses objetivos está no radar de 79% das empresas, apontou a sondagem industrial mensal divulgada na terça-feira (22) pela Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciep) Regional Campinas. Desse total, 22% já utilizam essa tecnologia, 22% projetam a utilização nos próximos meses ou anos e 35% sabem da necessidade de sua adoção, embora não tenham projeto para uso nesse momento.
Apenas 21% dos entrevistados disseram não ter a necessidade de aplicação da IA. Para o diretor do Departamento de Comércio Exterior da entidade, Anselmo Riso, essa parcela é formada por pequenas empresas, muitas com produção artesanal, que não têm perfil que exija a aplicação de tecnologia.
De acordo com o primeiro vice-diretor do Ciesp-Campinas, Valmir Caldana, a inteligência artificial é usada principalmente para a implantação de novos modelos de produção, reduzindo os erros cometidos e evitando o desperdício de matéria-prima.
O uso de tecnologia é uma preocupação da indústria de ponta e moderna, envolvendo setores que são fortes na região, como o automobilístico, alimentação, farmacêutica, equipamentos e peças. A sondagem mostra que 50% das empresas investem em pesquisas e desenvolvimento (P&D), das quais 21% o fazem regularmente e 29% de acordo com as necessidades. O levantamento ainda mostra que 7% dos entrevistados apontaram falta de profissionais qualificados para essa área e 14% falaram da falta de linhas de crédito específicas para aplicar nesse campo.
PRIMORDIAL
Uma indústria de medicamentos da região, com unidades em Hortolândia e Jaguariúna, investirá R$ 120 milhões até 2024 em tecnologia digital, treinamento de funcionários, governança digital e roadmap estratégico, uma espécie de mapa para guiar equipes ao longo de um projeto. “O Departamento de TI [Tecnologia da Informação] é uma área vital para o futuro dos negócios da companhia e, por isso, criamos um novo setor com equipes multidisciplinares”, disse o vice-presidente da companhia, Marcus Sanchez.
A empresa é líder nacional na área farmacêutica, com linhas de produtos para praticamente todas as áreas da medicina, como de prescrição médica, genéricos, medicamentos de marca e hospitalares. Com 5 mil funcionários, ela tem um Centro de P&D em Hortolândia, onde a embalagem de medicamentos sólidos é totalmente robotizada.
A indústria tem unidades fabris ainda em Manaus (AM), Brasília (DF) e na Sérvia – algo que faz parte de sua estratégia de internacionalização. A empresa exporta para 55 países e faturou R$ 7,2 bilhões em 2022.
“A robótica, machine learning, big data e inteligência artificial vão melhorar o controle da qualidade e o nível de produtividade. A digitalização dos processos, com assinaturas eletrônicas e melhor gestão do ciclo de vida dos contratos, irá colaborar com o processo de compras, vendas e contratações”, explicou Sanchez.
Sondagem industrial também mostrou crescimento do número de empresas que reduziram volume de produção; Ciesp-Campinas defende queda da taxa de juros, aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária para criar ambiente favorável ao empresariado (Alessandro Torres)
Machine learning é um subcampo da engenharia e da ciência da computação que permite aprimorar os processos de produção a partir do estudo de reconhecimento de padrões e da teoria do aprendizado computacional - com base na inteligência artificial. Nos últimos dois anos, a empresa economizou R$ 600 mil com custos durante o processo seletivo. Ela também usa a tecnologia para se antecipar às tendências do setor. Os investimentos levarão ao “gerenciamento ágil de dados sobre farmácias, hospitais, médicos e parceiros. Isso permitirá conhecer mais sobre a demanda e as inovações que deverão movimentar o mercado”, acrescentou o executivo.
DESEMPENHO
A sondagem industrial mostrou ainda que “as empresas da região estão em compasso de espera”, avaliou o primeiro vice-diretor do Ciesp-Campinas. Ele explicou que esse comportamento está presente nos indicadores da pesquisa, que alternam dados positivos e negativos. Eles mostram aumento no número de empresas que reduziram o volume de produção, que passou de 22% dos entrevistados em junho para 36% em agosto.
A elevação é resultado da queda de 64% para 50% das indústrias que disseram que a produção permaneceu estável. A participação dos integrantes da sondagem que registram aumento na produção se manteve em 14%.
A pesquisa ainda mostra que passou de 7% para 29% o número de indústrias que têm nível da capacidade produtiva entre 0 e 50%, enquanto que caiu de 43% para 14% as que utilizam de 50,1% e 70%. Caldana citou como pontos positivos que 93% das empresas disseram ter mantido o número de funcionários, 86% registraram queda na inadimplência, 79% mantiveram o nível de endividamento e 59% registraram manutenção dos custos das matérias-primas, componentes ou peças.
Para o primeiro vice-diretor do Ciesp-Campinas, é preciso haver maior queda da taxa de juros e aprovação final do arcabouço fiscal e da reforma tributária para criar um ambiente favorável que permita ao empresariado vislumbrar um cenário positivo de longo prazo, de, pelo menos, três a cinco anos, para mudar a percepção atual de estagnação do mercado. “É preciso que os juros fiquem abaixo dos dois dígitos para que a gente possa colaborar para o crescimento do país”, afirmou Caldana.
Uma indústria metalúrgica de Campinas reduziu de janeiro até agora em 76,67% a importação de insumos para produção e o número de funcionários em 41%, caindo de 50 para 29 colaboradores, em virtude da queda nas encomendas. A empresa produz máquinas personalizadas para indústrias e considera que o atual quadro reflete o momento difícil do setor, uma vez que é interligado. Com isso, o desempenho ruim de quem atua diretamente como fornecedor do comércio afeta toda a cadeia.
A metalúrgica suspendeu os investimentos planejados e desde 2020, com o início da pandemia de covid-19, parou com as exportações. A queda na atividade industrial da região apareceu também na pesquisa mensal da balança comercial realizada pelo Observatório PUC-Campinas. As importações das empresas da Região Metropolitana de Campinas (RMC) em julho foram de US$ 1,24 bilhão (R$ 6,11 bilhões), queda de 30,21% em relação ao US$ 1,79 bilhão (R$ 8,83 bilhões) de igual mês do ano passado.
“O contexto de tendência de redução das importações pode ter base na queda dos principais produtos importados pela RMC, mas também pode indicar desaceleração no ritmo da produção industrial”, disse o responsável pelo estudo, o economista Paulo Ricardo da Silva Oliveira. Ele explicou que as muitas indústrias da região dependem de insumos importados para a produção.
Para o primeiro vice-diretor do Ciesp-Campinas, a reforma tributária em tramitação no Senado deve resultar em um modelo mais simples e equilibrado que beneficie os setores produtos. Nessa linha, ele considera que os senadores estão no caminho certo ao abrirem espaço para ouvir as sugestões das indústrias, comércio, prestadores de serviço e prefeituras, que estão diretamente envolvidas com a questão.