Quase 4 a cada cinco inscritos são moradores do Estado do Amazonas
Unicamp (Divulgação)
Quase 3,5 mil indígenas se inscreveram para a segunda edição unificada do Vestibular Indígena Unicamp UFSCar 2023, que será realizado no dia 22 de janeiro. Foram 3.480, um crescimento de 24% em relação ao de 2022, quando 2.805 candidatos se inscreveram. Quase quatro a cada cinco inscritos são moradores do estado do Amazonas, 79,7%. Os inscritos vão disputar 260 vagas oferecidas aos indígenas que estudaram em escola pública, 130 em cada universidade. É a quinta edição que a Unicamp oferece essa modalidade de ingressos aos estudantes indígenas e a 16ª na UFSCar.
A prova será aplicada em seis cidades, sendo que a única no Estado de São Paulo é Campinas e metade está no Amazonas. Os municípios de Dourados (MS), Recife (PE), Manaus (AM), Tabatinga (AM) e São Gabriel da Cachoeira (AM) terão um local para os estudantes realizarem o vestibular. O número mínimo de inscritos - 55 - não foi atingido em Bauru (SP), portanto os candidatos que selecionaram a cidade deverão realizar a prova em Campinas.
Tabatinga, com 1.167 candidatos, e São Gabriel da Cachoeira, com 1.116, são as cidades com maior número de inscritos. Entre os indígenas, diversas etnias se destacam, mas o destaque é Ticuna. São 28% de todos os inscritos dessa etnia. Baré, com 17%, e Tukano, 7%, também aparecem com um número considerável. Ainda há inscritos das etnias Kokama, Atikum, Pankararu, entre outras. A maior procura dos estudantes é por cursos na área de saúde e ciências biológicas.
O diretor da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), José Alves de Freitas Neto, explicou que a abstenção no vestibular costuma ser alta por conta do deslocamento necessário para que os candidatos cheguem ao local de realização de prova. "É um desafio imenso, do ponto de vista da logística, fazer chegar a lugares fronteiriços como São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga, mas ao mesmo tempo é onde nós localizamos e encontramos os candidatos. A abstenção seria muito maior se os candidatos tivessem que se deslocar até grandes polos. Fazer o vestibular indígena é uma estratégia de política de inclusão. É uma política de ação afirmativa e, nesse sentido, vale a pena ir até onde os candidatos estão. Nós acreditamos que todo o empenho e trabalho realizados nos últimos anos têm justificado o investimento e o esforço."
Ele ainda citou que o direito à educação é constitucional e que a política de inclusão beneficia não apenas os contemplados por ela, mas a própria Unicamp. "É cada vez mais vísivel a presença dos estudantes indígenas na universidade. Temos visto alguns deles se destacando nas artes, engenharias, em diversas áreas de conhecimento existentes na Unicamp. Nós também estamos aprendendo com a experiência de ter os estudantes indígenas aqui dento da universidade."
Na Unicamp, os cursos mais procurados para o vestibular indígena foram Medicina, Enfermagem, Odontologia, Farmácia e Nutrição. Na UFSCar, Medicina, Enfermagem, Psicologia e Fisioterapia. A prova é pensada de maneira diferente dos demais vestibulares, com o intuito de unir as exigências da universidade e a experiência educacional dos estudantes indígenas.
"A população indígena tradicionalmente foi deixada de fora porque a disputa dentro de um vestibular tradicional não favorece os estudantes indígenas. Sabemos das disparidades educacionais, das diferenças, e a prova se adapta ao perfil de estudantes indígenas. Cobramos leitura, compreensão, contextualização, raciocínio lógico e, obviamente, informações e conhecimentos básicos em todas as áreas de conhecimento que são importantes para o acesso à universidade."
Os candidatos deverão entregar no dia da prova a documentação especificada no Edital para comprovar que pertencem a uma das etnias indígenas do território brasileiro. Estudantes indígenas ingressantes pelo Vestibular Unicamp edições de 2019, 2020, 2021 ou 2022 devidamente matriculados estão dispensados de apresentação da documentação.
A Comvest irá divulgar a primeira chamada do Vestibular Indígena no dia 13 de fevereiro de 2023. Haverá até cinco chamadas para matrícula online e as datas estão no calendário, no site da Comissão.
Cerca de 75 mil estudantes indígenas frequentam o ensino superior do país. Em 2007, eram 7 mil. Na Unicamp, são 387, sendo que em 2017 eram 66 (entre graduandos e pósgraduandos). No final de julho a universidade recebeu mais de dois mil estudantes, ativistas e artistas que transformaram o campus da Unicamp em um espaço de vivência e harmonia nas relações entre indígenas e não indígenas, promovendo uma aproximação entre esses dois segmentos. Foi um festival de cores, cantos e demais elementos da cultura indígena, amplificados em debates, oficinas, simpósios temáticos e atividades culturais, sob o tema "Ancestralidade e contemporaneidade".