ALERTA

13% de Campinas sofrem de Doença Renal Crônica

Índice preocupa porque enfermidade pode evoluir para insuficiência renal terminal (necessitando de hemodiálise) e de transplante para que paciente sobreviva

Raquel Valli
11/06/2016 às 17:08.
Atualizado em 23/04/2022 às 00:02
Simone recebe atendimento médico do nefrologista José Marcelo Morelli (Raquel Valli )

Simone recebe atendimento médico do nefrologista José Marcelo Morelli (Raquel Valli )

Cerca de 13% da população de Campinas sofrem de Doença Renal Crônica - o equivalente a 156 mil pessoas (a cidade tem 1,2 milhão de habitantes). O índice preocupa porque a enfermidade pode evoluir para insuficiência renal terminal (necessitando de hemodiálise), e, transplante renal para que o paciente possa sobreviver. Além disso, a enfermidade é silenciosa, e inexoravelmente progressiva se não tratada. Dados do Sistema Único de Saúde confirmam que 70% dos que iniciam a hemodialise nem sabiam que estavam doentes. Só descobrem em estágios já avançados. Outra agravante é que não existe nenhum remédio miraculoso que faça o rim melhorar. E não há um remédio que reverta a insuficiência renal. O que existe é uma gama de ações para frear a doença: remédios para pressão, diabetes e inflamações (cálculo renal, infecção de urina), combinados com dieta e exercícios físicos. O alerta é do Instituto do Rim e Hipertensão de Campinas, entidade beneficente que faz campanhas preventivas e que colocou Campinas no mapa mundial das melhores práticas sobre a doença. A entidade integra o DOPPS - estudos desenvolvidos em 20 países, encabeçados pela Universidade de Michigan (EUA), que ajudam os pesquisadores a desenvolverem as melhores técnicas sobre a Doença Renal Crônica. Devido aos fatores que englobam a doença, “a prevenção é o melhor remédio”, ensina o nefrologista José Marcelo Morelli, diretor do instituto, da Clínica Humânitas e coordenador do serviço de nefrologia do Hospital Vera Cruz. Quando a doença renal crônica atinge o nível mais avançado (o estagio 5), é preciso fazer hemodiálise (procedimento em que uma máquina limpa e filtra o sangue, fazendo o trabalho que o órgão doente não tem mais como fazer). Esse é o caso da contadora Simone Regina Pires, de 48 anos, que faz sessões de 3 horas de duração cada (4 até no máximo), 6 vezes por semana, na Clinica Humânitas. O tratamento já dura 11 anos, e é o que a mantém viva. Simone precisa de transplante. Está há 3 anos na fila do Hospital do Rim, em São Paulo – onde mais se faz esse tipo de transplante no mundo. Apesar de ser crescente o número de cirurgias, ainda faltam muitos doadores para suprir a demanda. “Creio que falta um pouco de consciência por parte das pessoas, porque a doação de órgãos não salva uma vida, mas muitas”, lamenta. “Espero que mais e mais gente se conscientize da importância desse gesto”, diz a contadora, referindo-se à questão de sobrevivência. Doação de órgãos Há duas possibilidades de doação de órgãos: em vida e pós-morte. Em vida só é possível sendo da família. No caso de terceiros (que se interessem em doar), é preciso de uma autorização de juiz para que o procedimento possa ser realizado. Já na pós-morte (encefálica), é preciso de autorização da família do falecido. Por isso, é importante que em vida o interessado em doar os próprios órgãos informe aos familiares sobre a decisão. "Devido ao avanço da medicina e a testes minuciosos de compatibilidade genética, transplantes de rim que não dão certo hoje são exceção. Na maior parte dos casos, são bem sucedidos. Se no primeiro ano após o transplante o paciente apresentar boas taxas de creatinina (exame que mede o funcionamento dos rins), a sobrevida desses órgãos é de 20 a 30 anos", afirma dr. Morelli. Simone luta contra o diabetes tipo 1, que já a fez perder uma perna. Toma insulina desde os 13 anos. Devido à perda de fístulas (veias por onde é feita a hemodiálise), usa um cateter no peito, que, por ser um corpo estranho, é um incômodo. Mas, apesar de todas as dificuldades, "ela é uma guerreira" , lembra o médico. Mesmo em uma cadeira de rodas, é protetora de animais. Cuida em casa de 12 cães resgatados de maus-tratos, e mantém mais dois, que ela resgatou, em lares temporários. Entre eles, o cãozinho Chico, resgatado há 6 meses no Satélite Íris, sendo comido por bicheiras. "Eu não conseguia dormir pensando nele. Então, fui lá, e, mesmo na cadeira de rodas, eu o resgatei" , lembra. Hoje, Chico está bem, mas ainda procura um adotante. Além da doação de rim, a questão que mais a aflige atualmente é quem cuidará dos animais se ela morrer. "Minha família não tem como cuidar deles. Moro com minha mãe, já idosa". Assistencial O Instituto do Rim e Hipertensão de Campinas é uma entidade filantrópica promovida pela clínica Humânitas. Oferece diálise, transporte, medicações, vacinas , entre outros auxílios. Além de tratamento, foca na prevenção das doenças renais, organizando eventos em espaços públicos, fazendo com que muitos pacientes, que nem sabiam estar enfermos, ficassem sabendo da doença, podendo assim tratá-la. Foto: Raquel Valli O nefrologista José Marcelo Morelli, diretor do instituto, da Clínica Humânitas e coordenador do serviço de nefrologia do Hospital Vera Cruz Todos os anos, a entidade faz uma campanha, em março, em tendas no Largo do Rosário, oferecendo exames laboratoriais que apontam para a doença renal. Este ano, a campanha foi realizada também na região do Campo Grande. O enfoque foram as crianças, com o seguinte tema: 'prevenção de doença renal começa na infância'. O instituto existe há 11 anos. Em 2015, foi constituído como entidade de utilidade pública municipal, pela Prefeitura. Vive de doações, e tem apoio da Sociedade Brasileira de Nefrologia e da Fundação Roberto Rocha Brito.

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