Será a primeira de uma série de provas para as universidades de SP; recomendação é controlar ansiedade e confiar no aprendizado adquirido
Para equilibrar o desejo de entrar na universidade com a saúde mental, é importante evitar uma auto cobrança exacerbada e encarar o momento como parte de um processo longo de aprendizagem; para o estudo ‘em cima da hora’, o ideal é revisar conteúdos que costumam cair nas provas (Divulgação)
Neste domingo, dia 29, terá início a primeira fase de um dos maiores vestibulares do País, o da Universidade de Campinas (Unicamp). Para os estudantes, a data representa a inauguração de uma maratona de vestibulares públicos, como a Fuvest e Unesp, porta de entrada outras universidades do Estado de São Paulo (USP e a própria Unesp, respectivamente). Compondo a agenda de avaliações, há também o Enem e o Provão Paulista.
Por significarem um momento diferenciado na vida dos estudantes, que nesta época da vida estão escolhendo suas carreiras, os vestibulares são geradores de ansiedade, o que pode atrapalhar o cognitivo. A psicóloga Stefannia Domingues Pires lembra que as avaliações estão vinculadas à ansiedade, uma condição que desencadeia o estresse. Por isso, para enfrentar as provas de maneira saudável, aliviando o stress e ampliando as chances de conquistar um bom resultado, Stefannia sugere que os vestibulandos enfrentem este momento não como um único dia na vida, mas como um processo de aprendizagem em um percurso de vida.
“O foco do vestibulando tem de ser no percurso de aprendizagem, confiando em tudo o que aprendeu até o dia do vestibular.”
Ainda segundo Stefannia, o foco no processo de aprendizagem evitará que o estudante encare as provas como tudo ou nada ou como perder ou ganhar. “O vestibular deve ser enfrentado com confiança em um percurso de vida que ainda não se encerrou, já que o vestibular é um passo na trajetória de alguém.”
Professor de cursinho preparatório da Rede Emancipa, que é um movimento social de educação popular, Guilherme Ferragut lembrou que o vestibular não é a última coisa importante que o estudante fará na vida. Como professor, ele se preocupa em explicar aos alunos que, caso não sejam aprovados, o vestibular serviu como um primeiro teste para que eles estejam mais preparados da próxima vez. Além disso, ser aprovado não é o fim da linha, é o início de outra caminhada.
Carlos Alberto de Oliveira Diniz, conhecido como Cabé, é coordenador, orientador e professor do cursinho pré-vestibular popular TRIU há 20 anos. Segundo ele, nos últimos dias que antecedem as provas o melhor é observar o que foi construído ao longo da preparação para os vestibulares, mesmo que o estudante não tenha conseguido fazer tudo aquilo que tenha desejado, porque, de fato, “é muito conteúdo. E além dos estudos, enfrentamos outras situações na vida".
PREPARAÇÃO DOS ESTUDANTES
Para a aluna do terceiro ano do ensino médio da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antônio Prado (Etecap), Giulia Ísis Camarini, “desespero” é a palavra que define os dias anteriores ao vestibular. A vestibulanda tem estudado cerca de onze horas diárias durante o ano de 2023, sendo sete horas na escola, na qual cursa o técnico de Meio Ambiente em período integral, mais quatro à noite no cursinho preparatório. Giulia conta que antes da prova da primeira fase da Unicamp, priorizará o sono e dormirá bem para estar descansada no dia que, para ela, será um dos mais “importantes” em sua vida. A vestibulanda prestará os vestibulares da Unicamp, USP, Unesp, Provão Paulista e Enem.
Mariana Leite de Campos Rodrigues é aluna do último ano do ensino médio em uma escola pública e diz estar “muito nervosa” com a chegada dos vestibulares. “Sinto mais ansiedade por fazer a prova do que de fato saber se vou passar ou não. Acredito que seja por medo de não conseguir responder às questões ou ter um resultado muito baixo”, revela. Para se preparar, Mariana assinou um cursinho online. Além de estudar em tempo integral, quando chega em casa Mariana se dedica diariamente a mais cinco horas de estudo. “Eu estudo usando aulas de resumo das matérias que mais caíram nos últimos anos e fazendo exercícios antigos de outros vestibulares”, relata a estudante que concorrerá a uma vaga na Unicamp no curso de Química Tecnológica.
Ao todo, estão inscritos para a primeira fase do vestibular da Unicamp 64.705 estudantes que buscam aprovação em uma das 2.537 vagas distribuídas em 69 cursos de graduação. A Comissão Permanente para os vestibulares da Unicamp (Comvest) registrou um crescimento de 5% no número de candidatos para o Vestibular 2024 em comparação com o ano passado.
DICAS DOS PROFISSIONAIS
A expectativa e ansiedade são naturais, porém é difícil equilibrar o desafio de enfrentar as provas e cuidar da saúde mental ao mesmo tempo. O professor Cabé recomenda que o vestibulando tenha um olhar de compaixão consigo e de valorização de tudo o que ele conseguiu realizar em termos de estudo. “É mais importante cuidar da saúde e da alimentação, fazer coisas para relaxar, para garantir o bem estar mental e emocional, do que tentar estudar na última hora, pois é muito conteúdo.”
Caso o estudante não siga à recomendação e queira estudar alguma coisa para se sentir melhor, Cabé sugere que o ideal é fazer revisões de conteúdos que costumam cair mais nas provas.
“Essa seria a melhor maneira de se preparar em cima da hora, mas é preciso entender que revisar tudo será impossível. Então é melhor pegar alguns conteúdos que são essenciais e dar aquela última revisada, sem se esquecer dos cuidados com a mente, corpo e com o cognitivo.”
Outra dica é sobre a execução das provas. O professor do cursinho TRIU afirma que há vestibulandos que preferem começar a prova pelas disciplinas que têm mais domínio. Como no início do vestibular o estudante está mais descansado, muitos preferem solucionar as disciplinas que entendem mais e depois partir para as outras matérias. “Importante também é tentar fazer pequenas pausas curtas caso se sinta mentalmente cansado, pausas para ir ao banheiro, respirar fundo para acalmar e oxigenar o cérebro."
A psicóloga Stefannia explica que o estudante deve perceber o vestibular como mais um dia no processo de aprendizagem. “Lidar com o vestibular e com tudo o que o envolve é mais um dia no processo de desenvolvimento. Esse dia é único, diferente para cada um, dentro de um percurso que cada estudante construiu."
Sobre a ansiedade, a psicóloga recomenda que o vestibulando tente desviar o seu foco do medo, pois ele gera ansiedade. A melhor estratégia é direcionar o pensamento em todo o processo de estudos. O olhar tem de ser voltado para o que é conhecido, para o tempo em que esse candidato se preparou. "O estudante deve ser generoso consigo mesmo e com o tempo que estudou. Pratique também o autocuidado, pois os bons momentos nos fortalecem.”
“Tenha compaixão consigo e com as necessidades que você teve no trajeto de preparação”, recomenda Cabé. O professor reforça que um vestibular não define quem é o estudante e que não é um ponto final na possibilidade de construção da vida. “Tenha um olhar de valorização do que você conseguiu executar durante o ano. É um processo longo de preparação, cheio de desafios, e é importante olhar para si com amor, como você olharia para uma pessoa que ama, sem ignorar os problemas que a vida traz.”
EMPATIA E HUMANIDADE
É inegável a ausência de vagas para todos os candidatos. O fator competição pode elevar esse nível de ansiedade e autocobrança. Cabé comenta que alguns lugares incentivam uma preparação mais agressiva, com os estudantes sendo estimulados a competir pela vaga. Na orientação do professor, é importante manter um olhar mais cuidadoso para evitar uma cobrança exacerbada e a sensação de que uma prova define toda a sua capacidade.
Quando o estudante não é aprovado, Ferragut, da Rede Emancipa, diz que a atitude dos professores do cursinho no qual leciona, é de acolhimento. Os alunos e docentes estão conectados em um grupo de WhatsApp para conversarem sobre o desempenho nas provas, com o intuito de passar tranquilidade ou mesmo consolar os vestibulandos. Se um deles escreve no grupo de WhatsApp que não foi bem no vestibular, os professores se solidarizam e transmitem a mensagem que o cursinho estará de portas abertas para recebê-lo de volta e reforçar as disciplinas em que ele não obteve bom desempenho.
"O vestibular estará acessível no próximo ano a estes estudantes", conclui Ferragut.
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