ARQUEOLOGIA

Campinas vai procurar vestígios da Igreja do Rosário

Escavações não irão atrapalhar o cronograma de revitalização da avenida, mas servirão para identificar o que ainda resta do templo enterrado naquele espaço

Maria Teresa Costa
19/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:16
Trabalho arqueológico vai mapear o que resta da igreja - debaixo do novo traçado da avenida podem estar os alicerces da fachada principal (  Cedoc/RAC)

Trabalho arqueológico vai mapear o que resta da igreja - debaixo do novo traçado da avenida podem estar os alicerces da fachada principal ( Cedoc/RAC)

A Avenida Francisco Glicério, de Campinas, vai passar por prospecções arqueológicas para buscar vestígios da Igreja do Rosário, construída em 1817 e demolida em 1956, para possibilitar o alargamento da avenida. O presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) Ney Carrasco, informou que assim que as obras de revitalização da Glicério chegarem na quadra entre as ruas General Osório e Campos Sales, a intervenção irá parar para o trabalho de arqueólogos. A prospecção, disse, não irá atrapalhar o cronograma da revitalização, mas servirá para identificar o que ainda resta da igreja enterrado naquele espaço.Os funcionários das empresas que estão atuando na revitalização já foram alertados para comunicarem imediatamente qualquer resto de construção ou objetos que encontrem durante as escavações para a instalação subterrânea da fiação ao longo de toda a avenida.O trabalho arqueológico vai mapear o que resta da igreja - debaixo do novo traçado da avenida podem estar os alicerces da fachada principal. Existem objetos que foram conservados quando a igreja foi demolida. Alguns painéis foram levados para a nova igreja do Rosário construída à Avenida Francisco José de Camargo Andrade, no Castelo, e no Museu Arquidiocesano de Campinas, mas toda a igreja veio abaixo.  Será a terceira prospecção em busca de vestígios da história de Campinas que ocorre nos últimos dez anos. Em 2004, arqueólogos conseguiram localizar parte de uma parede de taipa que pertenceu ao Theatro São Carlos, imponente edifício construído pela emergente burguesia de Campinas em 1850. O prédio é anterior a outro teatro construído no local, o Carlos Gomes, cujos alicerces também foram encontrados nas escavações.Outras prospecções ocorreram na Praça Bento Quirino, em busca de vestígios da antiga Casa de Câmara e Cadeia e da passagem dos tropeiros rumo a Goiás antes da fundação da cidade na Praça 15 de Novembro (Largo Santa Cruz).Moeda, botões, fragmentos de faiança fina, objetos de ferro, pequenos ossos de animais, fragmentos de cerâmica estão entre os achados nos três sítios arqueológicos e que agora pertencem ao acervo do Museu da Cidade.As escavações para encontrar o máximo de estruturas que restaram dos dois teatros ocorreram durante as obras de reforma da praça Rui Barbosa, realizada durante a revitalização da Rua 13 de Maio. A ideia inicial era que esses espaços arqueológicos pudessem incrementa o turismo cultural - pisos de vidro seriam colocado sobre os restos dos teatros e da cadeia, para que o visitante pudesse visualizar alicerces e paredes da Campinas imperial. Mas o projeto não vingou. Os vestígios foram cobertos e ainda estão à espera de recursos para a implantação da proposta original.Durante os trabalhos de escavação, mais de 50 mil pessoas visitaram os locais. No teatro, a parede de taipa encontrada nas escavações pertenceu a primeira casa de espetáculos de Campinas, que acabou sendo demolida em 1922 para dar lugar ao Teatro Carlos Gomes. O Theatro São Carlos começou a funcionar em 1850, mas a decisão de construí-lo havia sido tomada em 26 de março de 1846, quando D. Pedro II visitou a cidade e a sociedade achou que Campinas merecia um teatro para as ocasiões festivas.Foi então fundada a Associação Campineira do Theatro São Carlos para angariar fundos para a construção do prédio. Ele era imponente. Em estilo neoclássico, tinha 62 camarotes e 250 lugares na plateia. No começo, quem ia assistir aos espetáculos tinha que levar a cadeira. O prédio passou por reformas em 1867 e 1886, mas as duas latrinas que possuía só chegaram em 1892, quando houve instalação de rede de água e esgoto no centro.O prédio acabou demolido em 1921, para dar lugar ao Carlos Gomes, que também foi demolido em 1965 para dar lugar a um estacionamento e depois a uma loja de departamentos.Na área da antiga Casa de Câmara e Cadeia foram encontrados fragmentos de cerâmica (provavelmente utilizados na cadeia), tipos diferentes de artefatos construtivos (inclusive, lascas de madeira, provavelmente das paredes das selas que haviam debaixo da terra), pequenos ossos de animais, uma moeda, objetos de ferro. Já na área do antigo pouso de Santa Cruz encontramos fragmentos de artefatos cotidianoHistóriaQuando Campinas foi fundada, numa igreja de pau a pique com cobertura de sapê ocorriam as práticas religiosas restritas aos homens brancos, livres e proprietários de terra, no local onde hoje está a Basílica do Carmo. A Igreja do Rosário, quando surgiu, possibilitou que a população negra, composta por escravos ou ex-escravos libertos, tivesse acesso aos sacramentos e à religião católica. Os primeiros templos edificados na cidade, por não terem técnica apurada para construções de grandes edifícios, acrescido das ocorrências advindas de intempéries, colaboraram para que os templos arruinassem em curto espaço de tempo. E, foi a igreja do Rosário, ao longo de sua existência, uma das que mais sofreu reformas e modificações; a primeira delas ocorreu no ano de 1851. Em 1887, suas torres tiveram que ser demolidas por medida de segurança, uma vez que estavam em estado precário, colocando em risco a vida dos fiéis. Somente em 1928 é que foi construída uma nova torre. A demolição, em 1956, fez parte da implantação do Plano de Melhoramentos Urbanos de Prestes Maia, que estabelecia o alargamento de diversas ruas e avenidas, dentre as quais estavam a Campos Sales e a Francisco Glicério.

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