Pela 1ª vez desde 2010, quando chuvas foram abundantes, vazão foi maior para os rios da região
Rio Atibaia no bairro rural Carlos Gomes, em Campinas: chuva elevou volume do manancial, que abastece 95% de Campinas (Janaína Ribeiro/Especial para AAN)
O volume de água liberado pelo Sistema Cantareira ontem para a região de Campinas foi maior que a quantidade liberada para a Grande São Paulo. Isso não ocorria desde janeiro de 2010, quando as chuvas torrenciais daquele ano levaram à necessidade de abertura de comportas e interromperam a transferência de água da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, para a Paiva Castro, em Mairiporã. A medida adotada ontem visou evitar que a Paiva Castro atingisse 100% de sua capacidade, o que obrigaria a abertura das comportas e a desperdiçar grandes volumes de água em meio à maior crise hídrica da história do Cantareira. O sistema enviou ontem 1,23 metros cúbicos por segundo (m3/s) para as Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) e apenas 1,03m3/s para a Região Metropolitana de São Paulo. A Companhia de Saneamento Básico do Estado (Sabesp) informou que, no domingo, uma chuva intensa em Mairiporã fez com que a Represa Paiva Castro, que operava com 58% de seu volume, desse um salto para 70%, subindo 24 centímetros em poucas horas. Conforme procedimento operacional, foi interrompida a transferência entre os reservatórios. Segundo a empresa, se a Paiva Castro atingisse 100% da capacidade, haveria necessidade de abertura das comportas, “um grande absurdo, dada a situação de escassez hídrica” . Assim, a Paiva Castro conseguiu garantir a liberação de 12,9m3/s para São Paulo. Essa represa é a última e a menor do Cantareira e tem capacidade de armazenamento de 7 bilhões de litros. Ela recebe o volume captado nos reservatórios Jaguari-Jacareí, Cachoeira e Atibainha, que formam o chamado Sistema Equivalente, e estão em áreas mais altas. A água chega pelo túnel 5 e a represa funciona como uma área de passagem, porque tudo o que chega até ela é enviado para a Estação Elevatória Santa Inês e, de lá, segue para tratamento na Estação de Tratamento Guaraú. A Paiva Castro operou ontem com 56,4% da capacidade, enquanto a maior delas, a Jaguari-Jacareí operou com 10,5%, usando exclusivamente o volume morto. A redução de descarga para a Grande São Paulo também está sendo possível porque o Sistema Cantareira, que já chegou a fornecer água para 8,8 milhões de pessoas, abastece hoje 5 milhões de pessoas — isso ocorre porque outras represas passaram a atender bairros antes abastecidos pelo Cantareira. Uma das obras realizadas foi a construção de uma adutora que passou a levar água do Sistema Rio Grande (que abastece a região do ABC) à zona Sul de São Paulo e, com isso, o volume economizado do Sistema Guarapiranga passou a ser direcionado para atender áreas abastecidas até então pelo Cantareira. Pela outorga conseguida pela Sabesp em 2004 para captar água no Cantareira, a empresa pode retirar 31m3/s. As Bacias PCJ têm autorização para retirar até 5m3/s. Mas a crise hídrica que se estabeleceu desde o Verão de 2013 obrigou a adoção de um novo sistema de gestão dos reservatórios, visando estocar o maior volume de água para enfrentar os períodos de estiagem. Assim, mês a mês, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee) passaram a estabelecer descarga para as Bacias PCJ e Grande São Paulo, levando em conta o estado dos reservatórios. Este mês, a região de Campinas está autorizada a receber uma descarga de até 1,5m3/s e a Grande São Paulo, até 13m3/s. Esses volumes são considerados insuficientes para o abastecimento das cidades da região de Campinas pelo Consórcio PCJ. Segundo a entidade, a região precisa de, no mínimo, 12m3/s no período de estiagem.DescargaApesar do volume ter sido maior que para a Grande São Paulo, o Sistema Cantareira reduziu em 38,5% a liberação de água para a região de Campinas, após as chuvas elevarem o nível dos rios Jaguari e Atibaia, que recebem água dos reservatórios do sistema. De 2m3/s que vinham recebendo na última semana, os rios Jaguari e Atibaia passaram a recebe 1,23m3/s ontem. A chuva no sistema e a redução de descarga elevaram para 19,8% o volume de água armazenado nos reservatórios,, considerando o volume morto. O aumento foi de 0,1 ponto percentual em relação a segunda-feira e é a segunda alta do mês. O Cantareira acumula 31,3 milímetros (mm) de chuva em maio, para uma média histórica do mês de 78,2mm. A chuva sobre essas mananciais no domingo e na segunda-feira elevaram a vazão, de forma que a água liberada no Cantareira foi suficiente para garantir o abastecimento. O Rio Jaguari, que recebeu 0,20m3/s do sistema na foz, em Limeira, registrou uma vazão de 17,2m/s. O Rio Atibaia, no posto de medição em Valinhos, distante um quilômetro da captação de água pela Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento (Sanasa), registrou 12,5m3/s.