CUIDADOS ESPECIAIS

Campinas gasta R$ 405 mil por mês para tratar 180 toneladas de lixo hospitalar

Tratamento do material custa 30 vezes mais do que o lixo doméstico, segundo a Prefeitura

Patrícia Azevedo
15/11/2013 às 07:00.
Atualizado em 26/04/2022 às 14:16

As unidades de saúde de Campinas geram todos os dias cerca de seis toneladas de lixo hospitalar. Formado por resíduos comuns, químicos e infectantes, a coleta e a destinação final adequada desse lixo tem que obedecer a uma série de normas definidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária e Conselho Nacional do Meio Ambiente. Todo o processo é diferente do tratamento recebido pelos resíduos comuns e por isso o preço do serviço também é mais alto. Enquanto o tratamento do lixo comum custa em média R$ 50 por tonelada, a prefeitura de Campinas gasta R$ 1,5 mil para tratar cada tonelada de lixo hospitalar. O engenheiro sanitarista e responsável por essa coleta, Paulo Henrique da Silveira, explica que o valor é mais alto porque o processo conta com um sistema diferenciado.A empresa que coleta e transporta esse tipo de resíduo também tem que ser diferenciada da que atua na coleta tradicional. Em Campinas, o trabalho é feito pela empresa STMB Engenharia Ambiental, especializada no setor. Ela recolhe o lixo em cerca de 1.200 pontos de coleta, como hospitais, clínicas, centros de saúde, farmácias e até estúdios de tatuagem.Apesar da lei determinar que quem gera o lixo deva ser o responsável pela sua destinação final adequada, Campinas banca o tratamento e coleta de toda a rede. Dos 1,2 mil pontos de coleta, cerca de 130 são de unidades públicas. "O restante é privado. Mas as unidades públicas respondem a 90% do peso do lixo hospitalar coletado" , explica o engenheiro.Os resíduos hospitalares são divididos em grupos e cada um tem o tratamento adequado. Os resíduos infectantes são tratados na usina de tratamento por ondas eletromagnéticas, que funciona dentro do aterro Delta.Até 1996, Campinas encaminhava seus resíduos para incineração em São Paulo. Com a obrigatoriedade de mudar o sistema na Capital, Campinas buscou alternativas e inaugurou a primeira usina de tratamento da América Latina que trata os resíduos por meio de ondas eletromagnéticas. "É um sistema térmico que não emite efluente gasoso. Quando joga o lixo (na máquina), dou injeção de vapor da água. A água aquece todo resíduo e elimina os micro-organismos sem queimar os resíduos (gaze, seringas)" , conta.Depois da desinfecção, o material é triturado, descaracterizado e vai para aterro como resíduo comum. Todo o sistema de coleta, explica Silveira, obedece às normas da Anvisa e Conama. Já os resíduos químicos passam por um processo de incineração e reciclagem energética, ou seja, há o reaproveitamento e transformação da energia gerada. No caso dos resíduos químicos, a Prefeitura trata apenas o material enviado pelas unidades públicas. Clínicas e farmácias que queiram dispensar remédios ou outros tipos de produtos químicos devem pagar pelo serviço de empresas especializadas.Segundo a Prefeitura, as unidades pública da cidade geram em média de 400 kg de resíduos químicos são gerados por mês e a coleta desse material é feita de forma mensal.Na avaliação da técnologa em saneamento ambiental e professora da Puc-Campinas Carolina Stouf , a escolha de Campinas pelo método de ondas eletromagnéticas tem vantagem sobre o tradicional método de incineração, já que reduz a emissão de gases poluentes. "O único senão é que ainda temos um resíduo final, mas o dano ambiental é reduzido" , avalia. O Hospital Municipal Mário Gatti, um dos maiores geradores de lixo hospitalar de Campinas, adota uma série de cuidados para dispor os resíduos gerados na unidade. A engenheira sanitarista Daniela Cochiolito Pilon explica que os funcionários que atuam no setor recebem uma série de vacinas, como contra tétano e hepatite, e usam equipamentos de proteção individual diferenciados. "Há uma série de cuidados com os trabalhadores. Além das vacinas, eles recebem treinamento continuado" , diz.A ideia é evitar que se contaminem com o lixo e que não deem o tratamento adequado aos resíduos. No Mário Gatti, cada tipo de lixo é acondicionados em sacos coloridos, transportados em carrinhos apropriados e acondicionados em locais distintos. "Resíduos infectantes são descartados em sacos brancos; o resíduo comum é colocado no saco preto e os recicláveis, no azul. Depois da coleta interna, tudo é encaminhado para abrigos temporários" , explica. Há horário para dispensação dos resíduos para coleta externa e local separado para cada tipo de lixo.A técnologa em saneamento ambiental e professora da Puc-Campinas Carolina Stouf explica que as unidades de saúde devem investir constantemente em treinamento para os funcionários. "O problema maior é a falta de fiscalização. O Brasil tem normas para o processo, é preciso fiscalizar para se certificar de que tudo está sendo feito da forma adequada" , afirma. 

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