CAMPINAS

Campanha tenta afastar morador de rua do etanol

Uso do álcool combustível como bebida alcoólica é uma das hipóteses levantadas para as mortes em série de pessoas que vivem nas ruas da cidade

Bruno Bacchetti
23/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 28/04/2022 às 15:33
 Setor de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Medicante (Samim), no bairro Botafogo (Camila Moreira/ AAN)

Setor de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Medicante (Samim), no bairro Botafogo (Camila Moreira/ AAN)

A Prefeitura começa nesta terça-feira (23) a campanha com moradores de rua e frentistas de postos de combustíveis visando conscientizar sobre os malefícios do consumo de etanol pelo ser humano. O uso do álcool combustível como bebida alcoólica é uma das hipóteses levantadas para as mortes em série de pessoas que vivem nas ruas da cidade. Desde abril nove morreram em Campinas, quatro somente no mês de junho. A Polícia Militar (PM) quer uma ação mais ampla e busca uma reunião com a Administração para realizar operação conjunta envolvendo várias pastas, a fim de fiscalizar bares e prender traficantes de drogas que atuam na região central. A Polícia Civil suspeita que o homicídio de um morador de rua, ocorrido no último sábado, tenha relação com o tráfico de drogas. Uma reunião na última sexta-feira entre Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social, Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços e Combustíveis de Campinas (Sinpospetro) e Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Campinas e Região (Recap) definiu a ação. A campanha terá visita de equipes da Prefeitura a comunidades de moradores de rua e a distribuição de cartilhas para essa população sobre o risco de consumir etanol. Também serão afixados em todos os postos (mesmo os que não são associados ao Recap) folhetos sobre os danos causados pelo etanol no organismo e que reforçam as regras impostas pela ANP, através da resolução n° 41/13, em vigor desde novembro de 2013. De acordo com a norma, o combustível automotivo deve ser comercializado em vasilhames que tenham sido fabricados para este fim e devidamente certificados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro)."Já mandamos eletronicamente as cartilhas para os postos. Vamos começar à tarde a distribuição dos folhetos e a pregá-los em locais estratégicos. Nós estamos tentando olhar para tudo, ninguém ainda comprovou que as mortes foram causadas pelo consumo de etanol, mas por via das dúvidas já estamos fazendo esse trabalho", explicou Jane Valente, secretária de Cidadania, Assistência e Inclusão Social.Para o tenente-coronel do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Campinas, Marci Rezende, a série de mortes de moradores de rua é preocupante e se faz necessária uma ação ampla, envolvendo a polícia e várias secretarias da Prefeitura. "A venda indiscriminada de álcool de péssima qualidade está sendo absurda, e a venda de combustível é pior ainda. Se fizermos ações envolvendo várias secretarias conseguiremos fiscalizar bares que estão vendendo esses produtos de má qualidade", afirmou.No entanto, o tenente-coronel afirma que há uma resistência da Secretaria de Cidadania, Assistência e Inclusão Social em realizar uma operação conjunta. "Nós já fizemos uma ação que abordava diretamente os moradores de rua, mas não tivemos apoio da Secretaria de Cidadania. Preciso da participação deles, mas tenho encontrado resistência. Não é questão só de polícia, senão já teríamos resolvido", completou.A secretária Jane Valente diz que considera importante a ação em várias frentes, mas não enxerga a necessidade de operações em parceria com a Polícia. "Entendo que já estamos fazendo ações conjuntas, mas cada um em sua função. Elem fazem a parte deles e a gente é nossa e se completa. Não é necessários sair junto. Nós temos um trabalho e fazemos um vínculo com eles (moradores de rua)", justificou. MorteO Setor de Homicídio e Proteção a Pessoa (SHPP) da Polícia Civil já tem um suspeito de ser o autor da morte do morador de rua Marcus Eugênio Martins Corrêa, de 28 anos, e a principal hipótese é que o crime tenha relação com dívida com traficantes. Conhecido por "Salsicha", ele foi morto na manhã do último sábado por disparos de arma de fogo, dentro de um galpão abandonado, em frente ao Setor de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Medicante (Samim), no bairro Botafogo. "Por ora já temos um suspeito, mas ainda é cedo para apontar, porque pode atrapalhar as investigações. Estamos trabalhando com a hipótese da morte ser por dívida com o tráfico e não tem relação com o fato dele ser morador de rua", explicou Pegolo. A princípio, ele descartou que a morte de Salsicha tenha relação com outro caso ocorrido na última quinta-feira, quando um morador de rua de 38 anos foi morto com um único tiro no ouvido próximo da rodoviária, também no Botafogo. "São fatos distintos", disse.Responsável pelas outras mortes dos moradores de rua, o delegado-titular do 1º Distrito Policial, José Carlos Fernandes, ainda aguarda os laudos do Instituto Médico Legal (IML) para avaliar os rumos da investigação e se existe algum indício de ligação entre elas. "Não acredito em ligação, não há elementos que comprovem isso. São pessoas que os próprios familiares e outros moradores de rua afirmam que já vinham com problemas de saúde. Eles ingerem grande quantidade de bebida alcoólica e acaba ocorrendo o óbito".A polícia também investiga o caso de um morador de rua que foi encontrado com sangue nos ouvidos e nariz, na noite da última sexta-feira, em uma calçada do bairro Vila Itapura. Ainda sem identificação, ele passou por uma cirurgia e continua internado em estado grave no Hospital Municipal Dr. Mário Gatti, respirando com ajuda de aparelhos.Datas e locais onde os moradores em situação de rua foram encontrados mortos: - 03 de Abril - Rua Sacramento, próximo ao Clube Fonte São Paulo, identificado como Flávio Sousa (sem idade).- 24 de Abril - Rua Coronel Quirino, próximo ao número 200, rapaz de aparentemente 35 anos Paulo José Tertuliano Silva, conhecido como "Ana Paula" - 17 de Maio - Avenida Francisco Glicério esquina com a Rua Benjamin Constant, Oliveira Rodrigues (sem idade).- 29 de Maio - Avenida Francisco Glicério com a Rua Ferreira Penteado, Roberto Rodrigues, aparentemente 50 anos, conhecido como "Pai" ou "Baixinho" .- 04 de Junho - Avenida Moraes Salles com a Rua Barão de Jaguara, Luis Carlos Pedro Dias, de 63 anos.- 11 de Junho - Rua Doutor Ricardo, em frente ao Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira, Marcelo Bueno de Lima, aproximadamente 42 anos, conhecido como "Barbinha" . - 15 de Junho - Avenida Governador Pedro de Toledo, próximo ao número 10, Anfrísio Pereira da Silva, de 61 anos, conhecido como "Cotonete" .- 18 de Junho - Rua Dr. Pereira Lima, Vila Industrial, Ednaldo Alves dos Santos, de 38 anos.- 20 de Junho - Em frente ao Setor de Atendimento ao Migrante, Itinerante e Medicante (Samim), no bairro Botafogo, Marcus Eugênio Martins Corrêa, de 28 anos.

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