COPA 2014

Camisas de futebol: uma paixão que não tem preço

Nem mesmo o valor salgado desanima o torcedor na hora de comprar uma camisa de seleção

Fábio Gallacci
27/04/2014 às 05:00.
Atualizado em 24/04/2022 às 14:15

Elas chamam a atenção nas vitrines e despertam a cobiça dos torcedores. A cada Copa do Mundo, as lojas de materiais esportivos são tomadas pelas camisas de seleções. O peso histórico de cada equipe, os novos designs e a tecnologia de ponta vêm ao lado de um gol contra dos fabricantes: os preços salgados. Pesquisa feita pelo portal UOL mostrou que, em nenhum outro lugar do mundo, o consumidor paga mais caro por uma dessas peças do que no Brasil.Apenas o valor da camisa da Seleção Brasileira, por exemplo, chega a 16% da renda média mensal de um trabalhador (estimada em R$ 2,1 mil, de acordo com o Banco Mundial). A amarelinha, fabricada pela Nike, foi lançada em duas versões: a mais comum de se encontrar nas lojas, a um preço sugerido de R$ 229,90, e uma idêntica à usada pelos jogadores, por R$ 349,90. Neste segundo modelo, com a personalização do nome e número nas costas, o valor salta para R$ 384,70 — uma quantia bem distante da realidade dos frequentadores de arquibancadas.E a chiadeira não tem fronteiras. Na Inglaterra, o assunto virou questão de Estado. A ministra dos Esportes, Helen Grant, criticou os valores das novas camisas do English Team, também da Nike. Em uma versão limitada, o uniforme chega a R$ 350,00. Franceses e portugueses desembolsam ainda mais. As versões mais sofisticadas saem por R$ 372,00. Procurada, a assessoria da Nike informou que não poderia atender ao Correio.Um levantamento feito em três lojas de Campinas mostra que os preços são tabelados. Em geral, as camisas “para torcedores” da Nike ficam na casa dos R$ 229,90. Já as das concorrentes Adidas (seleções alemã, argentina e espanhola, por exemplo) e Puma (Itália e Uruguai) custam R$ 199,90. “Todas as camisas têm uma boa saída. Alguns compram até mais de uma. Muita gente pede desconto, mas não reclama do valor”, afirma um funcionário da Adidas na cidade, que pediu para não ser identificado. “Isso (a questão do preço) é padrão em todas as lojas. Se as camisas não estiverem nesse valor, muito provavelmente, não se trata de um modelo original”, diz ele.Como resposta, os fabricantes também apontam os gastos em tecnologia para o desenvolvimento dos modelos e a carga tributária brasileira como vilões. Somente os impostos representam 40% do valor na etiqueta das camisas feitas no próprio País. No caso dos produtos importados, essa fatia pode alcançar 60%, indicou uma pesquisa do site Trivela, especializado em futebol.O subeditor Felipe Lobo detalhou o trabalho realizado pelo site e chegou à conclusão de que o esporte, na verdade do mercado, é o que menos importa para as grandes marcas. Os clubes e seleções que carregam os nomes que ditam moda são meras vitrines de luxo, que emprestam seu status, história e paixão para que outros produtos sejam vendidos.“O grande negócio das marcas são outros itens, como calções de corrida, camisas de treino... O futebol é usado para dar prestígio. Para a marca, o maior objetivo é mostrar que ela existe. O preço acaba sendo uma forma dela se posicionar no mercado. A ideia é mostrar que o produto é de mais qualidade, por isso custa caro”, afirma Lobo.O jornalista ressalta que os altos valores causam desconforto nos comerciantes. “Eles (os fabricantes) não querem que seja mais barato. As marcas têm lojas próprias e o controle impede a concorrência contra elas mesmas. A renegociação do preço só acontece quando o produto encalha”, explica Lobo.

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