ESPECIAL CAMBUÍ

Cambuí, um bairro repleto de encantos

A cidade teve início no lugar que hoje atrai moradores de outras regiões por sua forte gastronomia, comércio diversificado e memória preservada

Vilma Gasques
28/05/2016 às 20:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 00:18
Figueira, a árvore centenária que se transformou em símbolo do bairro (Camila Moreira)

Figueira, a árvore centenária que se transformou em símbolo do bairro (Camila Moreira)

Passar pelas ruas do Cambuí é se encantar com a história e a beleza de um dos bairros mais charmosos de Campinas. Com enorme diversidade de bares, restaurantes e padarias, além de clubes, igrejas e vegetação que se misturam aos conceitos de vida cultural e gastronômica bem ativa, o Cambuí é considerado por muitos o coração de Campinas. Histórias de moradores, comerciantes e frequentadores não faltam e dão ainda mais brilho ao bairro, que começou junto da própria história de Campinas. A região, aliás, abriga pontos que guardam lembranças marcantes da época da fundação da cidade, como a Praça 15 de Novembro (antigo Largo Santa Cruz), um dos três descampados a partir dos quais o núcleo urbano de Campinas se formou, ainda no século 18, e que tinha como referência o local onde os escravos rebeldes eram castigados para dar o exemplo. O bairro, que tem como limites as Avenidas Anchieta, Norte-Sul, Moraes Sales e Orosimbo Maia, hoje se configura como principal polo comercial, gastronômico e cultural da cidade. “O Cambuí tem o maior polo gastronômico de Campinas, uma vida noturna com vários atrativos, uma rede hoteleira importante e um comércio muito ativo. Todas essas características formam os pilares do turismo no bairro, além dos locais para serem visitados”, diz Alexandra Caprioli, diretora de Turismo da Prefeitura de Campinas. Segundo ela, a feira de artesanato na Praça Imprensa Fluminense é um dos pontos turísticos de Campinas. O evento, realizado desde a década de 70 na cidade, funciona no local há 12 anos. “Eu acredito que a ida para o Centro de Convivência agregou muito à feira, que ainda hoje é conhecida como feira hippie. Ela ganhou mais espaço e passou a explorar mais o artesanato, os quitutes, os produtos esotéricos e as antiguidades. São mais de 300 expositores”, lembra Alexandra. A diretora cita, ainda, outros atrativos do bairro, como as feiras livres na Rua Maria Monteiro, realizada aos sábados, e no Centro de Convivência Cultural, às terças. Para quem gosta de história, os pontos obrigatórios são a Praça Santa Cruz, as igrejas Nossa Senhora das Dores e Divino Salvador, a Capela da Boa Morte, os casarões na Avenida Júlio de Mesquita, na Coronel Quirino e na Maria Monteiro, a Vila Estanislau (final da Rua dos Alecrins) e a figueira, árvore centenária que se transformou em símbolo do bairro. O Cambuí conta com 109 ruas, 32 praças e mais de 40 mil moradores. Figueira, a árvore centenária que se transformou em símbolo do bairro Origem Cambuí é o nome de uma árvore, por sinal muito rara na Campinas moderna. Nos últimos anos, dezenas foram plantadas no bairro para resgatar um pouco de sua história. “Daria toda a minha papelada de música em troco da volta àqueles tempos e poder rever, admirar, tocar, sentir o perfume e molhar as mãos na árvore orvalhada do cambuí florescido”, Carlos Gomes, maestro Quem foi Maria Monteiro? Zica era o apelido que Maria Monteiro recebeu em casa, ainda pequena, quando já demonstrava vocação musical. Filha do professor de música e organista Francisco Monteiro e de Joaquina Leopoldina Andrade Monteiro, ela nasceu em 16 de janeiro de 1870. Foi a primeira cantora lírica brasileira e é homenageada, desde 1923, com uma rua no Cambuí. A menina encantou até o imperador D. Pedro II e sua mulher, Teresa Cristina, em 1886, numa apresentação na escola, como parte da programação oficial para recepcionar o casal real. Incentivada pela imperatriz, a garota ganhou uma bolsa de estudos e foi morar na Europa. Formou-se maestra e artista de canto. Um ano depois, viajou para Milão, onde ficou sob a proteção de Carlos Gomes e estudou canto lírico com o professor Alberto Giannini (1842-1903) no Real Conservatório. Em 1889, iniciou a carreira profissional, com estreia no Teatro de Peruggia, na ópera Mefistófeles, de Arrigo Boito (1842-1918). Casada com o rico comerciante italiano Ermenegildo Grandi, Maria abandonou a carreira para dedicar-se ao lar. Morreu em 1897, aos 27 anos, vítima de infecção na garganta e comprometimento nos pulmões. Pouso de tropeiros O bairro se formou a partir de dois pousos de tropeiros. O primeiro, no Largo Santa Cruz, servia de abrigo às tropas vindas da região de Sorocaba, que partiam em busca do caminho dos Goaises. O segundo, na junção das avenidas Norte-Sul com a Moraes Sales, funcionava como área de descanso para os tropeiros que vinham de São Paulo e Jundiaí e tinham o mesmo destino dos primeiros. Capela de Santa Cruz Não se sabe ao certo quando a Capela de Santa Cruz foi construída, mas ela é a mais antiga de Campinas. Desde 1911, a igreja tem São Domingos como padroeiro. Cambuhys O bairro dos Cambuhys começou a ser urbanizado na virada dos séculos 19 e 20, a partir de uma área ocupada há muito tempo por chácaras e núcleos de moradia popular (com importante presença de descendentes africanos) nas proximidades do Córrego Anhumas (atual Avenida Norte-Sul). Nessa região se instalariam, na segunda metade do século 19, a Olaria Imperial de Sampaio Peixoto, o Depósito Municipal e o empreendimento Filtros Cia. Esgottos. Vila dentro do bairro Perto de avenidas de grande fluxo no Cambuí existe um lugarzinho bucólico, com casas antigas, algumas reformadas, outras não. Cercada por prédios, a Vila Estanislau, que integra o bairro, não é fechada com portões e muito menos conta com guaritas para acesso de moradores e visitantes. O poético lugar reflete o estilo de vida da população do início do século passado, com moradias simples como as encontradas em cidadezinhas pacatas. As poucas ruas são estreitas e algumas construções conservam as características originais. “Junto da Vila Industrial, a Vila Estanislau é a mais antiga da cidade e surgiu há mais de 80 anos”, conta o comerciante Sérgio Martins. Segundo ele, a vila foi construída para os colonos da fazenda morarem. O empresário Max Arpal mora e trabalha na casa que a família dele comprou em 1967. “Aqui era o refúgio dos negros alforriados ou doentes. Tinha um caminho direto, pela Estrada dos Goiases, que hoje é a Alecrins, até o Largo Santa Cruz, local de sofrimento para os negros. É muita história entre as paredes dessas casas”, ressalta. Frontão O bairro do Cambuí também já foi conhecido como Frontão, por conta de um jogo de pelada, de origem basca, praticado na região. Até os bondes que passavam pelo lugar marcavam no itinerário o destino Frontão 6 e 7. Bondes No Cambuí, em 1901, os primeiros bondes eram de tração animal. Em março de 1962, a Companhia Campineira de Transportes Coletivos (CCTC) tinha sob seu controle 14 linhas na cidade. A foto mostra o bonde passando pela Praça Carlos Gomes. Múltiplos sabores O Cambuí é um bairro charmoso, que ferve dia e noite, especialmente por conta de seus muitos bares, cafés, restaurantes e padarias. São quase 500 estabelecimentos gastronômicos, de acordo com o diretor de gastronomia do Campinas e Região Convention & Visitors Bureau (CRCVB), Carlos Américo Louredo. “Acredito que seja o maior polo gastronômico de Campinas, além de ter casas muito interessantes e badaladas que transformaram o bairro numa espécie de moda da cultura gastronômica”, destaca. Louredo diz que outra particularidade é que as casas do segmento instaladas no bairro vão além da experiência gastronômica, pois também possuem uma característica de entretenimento. “Sem contar que é um bairro charmoso e atrai pessoas”, fala. Alexandra Caprioli, diretora de Turismo da Prefeitura de Campinas, reforça a importância do Cambuí para os que apreciam a boa mesa. “É o principal polo gastronômico da cidade. Além dos estabelecimentos que o formam, o que fortalece a gastronomia local e de convivência são os eventos da área que são realizados em ruas e praças”, comenta. De acordo com ela, uma das iniciativas nesse sentido foi a Festa Peruana, na Rua Padre Almeida. O evento deve ser repetido este ano com outras temáticas e em localidades diversas. “Ainda não temos datas marcadas, mas no segundo semestre vamos fazer a Festa Peruana e a cada mês teremos um evento diferente, que vamos chamar de Roda Latina”, adianta Alexandra. Morador do bairro e frequentador assíduo de seus estabelecimentos gastronômicos, o publicitário Fernando Cobucci frisa que o Cambuí é um bairro que conta com uma diversidade muito grande de restaurantes, padarias, bares e lanchonetes, além de açougues, supermercados e outras casas ligadas à alimentação. “Também há propostas diversas, desde os estabelecimentos mais simples aos mais sofisticados, dos que vendem espetinhos na esquina aos restaurantes franceses e aqueles que oferecem aos consumidores opções que atendem a todos os gostos”, observa. Cobucci afirma que o charme do Cambuí é incontestável e que o bairro tem uma população bastante eclética, apesar de os moradores serem predominantemente de faixas etárias mais avançadas. “Isso é bom porque são os moradores que mantêm a tradição cultural, e isso atrai os jovens”, lembra. Dois clubes, pura tradição O Cambuí também é um bairro conhecido por oferecer entretenimento aos moradores e visitantes. E a tradição de levar festas para o bairro tem como base os clubes instalados no local: o Tênis Clube de Campinas e o Clube Campineiro de Regatas de Natação, ambos com muita história para contar. O Tênis acaba de completar 103 anos. De acordo com o presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo Soares de Camargo, o clube tem localização privilegiada e oferece aos seus associados práticas esportivas, academia, eventos sociais e espaços para encontros, como Bar da Piscina, Bar Inglês, Boite Ouro Negro e Salão Social. “O Tênis cumpre sua participação na sociedade campineira, além de oferecer a sede de campo em Sousas”, destaca. Camargo lembra que o Cambuí nasceu estritamente como bairro residencial. Porém, com o desenvolvimento da cidade, passou a abrigar comércios e negócios, sobressaindo-se no setor gastronômico. “Cresci no Cambuí e o vejo como o melhor bairro do mundo. Entre todas as comodidades que ele oferece, tem os dois clubes”, destaca. O Regatas nasceu em 1918, quando um grupo de rapazes se reuniu com a ideia de criar um local para a prática de exercícios físicos. O clube também possui duas sedes (Cambuí e Sousas) e oferece mais de 30 modalidades esportivas, praticadas por atletas associados e militantes em torneios estaduais, nacionais e até internacionais. Para o presidente do Regatas, Carlos Alberto Bargas, o Cambuí é o bairro nobre e seguro de Campinas. “Além disso, tem charme, o que deixa o próprio clube ainda mais charmoso. Na realidade, é tudo de bom. Estamos perto de tudo e de todos. É um bairro cheio de histórias e uma das atrações de Campinas”, fala. Silva Telles A Avenida Coronel Silva Telles começa na Avenida Júlio de Mesquita e termina na Avenida Norte-Sul. Silva Telles foi um dos fundadores da Usina Ester, uma das mais antigas usinas de açúcar do Estado de São Paulo. Foi também proprietário da Fazenda Chapadão, em Campinas. Presidiu o Conselho Administrativo da Caixa Econômica do Estado e foi eleito senador estadual pelo Partido Republicano Paulista. Eles são os fãs Foto por: Dominique Torquato/ AAN Foto por: Dominique Torquato/ AAN Foto por: Dominique Torquato/ AAN Foto por: Cedoc/ RAC Foto por: Dominique Torquato/ AAN Exibir legenda 1100

'Uma das primeiras coisas que atraem as atenções para a Igreja Nossa Senhora das Dores é a beleza do templo, construído a partir de 1937. Além disso, há uma beleza que inspira ao aconchego e à oração', disse o Monsenhor João Luiz Fávero, pároco da Igreja Nossa Senhora das Dores.

'O Cambuí é um bairro diferenciado pela quantidade de estabelecimentos e pela sofisticação dos locais, que atraem pessoas de outras regiões. É praticamente um shopping a céu aberto, pois tem uma diversificação muito grande. Até as ruas de paralelepípedos são atrativas', disse Marcos Marchiori, comerciante.

'Sempre fui fã do Cambuí e frequentei o bairro para usufruir das coisas boas que existem por aqui. Também sempre soube que o lado empresarial tinha mais força e agora estou comprovando isso, trabalhando nessa região que tanto atrai a atenção de todos', disse Giovana Ciareli, empresária.

'O bairro é muito bom e concentra diversas facilidades e serviços, o que faz com que moradores de outras regiões venham nos visitar e usufruir dessas facilidades. AS reuniões do Conseg são mensais e dão oportunidade para a comunidade cobrar melhorias na segurança e tomar conhecimento de relatórios elaborados pelas autoridades responsáveis pela Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Municipal. O último relatório, de abril deste ano, apontou uma redução na criminalidade no bairro, como roubos e homicídios. Porém, aumentaram as práticas de estelionatos envolvendo cartões de crédito e de débito', disse Anderson Giannetti, presidente do Conselho Comunitário de Segurança do Cambuí (Conseg).

'O Cambuí hoje tem uma característica mais comercial, já que as antigas casas de família se transformaram em sedes de empresas de comércio e serviços, que fornecem um aspecto mais intimista. O que me agrada muito no bairro são as áreas verdes. Há muita árvore no bairro e isso torna tudo mais gostoso', diz Virgínia Borelli, empresária.

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