Pode chamar de caril: com algumas pitadas, essa valiosa combinação de especiarias nos remete aos países asiáticos e dá aos pratos perfume intenso e sabor marcante
Camarão com curry e miniabóbora (Edvaldo Marques/Especial para Metrópole)
A Índia foi, nos tempos de outrora, considerada o maior acervo aromático do planeta. Era um enorme país perfumado, irresistível para os praticantes da gastronomia e para os que cobiçavam suas valiosas especiarias. Tudo o que cheirava, dava sabor e conservava os alimentos era encontrado por lá. Durante séculos, esses produtos foram símbolos de disputa da corrida aos mares de muitos países europeus, tanto que várias guerras foram detonadas para manter o controle dessa enorme riqueza do Oriente. Aqui vamos falar de um produto que parece um passe de mágica: o curry (ou caril), que tem o poder de nos transportar tão rapidamente aos luxuriantes paladares da Índia mais do que qualquer outro. Em quase todas as receitas, seu toque é imediato e nos remete aos países asiáticos. Mas enganam-se aqueles que pensam que o curry é uma especiaria. Ele é, na verdade, uma conjugação delas, uma comunhão de ingredientes invocados pelos espíritos de Brahma e Shiva. Essa mistura de especiarias, amalgamadas e amassadas até serem reduzidas a pó, é chamada também de garam masala. Na Índia, a comida não é tratada como sustento físico, mas determinada por regras, rituais e crenças. Cada cozinheiro, dona de casa ou família tem seu próprio curry, uma fórmula particular. Geralmente, ele é feito em casa, porque perde parte de seus sabores e aromas quando vendido pronto. Outros países asiáticos, como Tailândia, Japão (lá, o tempero é chamado de karê), Filipinas, Sri Lanka e Birmânia desenvolveram vários tipos de curry, sempre com os ingredientes amassados até permitirem um sabor comum do que foi misturado. Foto: Edvaldo Marques/Especial para Metrópole Camarão ao curry e miniabóbora Como as receitas são feitas artesanalmente e em comunhão, cada um coloca no pilão as especiarias que quiser, incluindo grandes dosagens de pimenta fresca, vermelha ou verde. E, aí, definir o que é esse produto é um problemão. As pastas de curry podem ser vermelhas, verdes ou camponesa (também conhecida como selva e cuja composição ninguém consegue identificar). O que encontramos por aqui, no entanto, é uma invenção dos ingleses, que durante anos dominaram a Índia e padronizaram produtos para comercializá-los. O curry pode levar mais de 20 especiarias, incluindo tamarindo, açafrão, gergelim e cúrcuma – este último o responsável pela cor amarelo-avermelhada da versão comercial – e vai bem com carnes, peixes, aves, molhos, sopas, assados e cozidos. Para os vegetarianos, é uma mão na roda, pois dá sabor especial a saladas e legumes cozidos. Vamos cozinhar. CAMARÃO AO CURRYE MINIABÓBORA(para 6 pessoas)INGREDIENTES_6 miniabóboras_300g de cabotiã_400g de camarões cinza (reserve a cabeça e as cascas para o caldo)_16 camarões (para decorar)_2 colheres (sopa) de manteiga_1 colher (sopa) de cebola raladinha_1 xícara (chá) de caldo de camarão_1 caixa de creme de leite_1 colher (chá) rasa de curry_Azeite, sal e pimenta a gostoPARA O CALDO_1 fio de azeite_Cascas e cabeças dos camarões_1 naco de alho-poró em rodelas_1 talo de salsão picado_½ cebola rusticamente picada_1 dente de alho amassado_1 cálice de vinho branco seco_2 xícaras (chá) de água filtradaCOMEÇO PELO CALDO Coloco em uma panela um tico de azeite, alho e cebola e deixo dourar bem, em fogo baixo. Junto as cascas e as cabeças dos camarões e frito até ficarem vermelhas e torradinhas. Agrego o vinho, o salsão e o alho-poró e permito que ferva por cinco minutos. Acrescento a água e deixo cozinhar por dez a 15 minutos. Retiro, passo por peneira ou chinoise, reservo o caldo e descarto as sobras.AGORA, AS MINIABÓBORAS E MAIS Com uma faca afiada, não muito grande, retiro as partes de cima das abóboras. Feito isso, com uma colher tiro as sementes. Em uma panela com água fervente, mergulho as abóboras e deixo não mais do que dois minutos. Retiro, seco bem e levo ao forno preaquecido a 180ºC, temperadas com sal e pimenta e envolvidas em papel alumínio (a parte brilhante é sempre para dentro). Espero de 15 a 20 minutos, dependendo do forno e do tamanho delas. Retiro e reservo embrulhadas. Enquanto as abóboras estão no forno, começo a trabalhar o purê que irá no recheio junto do camarão. Escolho outra panela, frito a cebola na manteiga até murchar e junto a cabotiã. Se precisar, ponho um tico de água quente, lembrando que a cabotiã fresca deixará um pouco de água no refogado. Mexo e remexo para virar um purê. Levo a cabotiã ao liquidificador e bato até ficar um creme homogêneo. Mais uma frigideira: aqueço o azeite por dois minutos, coloco os camarões, junto o sal e a pimenta e deixo por oito minutinhos. Finalmente, mais uma panela: nela coloco o caldo de camarão que estava reservado, espero ferver, junto o creme de leite e espero cinco minutos. Coloco o curry e permito que fique lá, ainda em fogo baixo, por mais cinco minutos. Bato tudo no mixer ou liquidificador. Junto os camarões à massa, ajusto o sal e a pimenta e mexo delicadamente. Com eles, recheio as miniabóboras. Salpico com um tico de requeijão e levo ao forno até esquentar. Frito os outros camarões (aqueles reservados para enfeitar) em azeite, alho e sal. Decoro as abóboras com os camarões e sirvo como entrada ou prato principal. Vai muito bem com salada de rúcula e arroz branco.Faça você mesmo Não é difícil fazer um curry doméstico, apesar de dar um pouquinho de trabalho. Confira esta receita de masala seca:_2 colheres (chá) de cúrcuma em pó_1 colher (chá) de mostarda em grãos_1 colher (chá) de pimenta-do-reino_1 colher (chá) rasa de gengibre em pó_1 colher (sopa) de feno grego_2 colheres (sopa) de cominho em grãos_3 colheres (sopa) de sementes de coentro_1 colher (café) de pimenta-calabresa_2 dentinhos de cravo-da-índia_1 colher (café) de canela em póNuma frigideira sobre fogo baixo, coloco a pimenta-do-reino, as sementes de mostarda, o cominho, o cravo e o coentro, e deixo esquentar. Com uma espátula, mexo e remexo tudo por não mais do que dois minutos – não posso me distrair porque senão queima tudo. Retiro do fogo e deixo na frigideira até esfriar. Junto os outros ingredientes num pilão de ferro ou pedra e moo bem, até tudo se misturar bem. Não uso processador ou liquidificador porque a mistura ficará um pouco mais grosseira. Peneiro e guardo em um potinho na geladeira. Dura dois meses.