Nada mais difícil do que a chamada vida fácil, escreveu Jorge Amado. A frase vale também para Bill Gates, duplas sertanejas e jogadores de futebol — os bons de bola, computadores e gogó, é claro. Ou seja, os bons de talento e de bolso. O Brasil é para profissionais, já dizia Tom Jobim — o que bem atesta o amadorismo da inveja do sucesso alheio desde então.
Refiro-me ao presidente e fundador do Observatório contra a Homofobia na Espanha, Eugeni Rodriguez Giménez, um marmanjo de 45 anos que se dedica à luta pelos direitos dos homossexuais espanhóis, que acusou o jovem Neymar — recentemente contratado para jogar no Barcelona — de ter atuado em uma campanha publicitária que ofende a comunidade gay. A peça publicitária tenta vender cuecas. Neymar aparece vestindo uma delas e se exibindo para mulheres. De repente, aparece na loja um homem e Neymar sai correndo. Para o hétero-fóbico espanhol, o homem da propaganda é gay e não o machão flagrantemente explicitado, sem o que a piada publicitária não faria sentido.
Neymar já foi chamado de “macaco” até mesmo por jogadores de futebol e jamais se importou com isso. Na Europa é comum torcedores racistas atirarem bananas para adversários negros e Neymar, sem dúvida, também será alvo dessa ignorância.
Mas desse tipo de agressão, o ativista gay espanhol não quer saber. O que ele quer é que, além de jogar o seu futebol de craque, é que o jovem Neymar assuma a causa gay como se tal fosse um dever universal: “Quando um fato dessa gravidade acontece, você não pode se omitir. Ele chega a Barcelona, que aos poucos reconhece a importância de garantir os direitos das minorias, com um peso muito grande. Chega carregando a cruz da homofobia. Ele precisa ser cobrado a se posicionar sobre esse tipo de questão.”
Não cobro de Neymar nada além de nos fazer encantar em drible, um passe quase mágico, um gol que contraria a física e até mesmo a metafísica. Neymar é um pensador da bola, um jovem filósofo dos estádios de futebol. Exigir que ele assuma a defesa da sexualidade dos outros é uma estupidez que só se encontra em gays de meia-idade que não gostam de futebol e tampouco do sucesso alheio. Aliás, eis aqui uma boa ideia para os marqueteiros do Neymar: ele jogando calcinhas e lingeries para as suas fãs, com o comercial terminando com um toureiro levando uma no bolso traseiro da calça justa e acinturada. Fui sutil demais ou preciso desenhar?