Ativistas de longa data, Gil e Caetano não se esquivaram do caráter político que acabou sendo incorporado a essa passagem por Israel
"Preferimos o diálogo em lugar do 'não'." Assim Caetano Veloso deu início à sua declaração no evento em que ele e Gilberto Gil se encontraram com músicos e representantes de 80 ONGs locais em prol da paz e dos direitos humanos. O encontro, que contou com participantes israelenses e palestinos, aconteceu ontem no Hotel Dan Tel Aviv, onde os artistas estão hospedados.Caetano referia-se à pressão realizada pelo Movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) durante os últimos dois meses, exigindo o cancelamento do show que acontece nesta terça, 28, hoje, em Tel Aviv, como parte da turnê Dois Amigos, Um Século de Música. Ativistas de longa data, Gil e Caetano não se esquivaram do caráter político que acabou sendo incorporado a essa passagem por Israel. No evento, citaram com emoção a visita, na tarde anterior, ao vilarejo de Susiya, na Cisjordânia, guiados pela ONG Breaking the Silence. "Saí de lá querendo dizer: chega de ocupação e de segregação. Acredito que quem está aqui hoje pode construir a ponte entre os dois povos e fazer a paz acontecer. Mas sou só um visitante. Vim aqui para cantar e dizer: ‘Gente, olha pro céu’". Em seguida, Caetano cantou um trecho da música Gente, do álbum Bicho, e foi aplaudido em pé.Ao contrário do que se esperava, a dupla não se apresentou ao lado de Davi Broza, ativista político e o mais importante músico israelense da atualidade. "Não acredito no boicote, mas no encontro. Eu os respeito por estarem aqui, e me inspiro em vocês", ele disse a Gil e Caetano.Uma das expoentes da nova geração, a cantora e atriz palestina Mira Awad apresentou-se com Broza, cantando em árabe. "Há quem prefira boicotar e há quem ofereça a mão. É isso que Gil e Caetano estão fazendo aqui hoje". Antes desse evento, os cantores se encontraram com o ex-presidente israelense Shimon Peres, na ONG Peres Center for Peace, onde se reuniram com garotos judeus e palestinos. ExpectativaO músico israelense Gal Adbu garantiu seu ingresso assim que a venda foi iniciada. Apaixonou-se pela MPB em 2007 e afirma que os baianos são sua maior influência musical. "Quando Gil e Caetano cantam, expressam suas almas. Não importa o que eles apresentarão: será certamente maravilhoso", afirma.Outros se preocupam com declarações que possam vir a fazer no palco. "Depois de terem sido criticados por virem para cá, eles deram declarações desastradas sobre a política em Israel. Torço para que não as repitam, porque vai pegar mal com o público local", comentou a brasileira Karen Rosenthal-Nigri, há tempos com ingressos nas mãos. O show contará com o esquema de segurança previsto na lei israelense e adotado em todos os eventos no país, com forte policiamento e checagem de bolsas e mochilas, além de detectores de metais instalados nos portões do estádio. Não foram registradas solicitações de autorização de manifestação pública por parte do BDS ou outras organizações pró-Palestina junto à polícia de Israel, um procedimento obrigatório no país. Foto: Divulgação. O show contará com o esquema de segurança previsto na lei israelense e adotado em todos os eventos no país, com forte policiamento e checagem de bolsas e mochilas "Cada local de evento deve seguir as leis de segurança, mas tem seus próprios procedimentos. Não acredito que nenhum esquema especial esteja sendo montado: nunca houve nenhum tipo de agressão contra artistas internacionais no país", afirma o produtor musical brasileiro Daniel Ring, proprietário da produtora Octopulse. Segundo ele, 100% dos artistas que foram trazidos por sua empresa para apresentações em Israel foram contatados pelo BDS, inclusive brasileiros. "No entanto, até hoje nenhum deles cedeu às suas pressões."