Domingo, 16 de junho, o coral do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) sob a regência de Nelson Silva apresentou, entre outras peças, brilhantemente, a cantiga “Cadê o boi” de Tavinho Moura e Gonzaguinha. Na ocasião, associei de imediato a busca buliçosa – Cadê o boi – às manifestações inquietantes que se derramaram pelas ruas e praças de nossas cidades.
“Ô menino, ô menina,
Gente fina, cadê o boi?
Meus senhores e senhoras, gente amiga, cadê boi?
Quem souber o que acontece, diga logo, foi ou não foi.
Tá sumido, tá perdido, se ele some, não tem festa.
Não tem vida, nem passado, nem presente, não tem nada.
Boi é tudo, boi é força. Boi é gente, cadê o boi?
Boi é povo, povo é festa. Povo é tudo, cadê o boi?
Das ruas de nossas cidades sobe um clamor claro, crescente e impetuoso, por vezes até ameaçador. Este clamor provem das vozes de milhares de jovens, mas também de adultos e até de crianças. O que dizem está escrito em cartazes de todo tipo e cores, tamanhos e também com uma pitada de bom humor! Clama-se pelo direito de todos, igualmente, a uma vida digna. Não dá mais para se viver num país com tanta desigualdade. Clama-se por educação pública de qualidade em todos os níveis.
Como conviver, sem indignação, com as filas de mães diante das creches suplicando uma vaga para suas crianças? Clamam por melhoria no Sistema Único de Saúde e por sua abrangência. Clamam por um sistema de mobilidade urbana mais democrático e de qualidade. Aliás, o grito pela revogação das tarifas foi o gatilho da explosão das manifestações de protesto que ocuparam as ruas e praças das cidades, onde, tomar um ônibus ou atravessar uma rua é operação de risco calculado.
A mobilização da juventude denúncia com veemência a corrupção, a impunidade, os privilégios, a falta de transparência na gestão pública, Apesar da cultura brasileira do futebol, nem as copas escapam dos protestos contra o gigantismo e superfaturamento dos estádios exigidos pela Fifa. Daí cartazes tipo: “Queremos hospitais padrão Fifa”.
Por dever de consciência e de cidadania registre-se aqui o repúdio a qualquer tipo de violência inclusive a policial. Repudia-se igualmente a depredação e destruição de bens públicos e privados, por parte de certos grupos e indivíduos. Há de se ler e compreender o recado vindo das manifestações no seu conjunto e o simbolismo da marcha sempre em direção às sedes dos poderes executivos e legislativos. Emblemático foi o cerco ao Congresso Nacional em Brasília.
Finalmente e felizmente alguns políticos, até então acuados e atônitos, mostraram a cara a começar pela presidente Dilma Rousseff, com seu pronunciamento à Nação na sexta-feira, ao reconhecer a legitimidade democrática das manifestações, ouvindo e acolhendo as vozes das ruas que clamam por mudanças. A presidente comprometeu-se a encaminhar as reivindicações, inclusive a reforma política.
Esperamos que toda esta mobilização social encontre canais legítimos de organização política, do contrário corre-se o risco do imponderável e do imprevisível.
“Boi é tudo, boi é força, boi é gente, cadê o boi?