PIRANDELLO

Cacá Carvalho apresenta trilogia em Santos

A trilogia trabalha com texto teatral, novelas e o último romance escrito por Pirandello

Nara Assunção
igpaulista@rac.com.br
19/07/2013 às 19:35.
Atualizado em 25/04/2022 às 08:09

O ator Cacá Carvalho, eternizado na televisão pelo personagem Jamanta, estreia em Santos a trilogia de Pirandello no teatro Sesc, na noite desta sexta-feira (19). Ao todo são três espetáculos que resultam em um estudo de mais de 25 anos do autor italiano. A trilogia trabalha com texto teatral, novelas e o último romance escrito por Pirandello. No palco Cacá Carvalho, com direção de Roberto Bacci. A estreia do projeto acontece em Santos e depois percorre as cidades de Piracicaba, Araraquara, Bauru e São José do Rio Preto.

iG Paulista - Como está sendo realizar este projeto?

Cacá Carvalho - Estou viajando com muito mais do que a trilogia. São três obras de Pirandello, resultado de mais de 20 anos de estudo, junto com meu diretor Roberto Bacci e com o grupo de jovens atores que eu dirijo. Além destas obras, também participam o grupo de jovens do qual dirijo. Eles apresentam o espetáculo a Ingratidão Fria como o Mar, inspirado na obra Rei Lear de Shakespeare. O espetáculo é apresentado sempre um dia antes das obras de Pirandello. Primeiro é realizado uma conversa com os jovens de cada cidade que passaremos, como aqui em Santos. Apresento os atores jovens, fazendo uma transmissão do conhecimento. (O espetáculo Ingratidão Fria como o Mar, dos jovens atores, foi apresentado nesta quinta-feira, 18)

Como é este curso... Você os dirigiu?

Dirigir no meu caso é uma palavra difícil, pois sou um ator, com um percurso muito particular de teatro. Vim de Belém de Pará, cheguei a São Paulo e comecei a estudar. De repente paro na mão de Antunes Filho. Depois comecei a mergulhar da obra de Guimarães Rosa, que me levou à Itália, onde comecei esta parceria com as obras de Pirandello, pelo diretor Roberto Bacci. Já são 25 anos de parceria. Este percurso de aprendizado, que não é acadêmico, cria no corpo do ator uma necessidade de fazer isso que chamo de transmissão de conhecimento. Por isso desenvolvi este projeto que se chama Casa Laboratório para as Artes de Teatro, que é um espaço em São Paulo, onde fico diariamente com oito jovens atores. Praticamos. Eu aprendo com eles e eles comigo. Me renovo. Isto é uma parte do trabalho. E com este projeto, chegamos antes nas cidades para realizar este encontro com os jovens atores e fazermos esta troca de experiência. Não chego para dizer como se faz , mas para viver isto igualmente.

E a trilogia?

A terceira parte é sim a chamada Trilogia Pirandello. São três espetáculos onde eu estou no palco. O primeiro espetáculo é baseado num texto teatral “O Homem com a Flor na Boca”, estrelado há 20 anos. E o segundo espetáculo “A Poltrona Escura” nasce do estudo sobre o universo das novelas escritas por Pirandello. O espetáculo junta três novelas. Estreei na Itália há 12 anos, e no Brasil, há 10 anos. O último é o romance “Umnenhumcemmil”, há dois anos e meio na Itália, e no Brasil completará um ano em setembro. É um romance inteiro, o último do autor. E fico feliz por mais uma vez ter sensibilizado. O Sesc embarcou neste projeto e nos levará, sem nenhum outro apoio ou lei de incentivo, para mais quatro cidades além de Santos.

O que te chama atenção nos textos de Pirandello?

O que eu sabia de Pirandello era o famoso clássico Seis personagens à procura de um ator. Conheci na Itália a obra "O Homem com a Flor na Boca", achava o aposto daquilo que eu lembrava. O tema, porém, era o mesmo. O material de trabalho, assim como é em todos os grandes atores, é atual: o homem e seus dilemas de sobrevivência. Suas tragédias, desgraças, humor. Ele consegue com uma poética incrível fazer uma radiografia do ser humano e suas complexidades. E hoje em dia eles são tão ou mais atuais de quando foram escritos.

O homem não evoluiu. O homem na criação das máquinas e tecnologia evolui, mas na essência como ser humano continua o mesmo. Os questionamentos sobre si O que sou, o que significo para os outros? Porque sou obrigado a viver numa máscara social que não me representa? É isso que mais me toca. Falar disso não é nenhuma novidade, mas a forma como se apresenta é o diferencial.

Como anda sua relação com a televisão?

Minha relação — é incrível dizer isso — é que de fato não estou no ar, mas estranhamente é como se eu nunca tivesse saído do ar. Acontece uma coisa que, não sei se é muito comum, mas as pessoas mantêm de forma viva a imagem deste personagem. Eu fiz outros trabalhos, porém este personagem, o Jamanta, permanece como uma coisa emblemática que me representa para muita gente. As pessoas não esquecem e lembram-se de uma forma muito carinhosa. Fico satisfeito. É como se tivesse deixado dentro das pessoas algo bonito. Cada vez que alguém lembra e na minha frente abre o sorriso, como se estivesse no ar ainda, fico muito feliz. Sinto que toquei um ponto naquela pessoa que reacende quando me vê. Só tenho a agradecer esta oportunidade, que me proporcionou algo raro.

O início e a fuga para o artesanato?

Quando fiz Macunaíma, por volta de 1978, eu era um rapaz de 23, 24 anos. O espetáculo foi feito com uma direção brilhante de Antunes. Fui imediatamente aclamado. Me deram todos os prêmios, de São Paulo, Rio de Janeiro, fui capa de jornais no Brasil e no exterior. Eu era o próprio Macunaíma, o brasileiro sem nenhum caráter. E vivíamos um momento histórico importante. Todos os fatores fizeram com que eu virasse uma celebridade de teatro muito grande e forte. Precisava sair e me desligar. O sucesso imediato te faz acreditar que você realmente sente alguma coisa que não é. Estava dando o primeiro passo. Estava em construção. Não estava acostumado com aquilo tudo e precisava me recolher. Sai um pouco de teatro, fiz artesanato. Julgava que me ajudaria como me ajudou a me reencontrar. Tinha esquecido de mim para ser aquele índio. Na Alemanha, Japão, Portugal, Venezuela, Salvador e todos os lugares por onde o espetáculo passou eu era a própria imagem do malandro brasileiro. No refúgio, não dava para desfazer tudo aquilo, porque não se cancela o que aconteceu e agradeço o que carrego até hoje, mas precisava me reposicionar como pessoa.

Serviço

Peça: Trilogia Pirandello

Datas:

19/07 – Sexta-Feira: “O Homem com a Flor na Boca” – INGRESSOS ESGOTADOS!

20/07 – Sábado: “A poltrona Escura”

21/07 – Domingo: “UmNenhumCemMil”

Horário: sempre às 20h

Ingressos: R$3,00/ R$6,00/ R$12,00

Local: Teatro Sesc Santos

Classificação Etária: Recomendado para maiores de 16 anos

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