Pessoas com diabetes diminuem a dose ou não tomam a insulina para emagrecer
Mais um distúrbio coloca a saúde em risco em nome da estética. Desta vez é a diabulimia que vem preocupando os especialistas. Trata-se de um transtorno alimentar de imagem corporal, como a bulimia e a anorexia, porém, está associado à pouca ou nenhuma administração de insulina pelos pacientes. Adolescentes do sexo feminino com diabetes tipo 1 formam o grupo de maior risco para o desenvolvimento da diabulimia. E os especialistas alertam: o problema é grave e pode levar a pessoa à morte. O emagrecimento súbito do adolescente é um sinal ao qual os pais devem ficar atentos. Mila Pontes Ramos Cunha, chefe do setor de endocrinologia do Hospital Celso Pierro, explica que os portadoras de diabulimia associam a rejeição aos alimentos, problema comum a todos os transtornos de imagem corporal, à redução ou até ao abandono do tratamento do diabetes. “Fazem isso por saberem que a perda de peso é um dos efeitos mais imediatos da falta de insulina no organismo”. A causa exata do transtorno ainda é desconhecida, mas fatores genéticos, psicológicos, traumáticos, familiares e socioculturais podem contribuir para o seu desenvolvimento. De acordo com a endocrinologista, a diabulimia está relacionada ao diabetes tipo 1, também conhecida como diabetes insulinodependente, diabetes infanto-juvenil e diabetes imunomediado. “Neste tipo de diabetes a produção de insulina — hormônio produzido pelo pâncreas — é insuficiente pois suas células sofrem o que chamamos de destruição autoimune”, explica. Dessa forma, os portadores de diabetes tipo 1 necessitam de injeções diárias de insulina para manterem a glicose no sangue em valores normais. Há risco de vida se as doses de insulina não são dadas diariamente. Quando ocorre a falta de insulina, ou quando o paciente deixa de aplicar a dose diária, o organismo necessita obter energia de outra fonte, pois a glicose não está conseguindo entrar dentro da célula (função da insulina), segundo explica a médica. “O organismo passa a utilizar outros ‘combustíveis’ para obter energia e continuar funcionando. Esses outros combustíveis são: o tecido muscular (proteína) e o tecido adiposo (gordura)”. Segundo Mila, o resultado desse processo é o emagrecimento rápido, mas também o aparecimento de algumas substâncias que fazem muito mal a saúde, podendo levar à situações extremamente graves e até a morte. Os principais sinais e sintomas que resultam da falta do uso de insulina pelo paciente com diabulimia são: desidratação, perda de massa muscular, fadiga intensa, hiperglicemia, aumento na frequência e na quantidade de micções, hálito com odor acentuado de acetona e confusão mental. Se os sintomas não forem detectados a tempo, especialmente a cetoacidose, as consequências podem ser graves. “A cetoacidose pode levar à morte em menos de 48 horas de ausência ou insuficiência de insulina”, aletrou a endocrinologista. Outros sinais que podem ajudar a identificar a presença de diabulimia, como a recusa a pesar-se durante a consulta, tentativa de negociação da dose de insulina, preocupação excessiva com o corpo, com a forma física, além do nível elevado de glicemia, mesmo com o acompanhamento médico, como proposta de dieta adequada e prescrição da insulina. Por isso, a observação dos pais e das pessoas que cercam os adolescentes com diabetes tipo 1 são fundamentais. “A família deve estar atenta a qualquer sinal de emagrecimento precoce e comunicar o problema imediatamente ao médico que o acompanha e essa adolescente deverá ser encaminhada para o psiquiatra e acompanhamento psicológico”, afirma. A diabulimia pode ser prevenida e tratada com apoio psicológico ou psiquiátrico. “A prevenção consiste em um acompanhamento médico e psicológico, pois o paciente portador do diabetes tipo 1 necessita de um grande apoio, tanto da equipe profissional que o assiste, como da família. Quando o problema já existe é necessário um acompanhamento psiquiátrico, além da necessidade de manutenção do tratamento para o diabetes”, completou a endocrinologista.