Melhor oferta foi da Lances Negócios Imobiliários (R$ 65 milhões), mas Justiça marca audiência no dia 30
O leilão do Brinco de Ouro realizado, nesta quarta-feira (18), no Fórum Trabalhista de Campinas chamou a atenção de investidores, mas ainda não teve seu capítulo final. Três grupos fizeram lances pelo estádio, mas as ofertas, bem inferiores ao valor mínimo, não agradaram a Justiça, que já agendou uma audiência conciliatória para o dia 30 de março com a participação do Guarani, da Prefeitura de Campinas e dos interessados pela área. A intenção é saber do Poder Público se há possibilidade de aprovação de algum projeto imobiliário para que as quantias oferecidas sejam aumentadas e possam cobrir parte das dívidas do clube. O clima de tensão tomou conta da hasta pública. Como não houve nenhum interessado no leilão virtual, a expectativa era se alguém faria alguma oferta presencialmente. Quando o pregão foi aberto, ninguém se manifestou para apresentar uma proposta de R$ 126 milhões. Na sequência, no entanto, havia a possibilidade de lances por um valor menor e a primeira oferta foi de um consórcio formado por três empresas de Jaboticabal, que deu um lance de R$ 45 milhões. Quem também entrou na jogada foi a MMG Consultoria e Assessoria Empresarial, que pertence à Magnum, do empresário Roberto Graziano. A empresa é a mesma que arrematou o estádio em novembro do ano passado e deu lance inicial de R$ 57 milhões. Ambas, no entanto, apresentaram inicialmente condicionantes na proposta, ou seja, só confirmarão a compra se conseguirem garantias de que é possível a realização de um projeto imobiliário no local. A juíza Ana Cláudia Torres Vianna analisou as propostas e decidiu pela audiência no dia 30. Quando isso parecia certo, um terceiro investidor entrou em cena antes do fim do pregão com o objetivo de levar o Brinco de Ouro. A Lances Negócios Imobiliários, de Campinas, ofereceu R$ 60 milhões, mas sem nenhuma condicionante, o que agradou a Justiça. Diante disso, a disputa ficou acirrada. O grupo de Jaboticabal subiu o valor para R$ 70 milhões, a serem parcelados em 120 meses, e a Lances Negócios Imobiliários chegou a R$ 65 milhões, divididos em 24 vezes. A juíza voltou a se reunir com os demais magistrados para definir se haveria o arremate e, quando retornou, outra novidade. A MMG retirou as condicionantes e manteve o valor de R$ 57 milhões, mas pediu sua retirada do polo passivo das dívidas do Guarani. O detalhe é que a empresa já depositou cerca de R$ 46 milhões referentes à hasta pública anulada do ano passado. Depois disso, nenhum dos interessados mudou as propostas e a decisão da Justiça foi mesmo pela nova audiência. DISPUTA ACIRRADA O leilão do Brinco de Ouro gerou concorrência e muita disputa entre os três grupos interessados pela área. A briga pelo estádio, localizado em dos locais mais nobres de Campinas, mobilizou os investidores que, dispostos a não perder o negócio, aumentaram suas ofertas iniciais. Tanto esforço, pelo menos neta quarta, não surtiu efeito. Convocados para a audiência do dia 30, todos eles mostraram cautela nesse momento. Figura presente em outros leilões, o consórcio formado por três empresas de Jaboticabal foi quem deu o maior valor, mas não abriu mão das condicionantes. O advogado Bruno Martins Lucas, que representa a empresa, espera um acordo com a Prefeitura. "É imprescindível que se haja uma parceria e a anuência do projeto que será apresentado pela Prefeitura. Nossa intenção é adquirir o imóvel, respeitando as leis e os interesses das partes envolvidas", disse. A grande surpresa do dia foi o aparecimento da empresa Lances Negócios Imobiliários. Nos bastidores, houve o comentário de que o grupo estava em nome da PDG, que atua no setor imobiliário. Seu representante, Cláudio Jesus, não comentou sobre isso e disse aguardar o desenrolar do caso. "Existe a audiência, mais duas propostas e vamos ver o que vai acontecer. Por enquanto, ainda não temos nenhum projeto específico", afirmou. A MMG Consultoria Empresarial, que apresentou sua última proposta sem nenhuma condicionante, não falou com a imprensa sobre o leilão. Um de seus sócios, o empresário Roberto Graziano, não compareceu ao Fórum ontem. HORLEY SENNA Horley Senna entrou e saiu do Fórum Trabalhista nesta quarta com a intenção clara de pedir o embargo à qualquer arrematação que pudesse ser feita no leilão do Brinco de Ouro. Notadamente insatisfeito com a situação, o presidente do Guarani garantiu que o clube vai trabalhar para, caso não consiga manter seu patrimônio, obter todas as contrapartidas necessárias. O dirigente não gostou dos valores oferecidos, menores do que o lance mínimo e considerados por ele muito baixos. "Estou preocupado ainda, mas, independentemente das propostas oferecidas, a nossa decisão será tomar medidas processuais. Vamos entrar com embargos", disse. "A intenção da Justiça do Trabalho é resolver as ações de execução, e da Federal os tributários. Mas, se lá (na Federal) foi anulado por R$ 45 milhões, não entendo que aceitem valores semelhantes." Para o presidente, a audiência do dia 30 não deve trazer solução para o caso, principalmente porque o clube vai exigir que seja contemplado. "Quem vier disposto a fazer acordo, tem que saber que o Guarani precisa do mínimo que necessita para tocar sua vida, que é uma arena, Centro de Treinamento, clube e suas contas pagas. Esse acordo vai depender disso", destacou.MAGNUM Sobre o lance feito pela MMG, empresa que tem como um dos sócios Roberto Graziano, presidente da Magnum, o dirigente bugrino mostrou-se surpreso. "Causou estranheza a apresentação dessa proposta porque desde o ano passado não há qualquer vínculo e, dessa vez, não pedimos ajuda para a Magnum", completou o dirigente. SITUAÇÃO GRAVE Insatisfeita com os lances apresentados no leilão, a juíza do trabalho Ana Cláudia Torres Vianna não descartou a hipótese de uma nova hasta pública, caso os três interessados no Brinco de Ouro não aumentem suas propostas. A magistrada garantiu que o estádio não será vendido por valor baixo e, ao analisar a situação atual do Guarani em relação à Justiça, mostrou-se bem pessimista. O fato da dívida do clube crescer mês após mês sem uma solução definitiva torna o caso preocupante. "A situação é gravíssima. Se o Guarani não conseguir a alienação do estádio há caminhos dolorosos, que passam até pelo fim do clube como ele é hoje", revelou a juíza. Para ela, a audiência marcada para o próximo dia 30, envolvendo também a Prefeitura, será importante para definir os rumos da questão. "Foram três propostas finalizadas e optamos por analisar nessa audiência, até com a vinda do Guarani e da Prefeitura. Ainda fiquei em dúvida porque esses valores não cobrem nem o valor integral das dívidas trabalhistas", disse. "Temos que analisar, fazer alguns cálculos financeiros e estudar a melhor condição", completou. À espera de melhores propostas, a juíza disse que existe a chance de que as ofertas apresentadas nesta quarta sejam rejeitadas. "Se nenhuma proposta acolher à necessidade dos credores, vamos buscar outras alternativas. Podemos fazer outro leilão, que já está previsto, ou seguir com outras providências. Não descarto nenhum caminho, só não vou permitir vender o estádio por qualquer proposta", disse.