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Brinco é arrematado em leilão por R$ 105 milhões

A Justiça do Trabalho aceitou a oferta da Maxion Empreendimentos Imobiliários, empresa de Porto Alegre

Carlos Rodrigues
carlos.rodrigues@rac.com.br
30/03/2015 às 16:01.
Atualizado em 23/04/2022 às 18:37

Justamente na semana em que completa 104 anos de história — o aniversário é na próxima quinta-feira (2) —, o Guarani recebeu um duro golpe que pode significar a perda de seu principal patrimônio. Em audiência realizada na tarde desta segunda-feira (30), no Fórum Trabalhista, a Justiça do Trabalho aceitou um lance de R$ 105 milhões da Maxion Empreendimentos Imobiliários no leilão do Estádio Brinco de Ouro. O clube pretende entrar com ações para evitar que isso aconteça e a história ainda deve se desenrolar por algum tempo. Mas caso a arrematação seja consolidada, a empresa, com sede no Rio Grande do Sul, já deixou claro que tomará posse da área e que o Bugre não jogará mais na casa que lhe pertence desde 1953.   A audiência que tinha como objetivo primário discutir as propostas feitas no leilão do dia 18 tomou outro caminho em função da inesperada presença do grupo gaúcho. A juíza do trabalho Ana Cláudia Torres Vianna recusou as ofertas feitas anteriormente pelo polo de empresas de Jaboticabal, a MMG Consultoria e Assessoria e pelo Lances Negócios Imobiliários — o empresário Roberto Graziano, presidente da Magnum e que arrematou o Brinco em leilão anulado na Justiça Federal, esteve na audiência, mas não se manifestou. Depois de ouvir o lance da Maxion, a magistrada homologou a arrematação, mesmo diante das tentativas frustradas dos dirigentes bugrinos em adiar a decisão.   Representante da empresa que arrematou a área, o advogado Dárcio Vieira Marques garantiu que a empresa tem planos para o estádio e que, por isso, depois que todos os trâmites forem julgados e o leilão consumado, o Guarani não poderá continuar jogando no Brinco, nem receberá qualquer ajuda financeira da empresa. "Não dá (para o Guarani continuar atuando no estádio) porque aí a gente não poderia desenvolver o projeto que temos", afirma. "Não sei se o Brinco de Ouro desapareceria, a gente pode preservar isso e encontrar algum modo de encaixar isso num projeto multiuso."   Mesmo com a recusa da Prefeitura em liberar as duas matrículas que doou ao clube, a empresa pretende tocar o projeto com aquilo que terá à disposição. "Vamos procurar usar aquilo como espaço esportivo. Imaginamos nos enquadrar, porque não queremos conflito com a Prefeitura", explica Marques. "A gente ainda não conhece o Plano Diretor, teremos que ir à Prefeitura para discutir, mas não compramos para especular ou revender, e sim para implantar um projeto. Temos uma história de teatros, no esporte também. Infelizmente, lamentamos pelo Guarani, mas certamente o clube vai se reerguer das cinzas."   Foto: Dominique Torquato/AAN O presidente do clube, Horley Senna, durante a tensa audiência desta segunda-feira (30)   ABATIMENTO   O presidente do Guarani, Horley Senna, vem afirmando há muito tempo que o clube entraria com embargos se o arremate do Brinco de Ouro fosse feito por uma quantia que não fosse capaz de contemplar as necessidades mínimas do clube, mas o surgimento da Maxion Empreendimentos Imobiliários no leilão pegou o dirigente de surpresa. Visivelmente abatido após a decisão da Justiça de aceitar a oferta da empresa, o mandatário bugrino reafirmou que o alviverde não vai desistir do estádio e que o grupo gaúcho está comprando uma briga grande.   Segundo Senna, o clube entrará imediatamente com um embargo à arrematação. "Como eu havia dito desde a medida anterior, vamos embargar. Vamos trabalhar nesse sentido, pois o Guarani não vai ceder. É hora de assimilar essa decisão e tomar os caminhos pertinentes, que são os embargos", afirmou.   O presidente também deu um recado ao grupo que arrematou a área. "Posso dizer ao torcedor bugrino que não vamos desistir. Pelo que me consta é um grupo forte, mas que vem do Sul, não conhece nada do Guarani, ou da cidade. Eles não imaginam o tamanho do problema que eles estão arrumando. Vamos buscar o que for possível para evitar essa arrematação."   O dirigente bugrino pretende adiar a definição o quanto for possível, diferente do período de um ano estipulado pela juíza. "A própria Justiça disse que sai em menos tempo, mas eu não acredito. Tem embargos, questão de agravos futuros. Vamos usar todos os remédios processuais cabíveis para que o Guarani não saia prejudicado e sem seu patrimônio."   Foto: Dominique Torquato/AAN A juíza Ana Cláudia Torres Vianna: "O Guarani vai arrumar um caminho"   DÉBITOS TRABALHISTAS   Responsável por determinar o leilão do Brinco de Ouro e aceitar o lance oferecido pela Maxion Empreendimentos Imobiliários, a juíza do trabalho Ana Cláudia Torres Vianna garantiu que o valor de R$ 105 milhões pago pela empresa será suficiente para quitar todos os débitos do clube na esfera trabalhista. A magistrada, que buscava uma definição que pudesse satisfazer os credores, acredita que foi o melhor caminho a ser percorrido.   "Significa o fim de uma etapa e a esperança dos trabalhadores se verem satisfeitos. Esperamos que o Guarani consiga encontrar um caminho para seguir adiante, com as dívidas todas resolvidas", disse. "O valor cobre tranquilamente os débitos da Justiça do Trabalho. As execuções estão em torno de R$ 60 milhões, então é uma reserva suficiente."   Para a Drª Ana Cláudia, o Bugre poderia ter sofrido menos se tivesse tentado dar um fim ao problema antes. "O Guarani sempre teve a porta da Justiça aberta para reduzir e sobrar mais recursos para outras áreas. Com a cabeça no lugar, o Guarani vai arrumar um caminho. O próprio grupo tem interesse em resolver a situação de um jeito menos traumático."   Sobre o valor do lance final, menor do que o mínimo de R$ 126 milhões, a juíza lembrou que os obstáculos impostos pela Prefeitura impediram que o arremate fosse por um preço mais elevado. "Acredito que todas as cautelas foram tomadas com relação ao preço. A própria manifestação do município deixou bastante clara a dificuldade de conseguir aprovação do empreendimento."   Foto: Dominique Torquato/AAN Dárcio Vieira Marques, advogado da empresa que arrematou a área   ÁREAS PÚBLICAS   A Maxion arrematou o Brinco de Ouro, mas já sabe que terá dificuldades para tomar posse de toda a área do estádio. Assim como o Guarani se apoia em embargos para anular o leilão, a Prefeitura de Campinas não abre mão de receber de volta as duas matrículas que doou ao clube. Presente à audiência, o secretário de assuntos jurídicos Mário Orlando de Carvalho garantiu que o Poder Público não tem interesse de "negociar" a área do bosque e do ginásio.   Para a empresa, no entanto, esse não é um grande problema. Disposto a não entrar em atrito com o Poder Público, o grupo já imagina seu projeto sem as duas áreas que devem ser devolvidas ao município. Nos documentos que oficializaram as doações na década de 70 há cláusulas de reversão, que determinam a devolução imediata para o Município caso os espaços mudem de mãos ou de finalidade.   "A Prefeitura vai cumprir todas as suas obrigações morais e de lei para que a cláusula vinculadora seja respeitada e os bens devolvidos à municipalidade. Não é questão de opinião, é uma questão fixa naquilo que é o nosso dever de zelar pelos bens públicos de Campinas", disse o secretário. "Se a empresa adquiriu e quer empreender, é um direito que tem, mas deve adequar-se às questões urbanísticas", completou.   O secretário garantiu que o desejo é que o Guarani não seja prejudicado. "Há interesse que o Guarani sobreviva, supere essa crise e continue nos blindando com sua glória e seu brilho. Desejo que preserve sua existência e siga adiante."      

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