Medicamento é importado; em 2012, laboratório anunciou que não irá mais comercializá-lo
Sílvia Brandalise, do Centro Boldrini, mostra remédio (Leandro Ferreira/AAN)
O Brasil pretende produzir a L-asparaginase – remédio indispensável no tratamento do câncer infantil e que é importado. Em dezembro de 2012, a empresa Bagó, única que tem permissão para revendê-lo no País, anunciou que suspendeu a venda e que seu estoque só daria para mais seis meses (até junho de 2013). A suspensão foi considerada uma tragédia anunciada pelo Centro Infantil Boldrini (hospital filantrópico de Campinas especializado em oncologia e hematologia pediátrica, e referência no setor) porque sem o remédio metade dos doentes morreria.
O Ministério da Saúde está articulando uma parceria com laboratórios estrangeiros para adquirir o know-how e poder produzir o medicamento por aqui. Segundo a assessoria de imprensa do Ministério, cinco laboratórios públicos e três privados manifestaram interesse. A definição será divulgada na Reunião do Grupo Executivo do Complexo Industrial da Saúde (Gecis), em abril.
Entretanto, enquanto a solução definitiva não é efetivada, o ministério fez um pedido de compra de 52.300 frascos do remédio, que devem chegar ao Brasil até o final de junho – mês em que termina o estoque da Bagó.
Ainda segundo o ministério, a quantia comprada é suficiente para suprir a demanda nacional durante um ano e garantir um estoque estratégico de 20%. O cálculo foi feito levando-se em conta a demanda de todos os hospitais que, em 2012, apresentaram procedimentos de quimioterapia de linfoma linfoblástico ou de leucemia linfoblástica aguda, de crianças, adolescentes e adultos.
As decisões, tanto sobre a produção, quanto para a compra emergencial, foram divulgadas pelo governo depois que, em março, o Ministério Público Federal em São Paulo questionou o motivo dos pacientes estarem correndo risco do desabastecimento.
A L-asparaginase
O remédio revolucionou o tratamento do câncer infantil. Em 1983, antes de ser usado, a chance de cura de um paciente com leucemia linfóide aguda (LLA) era de 50%. Com o uso, aumentou para 80%.
No Brasil, 2.500 novos casos são diagnosticados por ano, e sem a L-Asparaginase (cujo nome comercial é Elspar), 1.250 iriam morrer, explicou Brandalise.
Entenda o caso
Na última semana de dezembro, o laboratório carioca Bagó do Brasil S.A., o único que comercializa a droga no País, informou que suspendeu a venda do produto “por motivos técnicos”. Ao Correio, disse que o motivo para a suspensão é que a qualidade do remédio não é mais a mesma.
Segundo a coordenadora de garantia de qualidade do Bagó, Camila Cruz, a fabricante americana Lunddback mudou os locais de fabricação e não garantiu a qualidade.
A diretora do Boldrini, entretanto, questionou a informação. “É mentira. A eficácia continua a mesma.”
A médica considera que a razão é econômica. “Uma coisa é evidente: o comerciante visa lucro. E câncer infantil não vai dar lucro para ninguém, porque é uma doença rara (98% dos cânceres acometem adultos e só 2%, as crianças).”