A chef Carla Pernambuco encara múltiplas atividades sem perder o foco do que considera importante na gastronomia, ou seja, uma alimentação saudável, nutritiva, balanceada, prazerosa e, preferencialmente, simples e rápida
Na terceira temporada do Brasil no Prato, que acaba de estrear em novo formato no Bem Simples, canal do grupo Fox, Carla Pernambuco propõe a telespectadores e convidados um tour gastronômico por culturas que compõem o caldeirão da capital paulista, tão miscigenada e diversa quanto ela: atriz, apresentadora, jornalista, escritora, blogueira, consultora, cozinheira, esposa, mãe, restauratrice, empresária... Em cada episódio, nota-se o quanto houve de influência das cozinhas judaica, chinesa, portuguesa, italiana e das de tantos povos a contribuir para a constituição daquilo que denominamos a “nossa cozinha”. “A culinária brasileira é global, mundial e planetária, assim como é o Brasil. Culinária é cultura e, dessa forma, vai se transformando, clareando, definindo uma identidade. Da mesma forma que acontece com os outros elementos que compõem o que podemos chamar de cultura brasileira”, pondera, ao vislumbrar o futuro.A estreita relação de Carla com os ingredientes pátrios torna-se nítida tanto nos episódios do programa de TV quanto nos restaurantes que comanda: Carlota (que completou 17 anos), Las Chicas Gourmet Garage (delicatessen) e Studio 768 (sede de eventos, projetos e consultorias). Não cabe, porém, em nenhuma das circunstâncias da lida dessa cozinheira, a ode às “firulas supérfluas”, que mais servem de adorno. Pompa e circunstância excessivas tornam qualquer menu bacana uma chatice, convenhamos.Defensora da excelência (ela é ultraexigente e perfeccionista confessa), Carla preza pelo respeito ao produto e pelas histórias do terroir. Pondera que os chefs têm se valido das contextualizações da comida típica e ancestral por meio de uma constante releitura e adaptação às novas tecnologias, aos novos produtos e aos padrões de exigência dos comensais. E considera dois pontos ainda mais basais sobre a gastronomia: “Ela pauta uma das relações entre a necessidade e o prazer, ligadas e decorrentes. Alimentar-se está no quadro de atendimento às necessidades fisiológicas. Por outro lado, podemos abordar a gastronomia como uma expressão cultural e, dessa forma, ela atende a um padrão de necessidades contextualizadas. Nosso modus operandi estabelece padrões de relacionamento com o tempo, com a facilidade ou dificuldade com que acessamos os recursos necessários para vivermos”, conjectura. E, se há uma tendência à qual a apresentadora se curva, é a de “uma alimentação saudável, nutritiva, balanceada, saborosa e preferencialmente simples e rápida.” Entre receitas e históriasAté aqui, Carla Pernambuco lançou oito livros, boa parte deles repletos de receitas e opiniões tarimbadas de chefs parceiros e amigos unidos pelo mesmo afã gastronômico.As Doceiras, de 2007, feito em parceria com a sócia do restaurante Las Chicas Gourmet Garage, Carolina Brandão, acaba de ser relançado em edição bilíngue (português/inglês) e versão digital (e-book). Em Las Chicas, lançado no ano passado, quinto em parceria com Carolina, Carla defende um novo conceito de restaurante para São Paulo – materializado no Las Chicas Gourmet Garage, onde se pode “comer algo simples e saudável a qualquer hora do dia”. Em As Deliciosas Férias de Beatriz, publicado também no ano passado, o relato das viagens da pequena protagonista pela região Sul do País e, de bandeja, 16 receitas de pratos regionais. Isso só para citar alguns exemplos.Curioso é que a história da própria chef, que certamente renderia uma biografia e tanto, ainda não foi formatada – e ela nem pensa nisso. “Meus livros são registros de meus feitos profissionais, sejam empreendimentos, pesquisas, viagens ou meras reflexões. Tenho algumas obras sendo lançadas em novas edições e alguns projetos inéditos em andamento e, por mais que não sejam estruturados de forma biográfica, acabam sempre apresentando alguns capítulos da minha vida”, situa ela, que sempre assina seus trabalhos com o bordão “pé na cozinha, fé na cumbuca e mão na massa”, bela tradução para o jeito Carlota — empreendedor — de lidar com os desafios.RumosNascida em Porto Alegre, Carla se enveredou pelas artes cênicas e pela comunicação antes de partir rumo à Big Apple, junto do marido e fotógrafo Fernando Pernambuco, numa época de boom da cozinha de fusão. E lá foi ela estudar gastronomia. Mas é claro que havia algo latente, bem antes desse tilintar. “Minha relação com uma culinária elaborada e cuidadosa fez parte da minha cultura familiar. A gastronomia não me fisgou em Nova York. Apenas apareceu como uma excelente oportunidade de negócio. Lugar certo, momento certo e desejo alinhado”, decreta.E completa. “Da mesma forma se deu toda e qualquer expansão de minhas atividades gastronômicas profissionais, sejam eventos, consultorias, livros, programas de rádio e TV, meu estúdio e meus restaurantes.” O primeiro deles foi o Carlota, aberto no bairro de Higienópolis, em São Paulo, há 17 anos. Segundo Carla, a Las Chicas Gourmet Garage, por mais recente que possa parecer, é um projeto antigo também formatado e concebido em Nova york. “Ele aconteceu no momento em que São Paulo tinha condições de recebê-lo, em 2011. E o Studio Carla Pernambuco (768), de recente, também tem apenas o nome, pois ele é e sempre foi, além de um espaço cult para eventos, centro de pesquisas, espaço didático, central de criação e experimentações”, define assim a chef a sua “central de operações”. Empreendedora inata, vale lembrar que Carla destilou a versão conselheira (onde aparecia com estampa bem mais sisuda do que a de Brasil no Prato) na oitava temporada do programa O Aprendiz, da Rede Record, apresentado por João Dória Jr. DropsNa terceira temporada do Brasil no Prato (Fox), convidados se ladeiam na cozinha de Carla Pernambuco. Chefs como Leila Kucinsky, Regina Hwang, Nina Paiano, Shim Koike, Wagner Resende, Dalton Rangel e Carlos Bertolazzi dividem com a apresentadora a missão de botar no prato pitadas saborosas dos tantos sotaques da capital paulista.