HENRIQUE NUNES

Bom senso é ser o que realmente é

Henrique Nunes
henrique.nunes@rac.com.br
12/02/2014 às 22:59.
Atualizado em 26/04/2022 às 22:33

Paulo André não teve bom senso. De que adiantou anos de Neruda, Borges, Dostoiévski, de quem, aliás, furtara a frase: “A verdadeira verdade é sempre inverossímil”. Paulo André pintou e bordou nos últimos anos, literalmente inclusive, mas deixou o ofício de lado quando a “causa” se tornou maior que a mais cruel e indigesta verdade escondida nos campos de futebol.Paulo André não teve bom senso ao levantar bandeiras, despertar certo interesse (ainda que ingênuo como um reles cruzar de braços antes do início de cada partida) e partir rumo ao país cujo crescimento ainda padece de humanismo e constituinte. A causa chinesa de Paulo André é, no fundo, um tiro no próprio pé, um gol contra em final de campeonato, um tapa no tatame da briga que começou e agora sai de fininho quase sem ser notado.Ao torcedor corintiano, pouca ou quase nenhuma saudade ficará do elegante e letrado boleiro. E chego a acreditar nos corneteiros que pediam para que ele lesse menos e treinasse mais. Ou as falhas que cometeu desde a segunda metade de 2013 seriam perdoadas com um Drummond citado ao pé do ouvido do atacante? A arte da bola, todos sabemos, está associada ao improviso e está muito mais para o rap, o repente, a moda de viola do que a música clássica que tocava no carro importado do jogador.Com exceção de Tostão, Sócrates e mais um punhado de boleiros bons de prosa, uma equipe vencedora pode muito bem se formar por 11 analfabetos dedicados e vorazes, que respondem com dedicação e disciplina (ou até a falta dela) ao que a escola nunca pôde ensiná-los.Paulo André não teve bom-senso quando esqueceu de ser um boleiro nato, contrário à imagem de intelectual que tentava pintar fora dos gramados. É claro que a crise no Corinthians e até mesmo os erros de posicionamento na defesa não são culpa de Neruda, Borges, Dostoiévski. Mas eles não poderiam nunca se sobrepor ao que faz (e ganham muito bem para isso) o jogador de futebol.Se estivesse em grande fase, ninguém se importaria se Paulo André sabe dois ou mais idiomas, se conhece arte contemporânea e se tem ou não algum livro publicado. Mas como não andava lá muito bem das pernas, fica difícil acreditar que a cultura clássica, ortodoxa e tão cara a este que vos escreve, serve de alguma coisa nesta vida.Sócrates, famoso por conversar com todos com propriedade intelectual acima da média, nunca se gabou por ter se formado em medicina. Mas teve o bom senso de saber e admitir que foi com os pés que se eternizaria em nossos corações.

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