CARLO CARCANI

Bola, dinheiro, choro e saudade

Carlo Carcani
18/04/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 16:18
ig-carlo-carcani (AAn)

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O mundo do futebol é muito particular por misturar a paixão intensa e inexplicável do torcedor por seu time e a relação estritamente comercial de atletas e treinadores com a mesma agremiação.  A paixão é quase cega de um lado (não preciso explicar o que você, leitor, sente por seu clube) e do outro o que pesa é o interesse profissional. Recentemente, o técnico do Flamengo, Vanderlei Luxemburgo, expôs de forma clara seu enorme interesse de negociar com o São Paulo, que está à procura de um substituto para Muricy. Notem que estamos a poucos dias do início do Campeonato Brasileiro, a semifinal do Carioca está em andamento e mesmo assim Luxemburgo se sente à vontade para lembrar que seu contrato permite uma conversa com outro clube, que na Europa é assim e etc, etc, etc. Futebol é assim mesmo. É um milionário negócio que permite que o treinador que ocupa um dos cargos mais desejados do País assuma seu interesse de negociar com outro clube mesmo durante um período no qual deveria estar focado na luta por um título e na preparação para a competição mais difícil e importante que terá na temporada. Pode não ser uma postura admirável, mas faz parte do jogo. Algumas figuras desse mundo, porém, ainda preservam um pouco do romantismo de um futebol que não existe mais. Na quarta-feira, Jurgen Klopp anunciou que vai deixar o Borussia Dortmund ao final da temporada. Foram quase sete anos à frente de um clube que tem uma torcida presente, apaixonada e barulhenta. Foram quase sete anos num clube que — mesmo sem o orçamento dos gigantes europeus — nesse período foi bicampeão alemão, ganhou uma Copa da Alemanha, três Supercopas da Alemanha e chegou à final da Liga dos Campeões de 2012/13. Na entrevista coletiva, o chefe executivo do Borussia chorou ao dar a notícia. E disse que o clube terá “eterna gratidão” ao treinador. Jurgen Klopp também chorou. Disse que ainda não conversou com nenhum clube, mas é certo que será procurado pelos mais importantes da Europa. Mais importante do que o destino de Klopp é o seu papel no futebol. É um treinador que criou forte identidade com seu clube, que dá entrevistas sinceras, divertidas e polêmicas e que depois de fazer sucesso não aproveitou a onda para sair logo em busca de um salário muito maior. Futebol é um negócio, mas é sempre bom ver um profissional que chore e se emocione. Klopp é competente, mas também se envolve com seu clube, com sua torcida. O esporte precisa de mais profissionais como ele.

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