JOAQUIM EGÍDIO

Bicicletas viram alvo de quadrilhas organizadas

Nas últimas três semanas mais de 20 roubadas e ciclistas feitos reféns por bandidos que chegam em bandos, fortemente armados, e deixam as vítimas em cativeiro, no meio de pastos, durante horas

Gustavo Abdel
07/06/2015 às 05:00.
Atualizado em 23/04/2022 às 11:27
Ciclistas cobraram o prefeito Jonas Donizette, no Parque Ecológico: reunião ficou marcada para esta semana (Janaina Ribeiro/ AAN)

Ciclistas cobraram o prefeito Jonas Donizette, no Parque Ecológico: reunião ficou marcada para esta semana (Janaina Ribeiro/ AAN)

O lazer, bem-estar e o cenário bucólico deram lugar ao medo nas tradicionais trilhas de ciclistas do distrito de Joaquim Egídio, em Campinas. Somente nas últimas três semanas foram mais de 20 bicicletas roubadas e ciclistas feitos reféns por bandidos que chegam em bandos, fortemente armados, e deixam as vítimas em cativeiro, no meio de pastos, durante horas sob a mira de armas. Cansados da falta de segurança e do crescente número de casos, diversos grupos de ciclistas fazem hoje um protesto no início da trilha da Bocaina pedindo mais reforço no policiamento e uma medida para mapear cada trilha, o que facilitaria o trabalho das autoridades.Na última quinta-feira (3), um policial militar de folga baleou um ladrão após troca de tiros, quando ele e um comparsa roubaram sua bicicleta e de um amigo, na trilha da Bocaina, por volta das 18h50, em frente ao restaurante Feijão com Tranqueira. Um dos bandidos foi baleado e posteriormente deu entrada no Hospital de Clínicas da Unicamp. O outro bandido fugiu e as bicicletas não foram localizadas.No mesmo dia, por volta das 15h, três amigos ciclistas retornavam de uma pedalada a Monte Alegre, a partir de Joaquim Egídio (trilha da Usina) e quando chegavam perto da ponte do Rio Jaguari foram abordados por três rapazes, que desceram de um veículo Fiat Uno e anunciaram o assalto. Agressivos, empurraram os amigos para dentro do pasto, onde ficaram cerca de quatro horas com os três rapazes apontando armas para suas cabeças. “Eles levaram as bicicletas, e depois que estavam escondidas, o veículo voltou e pegou os bandidos. A gente teve que andar no escuro até um restaurante, quando pedimos ajuda”, disse o publicitário Zwi Mojzeszowicz, de 63 anos. O prejuízo total do trio chegou a quase R$ 30 mil, em bicicletas, diversos acessórios e celulares.Pelas características do roubo e descrição dos bandidos, a polícia investiga se o bando que assaltou o trio à tarde é o mesmo que investiu contra o policial e o colega, horas mais tarde, na trilha da Bocaina. Pela tatuagem no tornozelo de um dos bandidos e a fisionomia de um outro, os ciclistas acreditam ser o mesmo bando nas duas ações.No domingo passado, 31 de maio, três ciclistas também foram roubados em ação semelhante, e ficaram deitados no pasto, à noite, por cerca de duas horas. De acordo com informações passadas por grupos de ciclistas, os bandidos escolhem as bicicletas que irão roubar. “Tem bicicletas que variam de R$ 3 mil a até R$ 42 mil, mas a média hoje que vemos nas trilhas é de bikes valendo R$ 10 mil”, disse a ciclista e administradora Rosana Castilho, de 43 anos. A ação mais ousada da quadrilha ocorreu no dia 24 de maio, quando três carros fecharam a trilha das Três Pontes — sentido cidade de Pedreira — e cerca de dez homens fortemente armados abordaram 40 ciclistas que seguiam à tarde pelo trajeto. Os bandidos levaram dez bicicletas, e até agora ninguém foi capturado. As bikes não foram encontradas.Joaquim Egídio possui mais de 15 trilhas usadas por ciclistas, muitas delas com nomes inventados ou apelidados de maneiras diferentes por cada grupo. Não há identificações para as demais, e os grupos de ciclistas e cicloativistas querem que as autoridades e governo municipal elaborem um mapeamento conjunto com os frequentadores do local. Além disso, cobram a volta da patrulha de bike da Guarda Municipal, que segundo eles não mais é realizada.Grupo tradicional evita distrito O grupo Panga Bikers, liderado pelo ciclista André Godoy, conhecido entre os que pedalam em Campinas, já não faz as trilhas de Joaquim Egídio há um ano. A crescente onda de violência obrigou o grupo a inovar em outras rotas pela cidade. “Essa é uma situação que acaba afetando a todos, mesmo aqueles que não participam de grupo e vão pedalar por lazer”, acredita Godoy. Segundo ele, muitos ciclistas não fazem boletim de ocorrência, e o número de casos deve ser ainda maior nos últimos meses. “Falta uma política de segurança, não é só colocar uma viatura parada na entrada da trilha. É preciso ter mapeamento das trilhas e um patrulhamento efetivo”, acredita. Já o publicitário Zwi Mojzeszowicz, assaltado na quinta-feira, tem a certeza de que a quadrilha que está atuando naquela região é especializada, e movimenta vendas de bicicletas pela internet. “Esse é um fato novo, pois até então a gente estava na trilha e uma Kombi passava e roubava a bike, mas esporadicamente. Agora tem uma quadrilha que mantém cativeiro, e se transformou em um mercado próspero para os bandidos”, pontuou. Protesto Um grupo de cicloativistas fez um protesto na manhã de ontem cobrando mais segurança para os ciclistas e a implementação do projeto que prevê a construção de 100 quilômetros de ciclovias em Campinas, durante a inauguração das duas pistas de mountain bike no Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim. Os ciclistas levaram faixas, distribuíram folhetos e fizeram as cobranças diretamente para o Prefeito Jonas Donizette (PSB) e para os secretários de Esportes, Dário Saadi, e de Relações Institucionais, Wanderley Almeida (Wandão). Eles cobram a continuação de rondas da Guarda Municipal com bicicletas nas trilhas dos distritos de Joaquim Egídio e de Sousas, o mapeamento dessas rotas para facilitar o trabalho da Polícia Militar e da Guarda, além de segurança para a pista de mountain bike inaugurada ontem no Ecológico. Na próxima quarta-feira (10), às 10h, será realizada uma reunião com o Secretário de Segurança de Campinas, Luiz Augusto Baggio. Saadi afirmou que participaria da reunião e Wanderley Almeida se comprometeu a solicitar a participação do comando da PM. “A guarda colabora, mas não é capaz de resolver tudo sozinha”, disse. Em relação às ciclovias, Jonas afirmou que lançou em abril o plano cicloviário e que até 2016 tem como meta atingir os 100 quilômetros. 

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