No começo da noite de quinta-feira, a repórter Camila Bonfim, da TV Globo, entrou de Brasília e anunciou, em meio às manifestas ações de repúdio aos podres poderes, que a presidenta cancelara a viagem de uma semana ao Japão, à nossa custa, “porque ela não quer ficar longe do Brasil neste momento.”. Mas não é o contrário?Tão nociva quanto a presença de vândalos é a de políticos, sujando as passeatas, para se aproveitar da presença da mídia, que trabalha para expandir o alcance das reivindicações – justíssimas – e não para dar vez e voz aos culpados de sempre pelo descalabro.Não sei se nasceu aqui em Ribeirão Preto, se veio dos organizadores de todos os cantos, mas uma faixa me chamou a atenção pela forma definitiva com que expressa os anseios de todos: “Por um Brasil que nunca existiu”. Pode parar e recapitular: tudo de ruim ou inútil que aconteceu e acontece no nosso País, desde de Cabral, tem a mão grande de políticos. Se essa meninada promete repudiar sempre esse tipo de seres em suas reivindicações, o caminho para a dignidade estará aberto.Basta ter cuidado com a infestação. Político pega!O Brasil que nunca existiu, com que sonham, não precisa ser uma ‘Suíça’, mas pode ser sem ‘Biafras’. Essa comparação, que fixa bem nossa situação, foi feita pela primeira vez pelo então prefeito de São Paulo Olavo Setubal, lá por 1975. Escolhi um dia particularmente infernal para conversar com ele sobre o pessimismo dos governantes, após a agenda esgotada. Só ouvi lamentos – ele era um homem sincero – de alguém que todos julgavam poderoso, por ser grande banqueiro – mas não podia nada por ser prefeito imposto na ditadura, ainda que da maior cidade da América Latina. Ele disse: “Até para mexer na tarifa dos ônibus ou na bandeirada dos táxis, preciso pedir licença em Brasília, para pessoas que nunca viajaram num Penha-Lapa lotado. E num ministério que cuida desde índio até caderneta de poupança e casas do BNH. Quando termina o dia, vejo que não fiz nem 1% do que pretendia, porque nada depende de quem vive esta cidade.”. E soluçou: “Por isso, ela é assim, cada vez mais Biafras a cercar cada vez menos Suíças.”.Foi numa cidade da Suíça que a jornalista Cecília Thompson Guarnieri caminhava pelas ruas, quando uma manifestação perdeu o controle e alguém – sem querer – esbarrou na ilustre senhora Maria Luiza Paulina Albrecht Riether Thompson e a derrubou. Policiais e uma equipe de paramédicos, que acompanhavam tudo, a levaram para um hospital. Nada, além de um arranhão no braço. Seguiram em carro oficial para o hotel, onde um senhor do corpo diplomático suíço as esperava com edelvaisses e um pedido formal de desculpas. Toda a estada naquele país foi paga pelo governo, enquanto durou o passeio.O Brasil não precisa ser assim, mas não precisa nem merece ter os governantes que tem, que prometem no palanque, descumprem no cargo, mas não somem de nossas vidas.Pregado no poste: “Político mata a esperança só para ser o último que morre”