Talento: formada em artes visuais, artista de 31 anos tem o feminino muito presente em suas obras e já retratou deusas, feiticeiras e madonas
mulheres (Divulgação)
A artista multimídia Juliana Helcer, de 31 anos, se aventura em várias áreas de criação. Um dos focos do seu trabalho é a mulher contemporânea, tema expresso em técnicas variadas, como pintura a óleo, acrílica, aquarela, nanquim e fotografia. Seus pratos com frases são muito apreciados. Ela começou a trabalhar nesses objetos como se eles fossem um diário. Texto e imagem compõem um estilo irreverente, com citações poéticas e tocantes. “Sou muito feminina, muito vaidosa, mas tenho dentro de mim uma guerreira muito justa, muito maternal, que clama por direitos e igualdades. Talvez seja por aí o tema do feminino tão presente nas minhas obras, e que acredito ser inerente a todas nós”, diz. Existem algumas obras literárias, filmes e músicas que despertam nessa guerreira interna o grito pela liberdade. “Não importa em qual segmento seja. A liberdade é a alavanca para a felicidade; sem ela, literalmente, não existimos. Infelizmente, ao longo dos séculos, a mulher foi representada por um arquétipo de submissão em todas as linguagens artísticas, políticas e sociais. E, claramente, estamos atravessando um momento saudável de transição, em que estamos saindo da sombra para a luz”, analisa Juliana. A diversidade das representações femininas fascina e inspira o trabalho da artista. Escravas, deusas, madonas e feiticeiras aparecem em suas obras. “Deixo claro que não sou partidária em gêneros. Sou apreciadora do equilíbrio entre dualidades como força e delicadeza, presente inclusive em muitos homens. E ausente, inclusive, em muitas mulheres que eu conheço. O mundo precisa da energia feminina para equalizar o homem como um ser integral e assim, quem sabe, poderemos transcender como espécie”, completa. "Sou muito feminina, muito vaidosa, mas tenho dentro de mim uma guerreira muito justa, muito maternal, que clama por direitos e igualdades". Juliana Helcer Natural de São Paulo, Ju mora no Rio de Janeiro e muitos fãs de Campinas acessam seu trabalho pelas redes sociais. Ela vive buscando novas formas de se expressar e também faz interferências, que vão de pinceladas de aquarela até manipulação digital em porcelanas antigas e fotografias. A artista teve trabalhos expostos em Nova York, no ano passado, num evento que juntou jovens artistas de várias partes do mundo. Na área de moda, faz ensaios fotográficos para as marcas Guto Carvalho Neto e Bruna Pegurier. Engajada Formada em artes visuais, além da pintura e da fotografia, Ju Helcer também faz toy art , que começou a criar aos 13 anos. Hoje transformou esse talento no Toy Manifesto, que une arte e engajamento social. Cada peça é inspirada em uma história, um movimento, uma causa ou um direito. Já fez trabalhos com venda revertida para o Nepal, depois do terremoto, outro para uma escola da tribo Kamaiurá, na Amazônia, e o último para as vítimas de Mariana. Juliana ainda faz toys retratos, que podem ser conferidos no instagram @toymanifesto ou no site www.toymanifesto.com. Igualdade de direitos Sim, tudo começa pela educação, e neste Dia da Mulher vale lembrar da brasileira que fez de tudo para que as meninas aprendessem mais do que bordados em salas de aula. Pioneira na luta pela alfabetização das garotas, Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810 -1875), pseudônimo da nordestina Dionísia Gonçalves Pinto, fundou uma escola inovadora no Rio de Janeiro, marco na história da educação feminina no Brasil. Também foi uma das primeiras mulheres a publicar artigos em jornais de grande circulação. "Por que [os homens] se interessam em nos separar das ciências a que temos tanto direito como eles, senão pelo temor de que partilhemos com eles ou mesmo os excedamos na administração dos cargos públicos, que quase sempre tão vergonhosamente desempenham?" Nísia Floresta Nísia Floresta considerava que a educação era o primeiro passo para a emancipação da mulher. Traduziu e publicou Direitos das Mulheres e Injustiças dos Homens, manifesto feminista de Mary Wollstonecraft. Militante pelos direitos das mulheres, não limitou suas ações a esse tema. Em livros e artigos publicados na imprensa entre 1840 e 1850, inseriu a questão da escravidão e, ao longo da vida, abraçou a causa indigenista. A escola Colégio Augusto, fundada no Rio por Nísia em 1838, era só para meninas. Enquanto a maioria das instituições enfatizava a “educação da agulha” ou a “educação de sala”, dando destaque para as aulas de bordado, canto, francês e piano, o Colégio Augusto incluía em seu currículo o ensino de latim, italiano, francês, inglês, geografia, história, aritmética e língua pátria, até então reservados aos garotos. O colégio também se destacou por condenar o uso do espartilho e por incentivar a prática de atividades físicas, contrariando a tendência de manter as jovens inativas e recolhidas. Claro que não faltaram críticas ao trabalho de Nísia. Em 2 de janeiro de 1847, o jornal O Mercantil publicou um artigo que dizia: “Trabalhos de língua não faltaram; os de agulha ficaram no escuro. Os maridos precisam de mulheres que trabalhem mais e falem menos”. Ensino No Brasil, as mulheres puderam se matricular em estabelecimentos de ensino somente em 1827. O direito a cursar uma faculdade só foi adquirido 52 anos depois. Apenas em 1887 o País formaria sua primeira médica. As primeiras mulheres que ousaram dar esse passo foram socialmente segregadas. O ensino proposto só admitia meninas na escola de 1o grau, sendo que estudos de grau mais alto eram destinados somente aos meninos. As professoras sempre ganhavam menos, e as que protestavam contra essa situação eram severamente punidas, como foi o caso de Maria da Glória Sacramento, que teve seu salário suspenso por se recusar a ensinar prendas domésticas. Homenagens Em Campinas há uma rua que homenageia Nísia Floresta Brasileira Augusta. Fica no Jardim Miranda. Também há uma escola no Conjunto Habitacional Vida Nova. O pseudônimo escolhido pela escritora e educadora tinha Nísia pelo fato de Dionísia ser seu nome verdadeiro, seguido de Floresta, a fazenda onde nasceu, de Brasileira, por seu patriotismo, e de Augusta, em homenagem a Manuel Augusto de Faria Rocha, o grande amor de sua vida. A LUTA FEMINISTA NO BRASIL Foto: Reprodução Trabalhadoras do Instituto de Resseguros do Brasil, primeira empresa brasileira a ter uma creche para filhos das funcionárias 1907 Uma greve de costureiras por melhores condições de trabalho deflagrou uma série de movimentos em favor da jornada de trabalho de oito horas. 1937 O voto feminino é legalizado. Cinco anos antes, com a autorização da Justiça do Rio Grande do Norte, Celina Guimarães Viana se tornou a primeira eleitora registrada. 1975 É criado o Movimento Feminino pela Anistia, composto principalmente por mulheres que viram maridos e filhos serem torturados e mortos pela ditadura militar. 1985 É criada em São Paulo a primeira Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher e o Ministério da Justiça cria o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. 2000 O Brasil foi um dos 159 países a aderirem à Marcha Mundial das Mulheres, que organizou uma campanha internacional contra a pobreza e violência. O movimento se inspirou numa marcha contra a pobreza ocorrida em junho de 1995, no Canadá, sob o lema Pão e Rosas.